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MIT observou massacre de espécie no Atlântico Norte; milhões morreram em 4 horas

É um caso de predação tão insólito que seu estudo e técnicas contribuirão para uma melhor compreensão da ecologia marinha

Mais de 10 milhões de peixes foram mortos em quatro horas | Imagem: NASA, Nicholas Makris
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

No contexto ecológico, a natureza geralmente avança com dois protagonistas: a presa e o predador. Esse jogo de gato e rato, com resultados mistos para os interesses de cada lado, é chamado de predação, e casos de lobos, tubarões e hienas são exemplos comuns. No entanto, nenhuma cena se compara ao que foi observado no Atlântico Norte: cientistas captaram uma impressionante e inusitada carnificina em alto-mar.

Todos os anos, milhões de capelins (peixes semelhantes às anchovas) migram para a costa da Noruega para desovar, atraindo ao longo do caminho uma grande quantidade de predadores. Durante uma dessas migrações, cientistas do MIT testemunharam o maior evento de predação já registrado: milhões de bacalhaus atacaram um enorme cardume de capelins, consumindo em apenas quatro horas cerca de 10,5 milhões de peixes.

Esse evento, fascinante por vários motivos, foi objeto de um estudo publicado na Nature, que permitiu aos pesquisadores observar as dinâmicas populacionais de ambas as espécies, atividades fundamentais para o ecossistema marinho no Atlântico Norte.

O capelim e seu papel

O capelim (Mallotus villosus), protagonista desta história contra sua vontade, é um peixe pequeno que se alimenta de plâncton e krill nas águas frias e produtivas do Atlântico Norte. A espécie desempenha um papel essencial na cadeia alimentar oceânica, similar ao das anchovas em águas mais quentes.

O capelim sofreu quedas em números no passado, mas possui um truque que ajuda a salvar sua demografia: a grande quantidade de ovos que produzem lhes permite recuperar rapidamente suas populações em comparação a outras espécies. No entanto, essa abundância também os torna altamente vulneráveis à predação, especialmente durante a migração para áreas de desova nas areias do fundo oceânico, a profundidades que variam entre dois e 100 metros.

A ciência e o monitoramento

Conforme explicado pelos pesquisadores do MIT, foi utilizada uma tecnologia avançada de sonar, chamada Ocean Acoustic Waveguide Remote Sensing (OAWRS), com a qual foi possível acompanhar os movimentos desses peixes em uma vasta área em tempo real. Eles contam que, na madrugada de 27 de fevereiro de 2014, o OAWRS revelou como os capelins, inicialmente dispersos, se agruparam em um gigantesco banco de 23 milhões de indivíduos.

Aquele fenômeno de agrupamento permitiu aos cientistas observar um comportamento natural dos capelins, que conseguem coordenar seus movimentos quando atingem uma densidade crítica.

Embora formar cardumes permita aos capelins economizar energia e, em alguns casos, evitar os predadores, essa concentração também os torna um alvo muito atraente.

Dessa forma, assim que o gigantesco cardume de capelins se formou, um grupo de bacalhaus, estimado em 2,5 milhões de peixes, iniciou a "caçada". Os cientistas observaram que as ondas de densidade que se moviam através de ambas as populações pareciam estar sincronizadas, mostrando uma interação dinâmica entre caçadores e presas em uma escala sem precedentes.

Por que é importante

Um evento tão singular como este é muito importante. Embora esse tipo de predação massiva não represente uma ameaça direta para as populações de capelins, já que sua migração anual na região inclui bilhões de indivíduos, os cientistas expressam certa preocupação com o impacto das mudanças climáticas.

Aparentemente, a perda de áreas de desova devido ao aumento das temperaturas globais pode estar limitando os espaços seguros para esse tipo de espécie, o que, por sua vez, poderia ter consequências graves para todo o ecossistema marinho do Atlântico Norte, afetando o equilíbrio natural da região.

A tecnologia de sonar utilizada, o OAWRS, é capaz de distinguir entre espécies pelas diferentes frequências de ressonância, permitindo aos cientistas identificar com precisão os sinais de cada tipo de peixe. Como explicou Nicholas Makris, do MIT, em comunicado, as bexigas natatórias dos peixes emitem ressonâncias semelhantes a sinos. Assim, descobriram que as dos bacalhaus são graves, enquanto as dos capelins produzem sons agudos. Essa distinção tem sido fundamental para o estudo detalhado desses fenômenos de predação massiva e abre portas para uma melhor compreensão da ecologia marinha.

Imagem | NASA, Nicholas Makris

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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