O simulador de vida InZOI chegou aos computadores de todo o mundo no final de março. As primeiras impressões destacam o impressionante esforço gráfico na recriação do cotidiano, assim como as semelhanças e diferenças com outro grande marco do gênero, The Sims. No entanto, algumas de suas características, principalmente por conta de sua origem — a Coreia do Sul —, levantam várias dúvidas quanto à sua aceitação fora do mercado asiático.
10 anos sem simuladores de vida
The Sims se tornou um dos videogames mais famosos de todos os tempos — principalmente porque conquistou um público importante que normalmente não jogava, muito antes de o termo “casual” virar moda com a chegada dos dispositivos móveis. No entanto, a última edição principal do jogo, The Sims 4, foi lançada em 2014. Com uma quinta edição descartada e a transformação da franquia em um modelo free-to-play, seu formato original parece esgotado.
Apesar do gênero ser “simulador de vida”, dizer que The Sims é um jogo que pretende replicar a vida cotidiana é o mesmo que dizer que Os Simpsons é um retrato fiel de uma família norte-americana. Sejam mais sutis ou mais escancarados, todos esses retratos são filtrados pela sátira, porque na sociedade ocidental somos incapazes de nos olhar sem o filtro do cinismo e da autocrítica (ou, no caso de SimCity, da crítica mordaz). Essa é a grande diferença em relação a InZOI, que leva muito a sério sua proposta de replicar a vida real.
Assim é a vida
Na verdade, essa é a principal crítica que InZOI vem recebendo: “não ter entendido” o The Sims que supostamente imita, entre o escandaloso realismo da Unreal Engine e a possibilidade de colocar no jogo nossos próprios gestos, aparência física e movimentos. Ou ainda o complexo sistema de reações, que faz nossa relação com os outros personagens evoluir de acordo com nosso comportamento, dentro de um verdadeiro labirinto de laços sociais que impacta diretamente no crescimento da cidade e do mapa.
É um conceito absurdamente ambicioso e que se distancia bastante da proposta de The Sims. Aquele jogo, antes de ser um simulador de vida, era um simulador de onipotência: coloque seu Sim na piscina e tire a escada só pra ver o que acontece.
Possivelmente, o maior “problema” que InZOI vai enfrentar para conquistar países fora da Ásia, depois que passar o deslumbramento geral com seus gráficos, é seu espírito tão característico de simuladores e RPGs asiáticos: a necessidade de levar tudo a sério. Claro, em InZOI também é possível fazer bagunça como em um GTA, mas um sistema de karma protege o universo digital contra exageros, e é justamente para esse tipo de comportamento que tende o jogador europeu ou americano: testar os limites dos jogos e da simulação. Basta assistir a uma partida de GTA Online para entender o quanto a ideia de simulação é encarada de forma muito diferente em lados opostos do globo.
Nosso simulador são as redes sociais
Será que não gostamos de simulação fora da China ou da Coreia? Não é isso: na verdade, substituímos essa experiência pelas redes sociais, que atendem às nossas necessidades aspiracionais e voyeuristas. Não construímos réplicas digitais e complexas de nós mesmos em videogames porque, na prática, nossos perfis no Twitter, Bluesky e Instagram já cumprem esse papel — são onde encenamos uma vida que queremos fingir ou que desejamos viver, muitas vezes de forma leve e lúdica.
O maior desafio de InZOI é que, sem perceber, nós já criamos a simulação perfeita. E sem precisar de computadores de última geração.
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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