O apagão que ocorreu anteontem na Espanha e em Portugal acendeu um grande alerta sobre a segurança da rede elétrica europeia. Desde o início, surgiu a teoria de que poderia se tratar de um ciberataque. As chances de que fosse esse o caso não eram muito altas, à luz de incidentes anteriores, e, agora, a Rede Elétrica Espanhola (empresa responsável pela operação do sistema elétrico no país) descartou tal possibilidade.
Como reportado pelo jornal El País, Eduardo Prieto, diretor de serviço da Rede Elétrica, afirmou em uma entrevista em vídeo que “pudemos concluir que não houve nenhum tipo de intrusão nos sistemas de controle da Rede Elétrica que pudesse ter ocasionado o incidente”.
Em sua coletiva de imprensa, Prieto destacou que “com as informações preliminares disponíveis”, essa hipótese está descartada. Órgãos como o INCIBE e o CCN investigam o incidente e foram mencionados por esse responsável da Rede Elétrica, o que torna a possibilidade de um ciberataque muito remota.
O presidente aponta outra possibilidade
Pedro Sánchez, presidente do Governo da Espanha, afirmou que a Rede Elétrica descartou problemas em sua rede de transporte e destacou que “isso é muito bom”, mas também ressaltou que há mais dados a serem analisados e que serão cobradas responsabilidades dos operadores privados. Assim, a possibilidade de que a intrusão tenha ocorrido em terceiros ainda não está completamente eliminada.
José Luis Calama, juiz da Audiência Nacional (tribunal especializado em casos de grande importância e complexidade, similar ao STF no Brasil), abriu uma investigação para verificar se o apagão pode ter sido um ato de sabotagem informática. Serão solicitados relatórios do Centro Criptológico Nacional (CNI), da Rede Elétrica e da Polícia Nacional, que terão um prazo de 10 dias para indicar as causas do apagão. Segundo o juiz, “o ciberterrorismo está entre as possíveis” causas, apesar das declarações da Rede Elétrica.
Nem erro humano nem fenômeno meteorológico
Esse dirigente também afirmou que estão descartadas hipóteses como erro humano ou algum fenômeno atmosférico ou meteorológico incomum, algo que foi confirmado pela AEMET (Agência Estatal de Meteorologia) na manhã de ontem.
Javier Blas, editor da Bloomberg, compartilhou no X as informações fornecidas pela Rede Elétrica em uma coletiva de imprensa. Segundo os responsáveis, esta foi a linha do tempo registrada do apagão:
1) Às 12h33 a rede sofreu um “evento” semelhante a uma perda de geração elétrica.
2) Quase imediatamente, a rede se autoestabilizou e se recuperou.
3) Aproximadamente 1,5 segundo depois, ocorreu um segundo evento semelhante a uma perda de geração.
4) Cerca de 3,5 segundos depois, a conexão entre Espanha e França foi interrompida devido à instabilidade da rede.
5) Imediatamente após isso, uma perda massiva de energia renovável afetou o sistema.
6) A rede elétrica entrou em colapso em cascata.
Na conferência, os responsáveis da Rede Elétrica indicaram que, no pior momento do apagão, a geração na Península Ibérica caiu a zero. Dados anteriores sugeriam que o apagão não foi total, com 10 GW de geração ativa, mas essas informações estavam incorretas.
“Desconexão de geração”
A Rede Elétrica apontou dois episódios de “desconexão de geração”, muito provavelmente relacionados à energia solar. O evento fez com que, em apenas cinco segundos, 60% de toda a energia na Espanha desaparecesse do sistema.
O que acontece nesses casos é algo muito específico. Nos últimos dias, quase 100% da demanda energética na Espanha foi atendida por fontes renováveis, o que gerou um desafio na gestão. As energias solar e eólica não são absorvidas da mesma forma pela rede elétrica e, ao serem detectados riscos de danos maiores (como quedas bruscas de tensão), ocorrem desconexões automáticas. Fala-se em duas desconexões: a rede suportou a primeira, mas não resistiu à segunda, que acabou provocando o apagão.
Nas primeiras horas após o apagão, na segunda-feira, circulou a teoria de que ele poderia ter sido causado por um ciberataque. A Espanha vem sendo alvo de numerosas tentativas de intrusão em suas infraestruturas críticas, mas Teresa Ribera, da União Europeia, rapidamente afirmou que “não há nada que nos permita afirmar que houve algum tipo de boicote ou ciberataque”.
Imagem | Dmitrii E. (Unsplash)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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