Construída sobre uma ilha rochosa na Baía de São Francisco, Alcatraz foi, por décadas, o destino de presos considerados perigosos demais para o sistema penal tradicional.
Inaugurada como prisão federal em 1934, o local operava sob rígido esquema de segurança, com vigilância contínua e isolamento físico quase absoluto. Fechada em 1963 por motivos financeiros e estruturais, Alcatraz acabou transformada em ponto turístico e símbolo controverso da política penal norte-americana.
Agora, mais de 60 anos depois, a prisão voltou ao noticiário após uma declaração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No último domingo (4), ele publicou em sua rede Truth Social:
“RECONSTRUA E ABRA ALCATRAZ!”
Na postagem, Trump afirmou que está instruindo o Departamento Federal de Prisões (BOP) a reabrir o local para abrigar “os criminosos mais cruéis e violentos da América”.
A proposta reacendeu debates sobre o papel de prisões de segurança máxima, os custos desse modelo e os simbolismos políticos envolvidos.
Do forte militar à prisão de segurança máxima
A história da ilha de Alcatraz começa como instalação militar em meados do século XIX. Já servia como espaço de detenção durante a Guerra Civil dos EUA, mas se consolidou como penitenciária federal a partir de 1934. O objetivo era claro: criar uma unidade isolada e com controle rígido, destinada a internos considerados problemáticos ou com histórico de fugas.
A estrutura da prisão — combinada à geografia da ilha e às águas geladas ao redor — tornava extremamente difícil qualquer tentativa de evasão.
Quem esteve preso em Alcatraz
Entre os mais de 1.500 detentos que passaram por lá, alguns nomes ficaram marcados por sua atuação no crime organizado ou por casos que ganharam repercussão nacional:
- Al Capone, preso por evasão fiscal, cumpriu parte da pena em Alcatraz, sob vigilância estrita.
- George “Machine Gun” Kelly, envolvido em sequestros e extorsões, foi mantido sob vigilância constante.
- Robert Stroud, conhecido como “Homem Pássaro de Alcatraz”, passou anos estudando aves em confinamento solitário.
- Frank Morris e os irmãos Anglin, envolvidos na tentativa de fuga mais conhecida da prisão — cujo desfecho até hoje permanece sem confirmação oficial.
Esses casos ajudaram a fixar a imagem pública de Alcatraz como uma prisão de difícil acesso e controle absoluto.
Os motivos do fechamento
Em 1963, o governo federal decidiu encerrar as operações da prisão. O principal motivo foi financeiro: manter uma unidade em uma ilha exigia altos gastos com transporte de suprimentos, energia e manutenção predial. O custo por detento era estimado em quase três vezes maior do que o de outras prisões federais da época.
Além disso, a estrutura apresentava desgaste considerável, exigindo reformas custosas. A decisão foi encerrar as atividades e transferir os detentos para outras unidades prisionais no continente.
Após o fechamento: de prisão a ponto turístico
Nos anos seguintes, Alcatraz passou a ser administrada pelo Serviço Nacional de Parques (NPS) e aberta à visitação. A prisão ganhou destaque em produções culturais, como filmes e documentários, mas também esteve no centro de protestos políticos.
Em 1969, o local foi ocupado por ativistas indígenas durante 19 meses, como parte de um movimento que reivindicava o direito a terras federais desativadas. A ocupação tornou-se um marco na luta pelos direitos dos povos originários nos Estados Unidos.
A proposta de Trump e o contexto atual
A fala recente de Donald Trump trouxe Alcatraz de volta ao debate público. Em um tom nostálgico sobre “tempos mais duros”, o ex-presidente sugeriu que o retorno da prisão serviria para reforçar políticas de segurança mais rígidas.
Especialistas, no entanto, veem a proposta com cautela. A reativação de Alcatraz exigiria uma reestruturação completa, atualizações legais e operacionais — e levantaria novas discussões sobre o custo-benefício de um modelo carcerário centrado no isolamento extremo.
A proposta também ocorre em um momento de polarização política nos EUA, em que questões como encarceramento em massa, seletividade penal e justiça racial estão no centro de debates sobre reformas no sistema.
Alcatraz permanece fechada — por enquanto
Logo após a declaração de Trump, o NPS divulgou uma animação aérea do complexo, destacando o estado atual da estrutura, desativada desde os anos 60. O vídeo não confirmou nenhuma movimentação oficial para reativação, mas serviu como lembrete visual do local em pauta.
Mesmo fechada, Alcatraz segue como um ponto de convergência entre passado e presente: uma estrutura física que carrega o peso de políticas penais do século XX e que, em 2025, volta a ser usada como argumento político — em um país que ainda discute o equilíbrio entre punição e justiça.
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