Na Europa, o plástico reciclado vale mais do que o plástico novo e o culpado é um velho conhecido: a lei sobre tampas

Nunca uma coisa tão pequena (e aparentemente sem importância) despertou tanta polêmica

Europa vive crise das tampinhas de plástico / Imagem: Jonathan Chng / Waldemar
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Quando, em 5 de junho de 2019, Antonio Tajani, vice-primeiro ministro da Itália, assinou a Diretiva 2019/904 (lei válida para todos os países da União Européia), ele não podia imaginar que estava lidando com um dos temas mais polêmicos da última década: a maldita tampa de plástico.

No papel, era uma medida simples. Aliás, era uma medida de bom senso: de acordo com as estimativas da Comissão Europeia, apenas 10 produtos representavam 70% de todo o lixo marinho do mundo, e um deles eram as tampas de plástico (das embalagens descartáveis).

Bastavam algumas medidas fáceis para "reduzir à metade esses desperdícios e evitar danos ao meio ambiente avaliados em 230 bilhões de euros".

Mas as pessoas (muitas) não gostaram da ideia das tampas.

O problema é que não parou por aí

A ideia básica do projeto era que, assim que a nova normativa entrasse em vigor, "até uma dezena de produtos deveriam ser fabricados 'exclusivamente' com materiais sustentáveis ou, caso isso fosse inviável, o design deveria ser alterado para garantir a coleta de até 90% (e, no caso de produtos especialmente sensíveis, precisariam ser feitas uma série de campanhas para reduzir ao mínimo possível)".

Buscava-se impulsionar um enorme programa de inovação e desenvolvimento destinado a "impulsionar novos designs industriais, novos materiais e novos usos"; mas a Comissão se deparou com uma sociedade que não entendia muito bem o que se pretendia fazer e o que ainda precisava ser feito.

A partir de 2025, as garrafas PET deveriam conter pelo menos 25% de plástico reciclado, e isso gerou uma enorme quantidade de problemas: durante o ano passado, o preço do plástico PET reciclado dobrou, sendo mais caro que o plástico novo. Os flocos de Tereftalato de Polietileno (PET) pós-consumo na Europa estavam sendo vendidos por até 1.690 euros (R$ 10,1 mil) por tonelada em fevereiro de 2024.

O motivo é simples: não se reciclava tanto PET quanto era necessário para suprir os 25% e a demanda fez os preços subirem a um ponto que, como explicou Tatiana Rojas, o impacto nas diversas indústrias que dependem desse material para a fabricação de produtos foi bastante considerável.

2024 foi o grande ano de transição. Afinal, ninguém queria chegar a 2025 com os deveres por fazer. Mas isso não significa que a vida da diretiva já tenha terminado: ao contrário, a indústria tem cinco anos para atingir um índice ainda maior, 30%.

E a pergunta “vale a pena?” continua em aberto. Não do ponto de vista ambiental, claro. No mundo, recicla-se menos de 10% dos plásticos descartados e a indústria passou décadas incentivando a reciclagem sabendo que ela tem pouca aplicação prática. Embora o impacto europeu seja pequeno, medidas como essa mostram que a aplicação prática é uma questão de vontade.

O "vale a pena" se refere, sobretudo, ao custo político. No ano passado, a União Europeia perdeu uma de suas batalhas chave no meio de uma guerra aberta com o campo e começou muito enfraquecida em um contexto global cada vez mais complexo.

Como afirmou Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia até 2019, "os líderes europeus sabemos perfeitamente o que fazer, o que não sabemos é como sermos reeleitos depois de fazermos isso". E este parece ser um caso bem claro disso.

Imagem | Jonathan Chng / Waldemar

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

Inicio