Talvez seja bom repensar o adoçante: pesquisa brasileira traz preocupações sobre o produto, que pode estar associado ao declínio cognitivo acelerado

Pesquisa realizada pela USP analisou o impacto dos adoçantes na saúde do cérebro e levantou preocupações sobre os riscos do uso desse produto em longo prazo 

Vidro de adoçante. Créditos: banco de imagens
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Laura Vieira

Redatora
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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Os adoçantes artificiais são considerados uma alternativa mais segura do que o açúcar, seja para controlar o peso ou reduzir riscos à saúde. No entanto, apesar de realmente ser menos prejudicial para a saúde, um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista científica Neurology revelou que os adoçantes artificiais podem ter um efeito perigoso na cognição humana. Entre mais de 12 mil participantes acompanhados na pesquisa, aqueles que relataram consumir maiores quantidades de adoçantes apresentaram uma taxa 62% maior de declínio cognitivo ao longo de oito anos. 

Entenda como o estudo foi realizado

O estudo realizado pela USP utilizou os dados do projeto Elsa Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), que acompanhou mais de 12 mil participantes com 35 anos ou mais para entender os impactos da dieta e do estilo de vida na saúde ao longo do tempo. Os participantes foram acompanhados por oito anos e divididos em grupos de acordo com a quantidade de adoçantes consumidos. Durante esse período, passaram por testes cognitivos periódicos que avaliaram memória, fluência verbal e outras funções mentais. A partir dessa comparação, os cientistas conseguiram identificar quais grupos apresentaram maior aceleração no declínio cognitivo.

Consumo frequente de adoçantes foi ligado a perdas de memória e linguagem

O acompanhamento mostrou que o consumo regular de adoçantes artificiais está ligado a um declínio mais rápido da cognição, especialmente em áreas como memória e fluência verbal. Entre os tipos de adoçantes analisados pelos pesquisadores, apenas a tagatose não apresentou associação significativa com perdas cognitivas. Já os maiores consumidores dos demais adoçantes apresentaram declínios de até 173% na fluência verbal e 32% na memória, quando comparados aos de menor consumo.

Pesquisa não analisou sucralose e dependeu de relatos alimentares

Os pesquisadores apontaram algumas restrições em relação ao estudo, como a não inclusão da sucralose, um dos adoçantes mais utilizados atualmente. Esse adoçante não foi incluído na época em que a pesquisa teve início, em 2008, pois não era tão popular no Brasil. Além disso, as informações sobre dieta foram autorrelatadas, ou seja, escritas pelo próprio participante, o que pode conter distorções. Apesar disso, os resultados e a qualidade dos testes cognitivos tornaram os resultados relevantes para a saúde pública.

Claudia Suemoto, coordenadora do Laboratório de Envelhecimento da USP e autora principal do estudo, destacou em entrevista para o jornal da USP que os resultados reforçam a necessidade de repensar o consumo desses produtos.

Adoçantes podem gerar neuroinflamação e alterar a microbiota intestinal

Os cientistas ainda não sabem exatamente por que os adoçantes artificiais estariam ligados ao declínio cognitivo, mas algumas hipóteses ajudam a entender esse possível efeito. Uma delas é que, ao serem metabolizados, certos adoçantes produzem compostos capazes de causar neurotoxicidade e inflamação no cérebro, prejudicando células nervosas envolvidas na defesa imunológica. Outra explicação levantada é que os adoçantes podem modificar a microbiota intestinal, o que afeta tanto o metabolismo da glicose quanto a integridade da barreira hematoencefálica, estrutura que atua como uma espécie de filtro de proteção do sistema nervoso central. Contudo, para mudanças nas recomendações por parte de órgãos e associações de saúde, será necessário mais pesquisas para chegar a uma conclusão. 



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