Conheça a “Curva da Morte” que a Mercedes construiu nos anos 60 para testar seus carros

Era tão brutal que permitia guiar sem girar o volante e gerava forças G como na Fórmula 1

Era tão brutal que permitia guiar sem girar o volante / Imagem: Mercedes Classic Archive, @gentlemendrivers
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Há algum tempo, era conhecida como "Curva da Morte" e agora, à primeira vista, parece uma estrutura esquecida dentro do complexo industrial da Mercedes em Untertürkheim (Alemanha). Mas essa curva inclinada de 90º não é qualquer curva: foi projetada para levar os carros e seus motoristas ao limite.

Durante décadas, foi um dos segredos mais bem guardados da marca. A mais de 150 km/h, não era necessário nem tocar o volante para guiar por ela: a força centrífuga cuidava de tudo. Quem entrava nela ficava grudado ao banco, com a visão turva e o corpo suportando mais de 3 Gs.

Uma solução radical para um espaço apertado

Quando a Mercedes ampliou suas pistas de testes habituais em 1967, deparou-se com uma limitação: o espaço. Encravado entre o rio Neckar e as instalações da fábrica de Untertürkheim, o traçado só podia crescer de uma forma: para cima. E assim nasceu uma das curvas mais extremas já construídas por uma marca de carros.

Com uma inclinação de até 90 graus, essa curva era uma espiral fechada pensada para testar a estabilidade, a aderência lateral e a resistência estrutural de qualquer veículo. Com um raio de 60 metros e uma inclinação que chegava a um ângulo de 71° em relação ao horizonte, a “curva da morte” permitia manter uma velocidade constante de 150 km/h sem precisar mexer no volante.

Nessa velocidade, a força G suportada pelo motorista chegava a 3,1 vezes o seu peso. Chegar aos 200 km/h não era totalmente impossível, mas quase: nessa velocidade, o corpo deveria suportar forças de até 5,3 G e o desmaio era uma ameaça real, segundo os arquivos da marca.

Um laboratório no limite da engenharia

A curva fazia parte de um complexo de mais de 16 quilômetros de pistas, escondidas atrás dos muros da fábrica da Mercedes e hoje visíveis da rodovia 14, que cruza Stuttgart. Lá, testaram de tudo: protótipos, carros de produção e de corrida, ônibus e até caminhões.

Curva

As pistas eram complementadas por seções para testes de frenagem, buracos extremos, superfícies escorregadias e até rampas com inclinações de até 70%. Até um trecho deteriorado de estrada foi reproduzido com precisão e túneis de vento laterais foram instalados para simular rajadas durante ultrapassagens. Esse ambiente foi fundamental para a evolução da segurança e da tecnologia da Mercedes.

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Por exemplo, foi onde o sistema de freios ABS foi testado pela primeira vez em 1978, desenvolvido em colaboração com a Bosch. A pista de deslizamento circular (o mítico “skidpad”) também foi construída aqui décadas antes do centro de testes de Immendingen assumir essa função.

Uma curva que, ainda hoje, impõe respeito

O mais impressionante é que a “Curva da Morte” ainda está de pé. Embora hoje a maioria dos testes seja realizada em Immendingen e outros centros, ou simulada digitalmente, a curva de Untertürkheim não foi desmontada. Permanece como um monumento brutal à era analógica, a meio caminho entre a engenharia e a loucura técnica.

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Sua parte mais alta eleva-se cinco metros acima do solo e ainda pode ser usada para testes específicos. Durante décadas, foi uma joia oculta, acessível apenas para engenheiros, pilotos de teste e alguns jornalistas especializados sortudos. Hoje, é também um testemunho de como a Mercedes entendia (e continua entendendo) os avanços tecnológicos: como algo que deve ser demonstrado e medido, mesmo que desafie as leis da física.

Imagens | Mercedes Classic Archive, @gentlemendrivers

Este texto foi traduzido/adaptado do site Motorpasión.

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