Milhões em publicidade nos convenceram de que a água engarrafada era mais saudável, até a chegada dos microplásticos

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PH Mota

Redator
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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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Em muitas ocasiões, associamos a água engarrafada a uma opção de hidratação de qualidade superior à água da torneira. Mas a realidade é que as análises científicas mais recentes sugerem que a água engarrafada é uma fonte direta de exposição a nano e microplásticos (NMPs).

Isso significa que os consumidores regulares de água engarrafada podem estar ingerindo até 90 mil partículas de plástico adicionais por ano, em comparação com aqueles que bebem água da torneira. Algo que contradiz a ideia de que a água engarrafada é muito mais saudável, como sempre tentaram nos vender.

Inimigo invisível

O estudo, publicado na revista Journal of Hazardous Materials, define microplásticos como partículas entre 1 micrômetro e 5 mm e nanoplásticos como partículas com menos de 1 micrômetro. Partículas muito pequenas que se desprendem das garrafas plásticas ao longo de seu ciclo de vida.

De acordo com o estudo, as partículas são liberadas não apenas pela degradação natural do plástico, mas também por fatores físicos e ambientais do dia a dia. Por exemplo, o simples ato de abrir e fechar a tampa ou apertar a garrafa gera atrito que resulta na liberação de partículas na água.

Outro caso muito comum é deixar a garrafa de água exposta ao sol por um certo período. Muitas partículas de plástico são liberadas nesse processo, pois a degradação da embalagem aumenta. Mas, no caso oposto, no congelamento, também enfrentamos esse mesmo problema, pois foi comprovado que ele é um fator que aumenta a poluição por microplásticos.

Uma vez ingeridas, essas partículas têm um efeito proporcional ao seu tamanho. Em geral, quanto menores, mais preocupantes para o nosso organismo, pois facilitam a transposição das barreiras biológicas.

Se falarmos de partículas maiores que 150 micrômetros, podemos ficar tranquilos, pois elas passarão diretamente pelo trato digestivo e serão eliminadas nas fezes. Mas se forem menores que 150 micrômetros, poderão atravessar a cavidade intestinal e entrar nos sistemas linfático e circulatório, podendo atingir órgãos com partículas menores que 20 micrômetros.

Mas o verdadeiro perigo está nas partículas menores que 100 nanômetros, consideradas nanoplásticos. Nesse caso, as partículas são pequenas o suficiente para atingir todos os órgãos, inclusive com a capacidade de atravessar barreiras críticas como a barreira hematoencefálica e a placenta.

Perigos

A exposição contínua a nanoplásticos e microplásticos está associada a uma série de problemas crônicos de saúde. Não se trata de toxicidade aguda, mas de danos cumulativos a longo prazo. Entre os principais riscos identificados estão doenças respiratórias, problemas reprodutivos, disfunções do sistema imunológico e aumento do estresse oxidativo.

Um dos grandes desafios para os pesquisadores é a falta de métodos padronizados para analisar esses plásticos. Atualmente, existem diferentes testes, mas eles variam em sensibilidade e precisão, o que dificulta a obtenção de um critério comum entre os diferentes estudos, com o objetivo de se ter uma visão geral do grande problema que enfrentamos.

Algumas técnicas conseguem detectar partículas muito pequenas, mas não sua composição, enquanto outras fazem o oposto, o que representa uma limitação muito importante. Apesar disso, alguns estudos já apontam diferenças significativas entre as marcas que encontramos no mercado. Por exemplo, uma pesquisa citada no relatório constatou que a Nestlé Pure Life e a Bisleri apresentavam algumas das maiores concentrações médias de partículas de microplástico.

Regulamentação

Essa falta de padronização nos estudos contribuiu para um grande "vácuo legislativo" em nossa sociedade. Embora leis tenham sido aprovadas sobre sacolas plásticas, canudos e talheres descartáveis, as garrafas de água foram amplamente negligenciadas pelas regulamentações.

Dessa forma, o autor do estudo destaca que o consumo de água em garrafas plásticas deve ser feito apenas em situações de emergência, e não como prática diária, devido à alta ingestão de microplásticos, o que pode gerar um problema a longo prazo.

Já vimos microplásticos em testículos humanos, leite materno, sangue, vestígios arqueológicos e até mesmo em alimentos como vegetais. Por isso, a longo prazo, precisamos observar atentamente o impacto do consumo prolongado de microplásticos por diferentes meios, e não apenas por meio da água engarrafada.

Imagem | Jonathan Cooper

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