No século XIX, um milionário dos Estados Unidos decidiu, por conta própria, invadir outros países: ele chegou a fundar duas repúblicas e se tornou presidente das duas

  • William Walker fez fortuna conquistando territórios na América Central, onde criava suas próprias repúblicas e impunha as próprias leis.

  • Apesar de suas “aventuras” coloniais serem privadas, ele tinha o aval dos Estados Unidos.

William Walker história. Imagem:  Wikimedia Commons (Mathew Benjamin Brady, Nicaragua-CIA_WFB_Map.p), Pexels (aboodi vesakaran)
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Hoje, os milionários estão focados nas suas próprias corridas espaciais, tentando “salvar a humanidade” de si mesma.

No século XIX, essa vontade de protagonismo era canalizada de outro jeito: invadindo territórios de outros países por conta própria, com exércitos particulares e governando essas terras como se fossem senhores.

Esse foi o caso de William Walker, conhecido por muitos como “o último grande filibusteiro”, um mercenário que, por conta própria, invadiu territórios no México e na Nicarágua.

William Walker: o ditador da América Central

A história de William Walker mistura ambição, sede de poder e o processo de formação da identidade latino-americana. Nascido no Tennessee em 1824, ele era filho de empresários com bastante influência na política local. Chegou a estudar medicina, jornalismo e direito.

Mesmo com toda essa formação, ele deixou tudo de lado para se tornar um filibusteiro, um tipo de mercenário que organizava revoluções por conta própria, sem autorização de nenhum país, com o objetivo de tomar territórios e explorar seus recursos.

Pra entender o contexto dessas invasões feitas de forma independente, é essencial conhecer a ideia que sustentava a Doutrina do Destino Manifesto. Essa doutrina foi um dos pilares que ajudaram a moldar a fundação dos Estados Unidos.

Essa doutrina do século XIX justificava a expansão territorial dos Estados Unidos pela América do Norte, com base na crença de que o país era uma nação “escolhida” e tinha o direito divino de espalhar sua civilização pelo continente.

Essa ideia foi usada para legitimar a anexação de territórios como Texas e Califórnia, além de conflitos como a guerra contra o México e a Espanha. A expansão era vista como algo óbvio e inevitável, refletida na frase “pela autoridade divina ou de Deus”.

Essa ideologia moldou políticas de intervencionismo e expansionismo, tendo como uma de suas expressões mais conhecidas a frase de Thomas Jefferson: “A América tem um hemisfério só pra ela”.

O deserto de Sonora, parte da República de Sonora. O deserto de Sonora, parte da República de Sonora.

Com apenas 29 anos, em 1853, William Walker recrutou 32 mercenários escravistas norte-americanos e partiu rumo à conquista das fronteiras ao sul do país, num estilo bem Hernán Cortés, em busca de poder e riquezas. A incursão teve algum sucesso: eles tomaram as cidades de La Paz e Ensenada, no México, e Walker se autoproclamou presidente da chamada República da Sonora. Logo tratou de implementar uma nova legislação favorável à escravidão, buscando lucrar rapidamente com a conquista.

Mas sua presidência durou pouco. Cinco meses depois, a resistência mexicana e a falta de suprimentos forçaram sua retirada.

Oportunidade em meio ao caos

Mesmo com o fracasso da primeira aventura colonialista, Walker não se deu por vencido. Em vez disso, se aliou ao Partido Democrata da Nicarágua, que na época disputava o controle do país com o Partido Legitimista.

Ele enxergou ali uma chance de se infiltrar, oferecendo apoio militar à burguesia local em troca de benefícios próprios, especialmente econômicos. Com um exército de mercenários conhecido como “Os Imortais”, Walker venceu a batalha em Granada e foi simbolicamente declarado presidente, impondo costumes e políticas norte-americanas.

Assim começou a fase mais agressiva de seu projeto colonialista. Walker passou a governar por decretos, reinstaurou a escravidão, declarou o inglês como idioma oficial, incentivou a imigração de norte-americanos e alterou a constituição e a bandeira do país.

Walker também decretou que todos os bens pertencentes aos “inimigos do Estado” seriam confiscados em nome da República e redistribuídos por uma Junta Especial, que curiosamente sempre favorecia os interesses do próprio Walker e dos Estados Unidos.

É nesse contexto que se encontra, aliás, o embrião do que viria a ser o Canal do Panamá. Por causa da importância estratégica da região, essa conquista logo chamou a atenção dos Estados Unidos, que correram para reconhecer a legitimidade da nova república criada por William Walker.

O interesse dos EUA no controle dessa área tinha a ver com a urgência de estabelecer uma rota comercial interoceânica, conectando o Atlântico ao Pacífico. Foi assim que surgiu a chamada Rota do Trânsito, que ligava os dois oceanos pelo Rio San Juan, no sul do país.

A volta do herói

Pressionado pelos interesses comerciais e pela resistência dos países vizinhos, o governo de Walker foi derrubado, e o milionário teve que retornar ao Tennessee, onde foi recebido como um herói vitorioso.

Mas o exílio não durou muito. Três anos depois, William Walker já estava de volta à ativa e planejava a conquista de Honduras. Essa nova investida golpista, no entanto, durou ainda menos que a anterior. Ele foi capturado por tropas britânicas que atuavam na região e rapidamente entregue às autoridades locais em Trujillo, onde foi julgado e condenado à morte sem demora.

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