Uma descoberta botânica espetacular no interior da Indonésia se transformou em um debate acalorado sobre ética e colaboração científica. Pesquisadores de um projeto conjunto entre a Universidade de Oxford e a Agência Nacional de Pesquisa e Inovação da Indonésia (BRIN) testemunharam o desabrochar da Rafflesia hasseltii, uma flor extremamente rara e difícil de ser encontrada, em uma selva patrulhada por tigres em Sumatra.
No entanto, o anúncio oficial da Universidade de Oxford nas redes sociais gerou uma onda de críticas ao dar destaque apenas ao seu próprio cientista, o Dr. Chris Thorogood, e relegar os colaboradores indonésios a um anônimo "time".
Rafflesia hasseltii: A plant seen more by tigers than people 🇮🇩
— University of Oxford (@UniofOxford) November 19, 2025
Yesterday, Oxford Botanic Garden's @thorogoodchris1 was part of a team that trekked day and night through tiger-patrolled Sumatran (an island in Indonesia) rainforests to find Rafflesia hasseltii. pic.twitter.com/bc8GYsnjvq
A controvérsia do "NPC"
A omissão gerou indignação pública, levando figuras políticas a se manifestarem. Segundo o site da Indonésia, Jaw Apos, o ex-Ministro da Educação e Cultura da Indonésia, Anies Baswedan, demandou publicamente que a universidade reconhecesse os parceiros locais, utilizando uma metáfora do mundo dos games: “Aos @UniofOxford, os pesquisadores indonésios — Joko Witono, Septi Andriki, e Iswandi — não são NPCs (non-playable characters). Mencionem também os nomes deles.”
A crítica ressoou nas redes sociais por tocar em um ponto sensível: a percepção de que instituições ocidentais se apropriam do mérito de descobertas que dependem da expertise de campo e do trabalho exaustivo de pesquisadores do Sul Global.
O termo "NPC" evoca a ideia de colaboradores locais sendo tratados como meros coadjuvantes que não precisam de identidade própria.
Uma pesquisa de 13 anos
A dedicação dos pesquisadores indonésios não era pouca. Septi Andriki, um ativista de conservação local, havia buscado a flor por 13 anos e foi flagrado chorando de emoção ao testemunhar o raro desabrochar.
O BRIN, agência indonésia, confirmou que a pesquisa faz parte de um projeto de colaboração regional (o "The First Regional Pan-Phylogeny for Rafflesia") e que todos os processos são conduzidos legalmente.
O pesquisador do BRIN, Dr. Joko Witono, fez questão de ressaltar que a soberania sobre os espécimes é indonésia, garantindo que "todo o processo de pesquisa é conduzido legalmente e com licenças, garantindo que nenhum material genético saia da Indonésia".
A ética nas pesquisas científicas
O incidente é um sintoma do que os críticos chamam de "Parachute Science" (Ciência Paraquedista), onde cientistas ocidentais "aterrissam" em um país, utilizam o conhecimento e a infraestrutura local, e depois se tornam o rosto público da descoberta.
Embora o Dr. Thorogood tenha feito homenagens pessoais em suas próprias redes sociais, chamando Septi Andriki de "o verdadeiro herói da expedição", a falha institucional da Universidade de Oxford perpetua a narrativa de desigualdade.
Vale ressaltar que existe um padrão na produção científica e qualquer fonte deve ser citada na bibliografia, tanto para gerar mais credibilidade, quanto para evitar acusações de plágio. A ocultação de agentes cruciais na descoberta é algo que claramente pode ir de encontro com a ética.
O pesquisador em questão compartilhou uma postagem nas redes sociais declarando: "Deki Andriki é o verdadeiro herói da expedição: cada coisa maravilhosa que vi e postei nesta aventura é graças a ele. Nós te agradecemos irmão." Dando os devidos créditos a um dos membros da equipe.
Apesar da controvérsia, a pesquisa continua. A Indonésia hospeda 16 das espécies de Rafflesia existentes no mundo. O trabalho conjunto visa reconstruir as relações filogenéticas de todas as espécies da flor, um esforço que só pode ser realizado com a expertise local e o reconhecimento mútuo.
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