Steve Jobs era uma figura complexa. Para alguns, um gênio. Para outros, um pesadelo no trabalho. Mas, independentemente da opinião, sua capacidade de execução era inegável. Além de seu papel como cofundador da Apple ou de sua influência na indústria de smartphones como a conhecemos hoje, Jobs enfrentou o mesmo desafio que qualquer executivo: o tempo é finito. Para liderar uma das maiores empresas do mundo, não bastava ter boas ideias. Ele precisava de extrema produtividade e organização.
Saber exatamente como ele gerenciava sua agenda diária ou coordenava suas equipes é difícil, pois ele sempre foi muito reservado em relação à sua privacidade. No entanto, por meio de seus e-mails internos, entrevistas e relatos de pessoas que trabalharam com ele, podemos reconstruir os sete pilares que lhe permitiram manter o foco em cada decisão.
1. Busque a simplicidade
Apple e simplicidade são conceitos inseparáveis. É um mantra repetido na empresa há décadas. Todos os seus produtos visam oferecer uso intuitivo e evitar enfeites desnecessários: ir direto ao ponto. Isso faz parte da filosofia que Jobs incutiu na empresa. Em Jony Ive, o lendário designer industrial da Apple, Jobs encontrou um espírito afim nessa cruzada pela simplicidade.
Mas simplicidade não se resume à estética minimalista. Trata-se de eliminar o supérfluo em todos os aspectos. Em uma famosa citação de 1997, Jobs explicou a produtividade no desenvolvimento de software da seguinte forma:
"A produtividade na programação não se aumenta o número de linhas de código por programador por dia. Isso não funciona. A produtividade se elimina as linhas de código que você precisa escrever".
Steve Jobs buscava a simplicidade em tudo, até mesmo nos móveis de sua casa (ou na ausência deles). Aplicar isso ao trabalho é mais difícil do que parece, mas ajuda ter a mente clara e focar no que é vital. O segredo é encontrar a solução que exige o mínimo esforço, removendo as camadas de ruído até que reste apenas o essencial. A partir daí, você constrói.
2. Dizer "não" a mil coisas
"Não, não e não". Era o que os engenheiros e designers da Apple ouviam constantemente. Relacionado ao ponto anterior, Steve Jobs fazia questão de rejeitar qualquer ideia que não fosse excelente. Quando apresentou o iPod original, explicou que tinha tanto orgulho do que não haviam feito quanto do que haviam conquistado. Segundo ele, a inovação reside em dizer não a mil coisas para que elas não o atrapalhem.
É preciso ter cuidado ao aplicar isso ao seu dia a dia, pois dizer "não" pode parecer desrespeitoso se não for feito com tato. Você não pode simplesmente recusar uma reunião com seu chefe, mas pode propor alternativas, como enviar um resumo por e-mail. Pensar antes de aceitar, rejeitar o que não agrega valor e oferecer abordagens alternativas são maneiras de proteger sua produtividade.
3. Delegar tarefas com eficácia
Se você vai dizer "não" a muitas coisas, inevitavelmente terá que delegar. Jobs fez isso com maestria: cada equipe tinha um Responsável Direto (RD) que sabia exatamente qual era a sua missão. Dessa forma, Jobs aliviou a carga de trabalho e distribuiu a responsabilidade por toda a cadeia de comando. Você pode encontrar mais detalhes sobre essa metodologia em "Creative Selection", o livro de Ken Kocienda, criador do teclado do primeiro iPhone.
O segredo é saber delegar bem: atribuir a tarefa à pessoa certa, com instruções claras e expectativas definidas. Não se trata de passar a responsabilidade para outro, mas sim de confiar na equipe certa.
4. Vivendo com o futuro em mente
Para Steve Jobs, as decisões precisavam ser tomadas hoje, considerando o impacto que teriam daqui a cinco anos. Quando apresentou o iPhone, ele disse que o produto "mudaria o mundo". Para fazer tal afirmação, é preciso ter projetado o produto com essa certeza. Se tivessem considerado apenas o mercado de 2007, teríamos um iPhone com um teclado físico de plástico. O iPhone foi projetado pensando no futuro.
Hoje, vemos algo semelhante com a incursão da Apple na computação espacial: produtos que nascem limitados pela tecnologia atual, mas com um olhar voltado para a próxima década. Viver com o futuro em mente não é fácil. Requer compreender as limitações do presente e ter a coragem de apostar no que está por vir, não no que já funciona.
5. Concentre-se no que importa
Vamos voltar à simplicidade com uma anedota histórica. Quando Steve Jobs retornou à Apple em 1997, a empresa estava em crise. O motivo? Eles tinham dezenas de produtos medíocres. Jobs tomou medidas drásticas: eliminou 70% do catálogo e concentrou toda a empresa em apenas quatro produtos. Um quadrante: Consumidor e Profissional. Laptop e Desktop. Nada mais.
6. Pense diferente
Não era apenas um slogan publicitário; era uma filosofia de vida. O famoso anúncio deixava claro: aqueles que são loucos o suficiente para pensar que podem mudar o mundo são os que o fazem.
Aplicando isso ao nosso dia a dia, "pensar diferente" significa resgatar a criatividade que tínhamos quando crianças, antes que o ambiente nos moldasse. É frequentemente chamado de "pensar fora da caixa". Se você conseguir sair da sua zona de conforto e questionar por que as coisas são feitas de determinada maneira ("sempre foi feito assim"), encontrará atalhos de produtividade que ninguém mais vê.
7. Encontre e faça o que você ama
Finalmente, o conselho mais repetido e mais difícil de seguir. Steve Jobs não era apaixonado por computadores em si. Ele era apaixonado por criar ferramentas que combinassem tecnologia e artes liberais.
O sucesso da Apple não veio de Steve prevendo o futuro com uma bola de cristal, mas de sua insistência em criar produtos que ele mesmo adoraria usar. Se eu não amasse o que faço, não haveria essa obsessão por detalhes, fontes bonitas no meu Mac ou materiais de alta qualidade.
A ideia é encontrar um trabalho que agregue valor à sua vida. Parece clichê, e sabemos que nem sempre é possível trabalhar com o que nos apaixona. Mas a verdadeira produtividade surge da motivação intrínseca: quando você gosta do que faz, o "trabalho" deixa de ser um fardo e você inevitavelmente se torna mais eficiente.
Texto original de Cristian Rus
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