As festas de fim de ano terminaram há mais de um mês, mas talvez você ainda tenha em casa, encostada em um canto da sala, na varanda ou no hall de entrada, uma árvore enfeitada com festões e bolas douradas. Se for o caso, preste atenção: não coma. Não importa o quão apetitoso pareça ou quantas receitas você tenha visto no TikTok. Pode parecer um aviso estranho, mas faz mais sentido do que parece. Tanto que, em janeiro, a agência responsável pela segurança alimentar na Bélgica (FASFC) emitiu um alerta semelhante para a população.
E havia um bom motivo para isso.
O que fazer com essa árvore?
Faz parte do ritual de fim de ano. Todo ano, montamos a árvore de Natal antes das comemorações. E, todo janeiro, chega a hora de desmontá-la. Quem usa árvores artificiais pode simplesmente guardá-las na caixa e colocar no depósito, mas a situação é mais complicada para quem opta por pinheiros ou abetos naturais.
Existe alguma forma de reaproveitar a árvore de Natal e evitar o desperdício? Recentemente, a prefeitura de Ghent, na Bélgica, se fez essa pergunta e chegou a uma conclusão, no mínimo, curiosa: sim, dá para comer.
Como assim, comer a árvore?
A publicação original no Facebook não está mais disponível, mas veículos como Politico, The Guardian, The New York Times e Euro News repercutiram a história, permitindo que o conteúdo fosse conhecido.
Basicamente, a prefeitura publicou um aviso afirmando que uma árvore de Natal “é comestível, desde que não seja um teixo ou tenha sido tratada com spray antifogo”. No site oficial, o governo municipal de Ghent chegou a publicar uma nota intitulada “Coma sua árvore de Natal”, mas mais tarde ajustou o título para algo menos impactante.
E qual era a intenção?
A ideia de comer a árvore de Natal pode parecer estranha, mas as autoridades de Ghent tinham um motivo para sugeri-la. O post, que ainda está disponível no site oficial, explica melhor. O objetivo inicial era orientar os cidadãos sobre o que fazer com os “excessos” das festas de fim de ano.
Entre outras sugestões, o texto dá dicas de como reaproveitar sobras de verduras e carne ou preparar conservas caseiras. Também inclui orientações sobre o que fazer com presentes que não agradaram. O problema começou quando a prefeitura mencionou as árvores de Natal.
Nesse ponto, a publicação trouxe uma proposta inusitada: “Coma sua árvore”. A frase não está mais no ar, mas o post ainda menciona que, em alguns países escandinavos, o hábito de usar árvores de Natal na culinária já existe há bastante tempo. “De verdade, na Escandinávia fazem isso há muito tempo”, afirma o texto, antes de explicar como as agulhas das ramas do abeto podem ser usadas para fazer um tipo de creme para passar no pão.
O artigo até incluía um link do Foodies com mais sugestões de como aproveitar as agulhas de pinheiro.
Boa ideia, né? Na verdade, não.
Pelo menos não para a Agência Federal de Alimentos da Bélgica (FASFC), que rapidamente emitiu um alerta esclarecendo que transformar partes da árvore de Natal em petiscos talvez não seja uma ideia tão boa.
E o motivo é simples: elas não foram feitas para isso. “As árvores de Natal não são destinadas ao consumo humano”, destacou na última terça-feira a porta-voz do órgão, Hélène Bonte.
“Consequências graves.”
Por esse motivo, e para evitar infestações de pulgões, as árvores ornamentais costumam receber tratamentos especiais com produtos químicos, incluindo inseticidas, tornando-as nada seguras para a alimentação. “Só por essa razão, a FASFC não pode apoiar esse tipo de iniciativa”, afirmou o órgão belga em declarações ao Politico.
Além disso, há outro problema igualmente sério. Nem sempre é fácil perceber a olho nu se uma árvore foi tratada com produtos retardantes de chamas ou identificar se a espécie em questão pode ter consequências graves, até fatais para quem a consumir.
Bonte também lembra que há uma grande diferença entre um pinheiro cultivado comercialmente para ser árvore de Natal e aqueles usados em receitas tradicionais nórdicas.
“Completamente diferentes.”
“As agulhas dos pinheiros que crescem naturalmente nos países do norte são completamente diferentes das árvores cultivadas para o Natal”, ressalta a porta-voz da FASFC. Embora Ghent tenha menos habitantes do que Bruxelas ou Antuérpia, e o anúncio tenha sido feito nas redes sociais e no site oficial, a agência belga de segurança alimentar considerou o assunto sério o suficiente para emitir um alerta no início da semana e deixar sua posição bem clara.
"Não há uma maneira simples de os consumidores saberem se as árvores de Natal foram tratadas com retardantes de chamas, e essa incerteza pode trazer consequências graves, até fatais", enfatiza Bonte. "Não há garantia de que comer árvores de Natal seja seguro, nem para as pessoas, nem para os animais."
Um passo atrás no Natal
Após a reação da FASFC à iniciativa da prefeitura de Ghent, as autoridades locais também tomaram providências. A publicação original no Facebook não está mais disponível, e veículos como Euro News e Agence France Presse afirmam que a cidade alterou a postagem em seu site oficial, substituindo o título "Coma sua árvore de Natal" por uma versão bem mais cautelosa: "Os escandinavos comem suas árvores de Natal".
E não foi só isso. Agora, quem acessa o post encontra um aviso ressaltando que "nem todas as árvores de Natal são comestíveis" e que a prática envolve certos riscos.
"Não confunda com o teixo, pois ele é venenoso. Além disso, abetos e pinheiros que foram tratados com produtos como sprays antifogo ou pesticidas não são comestíveis", esclarecem as autoridades municipais. Elas também reforçam que a Agência de Segurança Alimentar "desaconselha o consumo de agulhas de árvores de Natal".
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