Em plena crise mundial do cacau, as Ilhas Canárias tiveram uma ideia: e se cultivassem o fruto por lá?

Onde o mercado enxergava problemas, esses engenheiros agrônomos viram uma oportunidade

Com a queda da produção de cacau na África, ao passo que o produto fica cada vez mais valorizado, Canárias podem aproveitar a oportunidade / Imagem: Majestic Lukas | Kyle Hinkson
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Na última semana de abril, Gana expulsou de seu território todas as empresas estrangeiras que operavam no mercado do ouro. A situação havia se tornado insustentável. Não eram apenas as “consequências desastrosas econômicas, sanitárias e ambientais” da mineração artesanal (que disparou nos últimos anos), nem as contas deterioradas do Estado ganês; o boom da exploração do ouro estava corroendo outras indústrias nacionais.

O exemplo mais claro é o do cacau.

O que está acontecendo com o cacau?

Só no último ano, Gana (o segundo maior produtor de cacau do mundo) perdeu 20% de sua produção total. E isso ocorreu em um contexto global em que as más colheitas, pragas e as mudanças climáticas elevaram os preços do cacau a níveis históricos: a tonelada ultrapassou os 10 mil dólares na bolsa de Nova York.

O problema é que, para os agricultores ganeses, o ouro era mais rentável no curto prazo. A chegada de operadores chineses mudou as regras do jogo há alguns anos e as consequências começaram a aparecer agora: o cacau já não era a "galinha dos ovos de ouro" para a indústria do país africano; mas ainda era muito mais sustentável do que o galamsey: revolver toneladas e toneladas de terra de forma quase artesanal, ilegal, perigosa e pouco regulada para vender o ouro que ali encontrassem. A Costa do Marfim (o maior produtor de cacau do mundo) já começa a sofrer com o mesmo problema.

Onde alguns veem um problema, outros enxergam uma oportunidade. E por “outros” estamos falando dos agricultores das Ilhas Canárias, um arquipélago na costa do Marrocos que pertence à Espanha. Porque, como afirma o jornal La Provincia, “as Ilhas Canárias contam com condições climáticas subtropicais que as tornam uma região diferente do restante do continente”. E isso tem consequências, principalmente para a agricultura.

Por isso, não surpreende que o Instituto Canário de Pesquisas Agrárias (ICIA) esteja há dois anos “analisando as possibilidades de crescimento do cultivo [de cacau] em propriedades do arquipélago”. Tampouco surpreende que os resultados sejam positivos.

O cacau não está sendo pensado, neste momento, como um cultivo de larga escala. A ideia é buscar um produto boutique, algo que permita “diversificar” a agricultura das Canárias e fugir da dependência da banana, que é a principal atividade agrícola da região.

Mas não é tão fácil. Porque não se trata apenas de convencer produtores suficientes para alcançar uma estabilidade produtiva considerável — é preciso também desenvolver toda a cadeia industrial: coisas como a fermentação do grão e sua secagem.

E aqui surgem muitos problemas: levantar essa indústria é quase impossível (a rentabilidade é baixíssima) e vender o cacau “no atacado” coloca você em uma posição estratégica muito fraca. É preciso pensar muito bem nos próximos passos para que isso não se torne um passatempo acadêmico.

Desde o final de 2023, o cacau passou de ser cotado a 2.581 dólares por tonelada para 10.371 dólares. É algo extremamente atraente e, justamente por isso, qualquer erro pode ser uma armadilha mortal.

Imagem | Majestic Lukas | Kyle Hinkson

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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