Uma equipe de pesquisadores franceses redefiniu os limites da arqueologia subaquática ao descobrir, na zona abissal do Mediterrâneo, um navio renascentista incrivelmente bem preservado. A quase três quilômetros abaixo da superfície (a exatos 2.570 metros), a embarcação de aproximadamente 30 metros de comprimento sobreviveu por cinco séculos, intacta e repleta de sua carga original.
Apelidado provisoriamente de Camarat 4, o naufrágio é uma “cápsula do tempo” que, segundo os arqueólogos, está reescrevendo a história do comércio no século XVI. A sua importância reside na preservação quase perfeita de sua estrutura e de seu conteúdo, algo que seria impossível em águas mais rasas.
Preservação abissal impressiona
A integridade do navio é quase um milagre da natureza, resultado de uma combinação improvável de fatores no fundo do Mediterrâneo:
- Temperatura: as águas próximas ao ponto de congelamento.
- Correntes: movimentos de água quase inexistentes.
- Química: uma composição química que atuou como um conservante natural.
- Biologia: a ausência de organismos perfuradores de madeira.
Essas condições extremas protegeram a madeira, os cabos e até minúsculas peças de metal, transformando o local em um laboratório natural de arqueologia, onde materiais que já teriam desaparecido há muito tempo permaneceram intocados.
Um manual tridimensional do comércio renascentista
A carga preservada a bordo é tão reveladora quanto o estado de conservação do navio. Os arqueólogos inventariaram cerca de 200 jarras de cerâmica decoradas, que funcionavam como uma espécie de "moeda logística" em todo o Mediterrâneo, revelando as redes comerciais, a estética da época e a padronização de materiais.
Junto à cerâmica, foram encontradas barras de ferro envoltas em fibras vegetais, um método de embalagem que reduzia a oxidação e mostra como materiais estratégicos eram transportados. A descoberta é complementada por um canhão, uma âncora completa e diversos utensílios do dia a dia, ajudando a reconstruir a vida a bordo.
Um dos pesquisadores envolvidos na campanha resumiu o valor do achado: "Este naufrágio é um manual tridimensional do mundo marítimo renascentista."
Para localizar e estudar o Camarat 4, foi necessária uma operação que beira a engenharia de ponta. As equipes francesas utilizaram veículos operados remotamente (ROVs) equipados com câmeras 4K, sensores de mapeamento 3D e braços articulados capazes de mover objetos milimétricos sem perturbar o contexto arqueológico.
Graças à tecnologia, o navio foi documentado com uma precisão que permitirá a criação de modelos digitais e "gêmeos virtuais".
Ver 0 Comentários