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"Não são NPCs": Oxford é criticada por esconder nomes de pesquisadores da Indonésia em pesquisa de 13 anos

Universidade ainda não deu os devidos créditos

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Vika Rosa

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Vika Rosa

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Jornalista com mais de 5 anos de experiência, cobrindo os mais diversos temas. Apaixonada por ciência, tecnologia e games.


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Uma descoberta botânica espetacular no interior da Indonésia se transformou em um debate acalorado sobre ética e colaboração científica. Pesquisadores de um projeto conjunto entre a Universidade de Oxford e a Agência Nacional de Pesquisa e Inovação da Indonésia (BRIN) testemunharam o desabrochar da Rafflesia hasseltii, uma flor extremamente rara e difícil de ser encontrada, em uma selva patrulhada por tigres em Sumatra.

No entanto, o anúncio oficial da Universidade de Oxford nas redes sociais gerou uma onda de críticas ao dar destaque apenas ao seu próprio cientista, o Dr. Chris Thorogood, e relegar os colaboradores indonésios a um anônimo "time".

A controvérsia do "NPC"

A omissão gerou indignação pública, levando figuras políticas a se manifestarem. Segundo o site da Indonésia, Jaw Apos, o ex-Ministro da Educação e Cultura da Indonésia, Anies Baswedan, demandou publicamente que a universidade reconhecesse os parceiros locais, utilizando uma metáfora do mundo dos games: “Aos @UniofOxford, os pesquisadores indonésios — Joko Witono, Septi Andriki, e Iswandinão são NPCs (non-playable characters). Mencionem também os nomes deles.”

A crítica ressoou nas redes sociais por tocar em um ponto sensível: a percepção de que instituições ocidentais se apropriam do mérito de descobertas que dependem da expertise de campo e do trabalho exaustivo de pesquisadores do Sul Global. 

O termo "NPC" evoca a ideia de colaboradores locais sendo tratados como meros coadjuvantes que não precisam de identidade própria.

Uma pesquisa de 13 anos

A dedicação dos pesquisadores indonésios não era pouca. Septi Andriki, um ativista de conservação local, havia buscado a flor por 13 anos e foi flagrado chorando de emoção ao testemunhar o raro desabrochar.

O BRIN, agência indonésia, confirmou que a pesquisa faz parte de um projeto de colaboração regional (o "The First Regional Pan-Phylogeny for Rafflesia") e que todos os processos são conduzidos legalmente. 

O pesquisador do BRIN, Dr. Joko Witono, fez questão de ressaltar que a soberania sobre os espécimes é indonésia, garantindo que "todo o processo de pesquisa é conduzido legalmente e com licenças, garantindo que nenhum material genético saia da Indonésia".

A ética nas pesquisas científicas

O incidente é um sintoma do que os críticos chamam de "Parachute Science" (Ciência Paraquedista), onde cientistas ocidentais "aterrissam" em um país, utilizam o conhecimento e a infraestrutura local, e depois se tornam o rosto público da descoberta.

Embora o Dr. Thorogood tenha feito homenagens pessoais em suas próprias redes sociais, chamando Septi Andriki de "o verdadeiro herói da expedição", a falha institucional da Universidade de Oxford perpetua a narrativa de desigualdade.

Vale ressaltar que existe um padrão na produção científica e qualquer fonte deve ser citada na bibliografia, tanto para gerar mais credibilidade, quanto para evitar acusações de plágio. A ocultação de agentes cruciais na descoberta é algo que claramente pode ir de encontro com a ética.

O pesquisador em questão compartilhou uma postagem nas redes sociais declarando: "Deki Andriki é o verdadeiro herói da expedição: cada coisa maravilhosa que vi e postei nesta aventura é graças a ele. Nós te agradecemos irmão." Dando os devidos créditos a um dos membros da equipe.

Apesar da controvérsia, a pesquisa continua. A Indonésia hospeda 16 das espécies de Rafflesia existentes no mundo. O trabalho conjunto visa reconstruir as relações filogenéticas de todas as espécies da flor, um esforço que só pode ser realizado com a expertise local e o reconhecimento mútuo.

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