Enquanto milhões de famílias enfrentam a crise, CEO da Kellogg’s diz que jantar cereal é a solução

Cereal saúde faz bem pra saúde CEO. Imagem: Xataka
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Sofia Bedeschi

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Sofia Bedeschi

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Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

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Gary Pilnick, CEO da Kellogg’s e bilionário com mais de duas décadas na empresa, gerou revolta ao sugerir que, diante da inflação, famílias de baixa renda deveriam considerar “comer cereal no jantar”.

Em entrevista à CNBC no dia 21 de fevereiro de 2024, Pilnick disse que “as pessoas deveriam comer cereal” e argumentou que essa categoria de produtos “sempre foi acessível” e representa uma opção viável quando o orçamento está apertado.

Segundo o The Guardian, a declaração fez muita gente lembrar da famosa e infeliz frase “que comam brioches”, atribuída (sem provas) à Maria Antonieta antes da Revolução Francesa. Pilnick afirmou ainda que o cereal “tem sido bem aceito” como alternativa para o jantar e que essa tendência pode até se manter no longo prazo. O problema é que os dados contam outra história.

Longe de convencer, o comentário de Pilnick foi visto como um insulto

Segundo o The Sun, o CEO, de 59 anos, mora em uma casa avaliada em quase 5,4 milhões de reais em Michigan e tem um salário-base de 5,4 milhões de reais, além de bônus que ultrapassam os 21,6 milhões de reais.

Usuários do TikTok e de outras plataformas criticaram o fato de alguém com esse nível de vida sugerir cereais como solução para as dificuldades econômicas.

Um dos vídeos mais virais foi direto ao ponto: “Ele realmente acha que dá cereal pros filhos jantarem?”. De acordo com o The Independent, a “recomendação” foi classificada como “distópica” por dezenas de usuários. Outros ironizaram com frases como “deem cereal aos camponeses” ou “comam os ricos”.

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Um café da manhã com preço inflado: cereal não é tão barato assim

Mais do que o tom da declaração, o argumento econômico também foi questionado. Segundo a CBS News, embora Pilnick tenha dito que um jantar com cereal, leite e fruta pode custar menos de 1 dólar, a verdade é que os preços dos cereais subiram 28% nos últimos quatro anos.

Em 2023, apesar de uma leve queda de 0,3%, os anos de 2021 e 2022 registraram altas de 6% e 13%, respectivamente, segundo dados do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos. Além disso, há a questão nutricional.

Muitos lembraram que algumas marcas da Kellogg’s, como Froot Loops e Frosted Flakes, têm alto teor de açúcar e não são uma opção adequada como refeição principal, especialmente para crianças.

“Dê uma folga pro frango”: a campanha da Kellogg’s que já promovia o cereal no jantar desde 2022. A fala de Pilnick não veio do nada.

Segundo o The Independent, a Kellogg’s lançou em 2022 uma campanha publicitária com o slogan “Dê uma folga pro frango”, na qual o personagem Tony, o Tigre, cantava: “Quando eu digo cereal, você diz jantar!”. A campanha foi relançada com força depois da pandemia, com a alta no preço dos alimentos.

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Pilnick defendeu essa estratégia na entrevista e disse que “é preciso alcançar o consumidor onde ele estiver” e que cerca de 25% dos cereais já são consumidos fora do horário do café da manhã. Mas, para muita gente, anunciar cereais para quem mal consegue cobrir o básico não é empatia, é oportunismo.

Segundo a CBS News, nos Estados Unidos, os consumidores estão pagando cerca de 20% a mais pelos alimentos em comparação com 2021. A inflação tem desacelerado, mas os preços continuam altos e os salários não acompanharam esse aumento. Nas palavras do economista Peter Ireland à CBS Boston, a inflação “é dolorosa, especialmente para as pessoas mais vulneráveis, com renda fixa”.

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