Você já teve a sensação de que mais pessoas estão sendo diagnosticadas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA)? Nos últimos anos, esses transtornos estão ganhando cada vez mais visibilidade, parecendo até que eles estão se multiplicando entre crianças, adolescentes e adultos.
Segundo o psiquiatra brasileiro Luis Augusto Rohde, vencedor do Prêmio Ruane, uma das honrarias mais prestigiadas na área da saúde mental, essa impressão não reflete um aumento real de casos na população. O que de fato mudou ao longo do caminho foi o reconhecimento: hoje se fala mais sobre o tema, os critérios de diagnóstico são mais amplos e as pessoas têm acesso mais fácil a serviços e informações sobre saúde mental.
TDAH e TEA: entenda o que são esses transtornos
Antes de entender por que os diagnósticos parecem ter crescido ao longo dos anos, é importante saber o que caracteriza o TDAH e o TEA e o que os diferencia. A seguir, veja quais são as causas, sintomas e tratamento dos transtornos:
- Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, conhecido popularmente pela sigla TDAH, é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta áreas do cérebro responsáveis pela atenção, controle de impulsos e regulação do comportamento. Ele costuma se manifestar ainda na infância e acompanhar a pessoa por toda a vida, pois não há cura. Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas de modo geral, envolvem desatenção, hiperatividade e impulsividade maior do que o esperado. Como consequência, isso pode gerar dificuldades de concentração na escola, no trabalho e nas relações pessoais.
Um desafio do TDAH é que o diagnóstico é clínico, então não é possível realizar laboratórios que confirmem o transtorno. Ele é feito a partir da observação dos sintomas, da frequência com que ocorrem e do quanto interferem na rotina. O tratamento é individualizado e pode envolver uma combinação de fatores, como psicólogo, terapia, acompanhamento médico e uso de medicamentos quando necessário.
- Transtorno do Espectro Autista (TEA)
O Transtorno do Espectro Autista, chamado de TEA, também se enquadra como um transtorno do neurodesenvolvimento, mas está ligado principalmente a dificuldades na comunicação e na interação social, além de comportamentos repetitivos ou interesses restritos.
De acordo com o Ministério da Saúde, os sinais podem ser percebidos ainda nos primeiros meses de vida, e o diagnóstico costuma ser feito entre os 2 e 3 anos de idade. O transtorno recebe o nome de “espectro” porque há diferentes graus e manifestações, desde quadros mais leves, até casos mais graves, como quando há pouca ou nenhuma comunicação verbal.
Em relação ao que provoca o autismo, o TEA não tem uma causa única. As evidências científicas indicam que o quadro é resultado de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Como também não há cura para o autismo, o tratamento pode incluir médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros especialistas, sempre com foco no desenvolvimento e na inclusão social do indivíduo diagnosticado.
Existem mais casos hoje de TDAH e TEA do que antigamente?
Mas afinal, existem mais casos de TDAH e TEA hoje em dia? A resposta é: não exatamente. De acordo com o psiquiatra Luis Augusto Rohde, em entrevista ao jornal O Globo, não há evidências de que a prevalência desses transtornos tenha aumentado na população mundial. Segundo o médico, o que cresceu foi o número de diagnósticos formais, e isso tem relação direta com a conscientização sobre saúde mental e a ampliação dos critérios diagnósticos.
No caso do TDAH, por exemplo, o transtorno era antes mais identificado em meninos, por estar associado à hiperatividade. Hoje, já se sabe que o quadro pode aparecer de forma diferente em meninas, com predominância de sintomas de desatenção, o que fez aumentar o número de diagnósticos femininos.
Já no autismo, que possui diferentes graus, a mudança veio da forma como o próprio transtorno passou a ser compreendido na sociedade. Antigamente, apenas casos mais severos, como aqueles que envolviam a ausência de fala ou de contato social, eram considerados autismo. Com a ampliação do conceito de “espectro”, muitos perfis que antes eram vistos apenas como “traços de autismo” agora são incluídos dentro do diagnóstico de TEA.
“Essa flexibilização muito grande dos critérios levou ao aumento da prevalência administrativa, mas não significa que o número de pessoas com autismo tenha realmente aumentado”, explicou o psiquiatra em entrevista ao jornal O Globo.
Outro fator importante é a desinformação nas redes sociais. Vídeos e postagens que descrevem supostos sintomas de TDAH ou TEA, muitas vezes sem base científica, podem confundir pais e adultos em busca de respostas, que pode levar a autodiagnósticos equivocados e estigmatização do transtorno.
É por isso que nem todo comportamento de desatenção, impulsividade ou isolamento social são suficientes para um diagnóstico de TDAH ou autismo. Esses sintomas só são considerados preocupantes quando aparecem com frequência, causam prejuízo nas atividades diárias e afetam as relações pessoais ou escolares.
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