Você provavelmente já se deparou com algum trailer de filme completamente falso nos últimos meses. Seja por recomendação do Google ou até na página inicial do YouTube, uma coisa é fato: são milhares e estão por toda parte. São vídeos que ou pegam trailers de verdade e adicionam cenas que não existem usando IA, ou são inteiramente feitos com inteligência artificial, no caso de obras que nem sequer tiveram alguma divulgação oficial.
Segundo o Deadline, a Google finalmente tomou uma medida contundente contra canais que propagam este tipo de conteúdo no YouTube, ainda que não seja a ideal. A monetização de canais como Screen Culture, Screen Trailers, Royal Trailer e KH Studio foi suspensa, de modo que os donos não podem mais receber lucro com os vídeos.
Supostamente após a penalidade, estes e outros canais similares passaram a colocar nas imagens de capa e título dos vídeos que os materiais se tratam de "conceitos" ou versões imaginadas, quando antes apenas chamavam os trailers de oficiais, trailer completo, último trailer e nomenclaturas similares a divulgações verdadeiras. Não é nem preciso ir muito longe, basta rolar um pouco o feed de qualquer um desses canais para ver a diferença.
De acordo com a reportagem, dois desses canais já haviam sido suspensos em março, mas voltaram. Não são os únicos que fazem os trailers falsos, mas são os maiores, com mais visualizações e números de inscritos — o Screen Culture, por exemplo, tem 1,4 milhão de inscritos. Embora para uns o fato de os vídeos serem falsos seja evidente, para outros não é tão óbvio.

É fácil encontrar comentários de usuários realmente acreditando em alguns dos vídeos, especialmente aqueles que misturam materiais autênticos misturados com trechos gerados por IA. Os materiais deste tipo costumam adicionar cenas que seriam "boas demais" para o público fã, algumas das quais são escolhidas como imagem de capa, para chamar ainda mais atenção e cliques.
Em uma declaração dada do Deadline, o YouTube disse: "nossas decisões de policiamento, incluindo suspensões do programa de parceiros do YouTube, aplicam-se a todos os canais que possam ser de propriedade ou operados pelo criador afetado".
Como bem observado pelo site, as políticas de monetização do YouTube apontam que caso criadores peguem emprestado materiais de terceiros, é necessário alterá-los significativamente para que se tornem próprios. "Vídeos não podem ser duplicados ou repetitivos, muito menos feitos com único objetivo de angariar visualizações".
E tudo isso nem é a parte mais preocupante
Uma outra reportagem do site, publicada em março de 2025, expôs essa indústria de vídeos falsos e trouxe ainda um fato alarmante — em vez de os estúdios de cinema exigirem que tais trailers falsos explorando a imagem de seus talentos fossem retirados do ar, eles exigiram apenas parte da renda obtida com os anúncios.
Ou seja, em vez de prezarem por suas propriedades intelectuais e seus atores contratados sendo deturpados com IAs para um lucro fácil em cima de visualizações, os estúdios na verdade só quiseram uma parcela da grana. Em tempos em que o SAG-AFTRA, sindicato dos atores norte-americanos, tomou ações para garantir a legitimidade do trabalho de atores, para que não tivessem suas imagens e vozes alimentadas para IAs, essa atitude é, no mínimo, questionável.
Inclusive, também ao Deadline, o sindicato disse: “A monetização de usos não autorizados, indesejados e inferiores da propriedade intelectual centrada no ser humano é uma corrida para o fundo do poço. Isso incentiva as empresas de tecnologia e os ganhos de curto prazo às custas do esforço criativo humano duradouro".
Agora que a Google cortou a monetização destes canais, resta saber se continuarão com os vídeos e até mesmo se, após algum tempo, a monetização não voltará. Afinal, há canais que foram suspensos anteriormente e depois puderam voltar. Acima de tudo, é irônico que os próprios algoritmos de recomendação mostrem estes conteúdos aos usuários ao mesmo tempo que a empresa se mostra indignada de que isto acontece. Cada dia que passa estamos mais próximos das distopias que acreditávamos ser apenas ficção.
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