Estudo revela qual é o segredo da baleia-da-Groenlândia para viver mais de dois séculos sem câncer

Apesar de ser um animal gigante, a baleia-da-Groenlândia apresenta mecanismos de reparo do DNA muito mais eficientes e precisos do que observado em humanos

Baleia-da-Groenlândia nadando no mar. Créditos: Stanislav Stelmakhovich/GettyImages
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Considerado o segundo maior animal do planeta, a baleia-da-Groenlândia pode atingir 33 metros de comprimento, pesar cerca de 190 toneladas e viver mais de dois séculos. Além da impressionante longevidade, essa espécie chama a atenção por um outro motivo: a baixíssima incidência de câncer. Essa característica vai na contramão de uma das principais teorias sobre a doença, que sugere que quanto maior e mais velho o indivíduo, maiores seriam as chances de desenvolver câncer ao longo da vida. Um estudo publicado recentemente na revista Nature trouxe novas respostas para essa contradição científica, conhecida como Paradoxo de Peto, uma observação de que o risco de câncer não cresce proporcionalmente ao tamanho ou à expectativa de vida de um animal. 

O câncer é uma doença caracterizada pelo crescimento anormal de células

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o câncer é uma das principais causas de morte nas Américas. Em 2022, mais de 4,2 milhões de pessoas foram diagnosticadas com a doença no continente. Mas de que forma o câncer se desenvolve e se espalha no organismo?

Em termos simples, o câncer é caracterizado pelo crescimento anormal e descontrolado de células. Essas células se tornam mais agressivas e desordenadas, formando tumores que podem ser benignos ou malignos. Em geral, o processo começa com uma mutação genética que altera o funcionamento normal das células.

Mas, apesar de não saberem ao certo o que provoca o câncer, acredita-se que existe uma relação entre tamanho e longevidade do indivíduo no surgimento da doença. A medicina observa que o envelhecimento aumenta as chances de câncer devido ao acúmulo de danos no DNA ao longo do tempo. Já a relação entre o tamanho corporal e o desenvolvimento da doença é mais complexa: quanto maior o animal, mais células ele tem e, portanto, mais oportunidades para que surjam mutações. Isso levaria a crer que animais grandes e longevos deveriam apresentar mais casos de câncer. Mas, surpreendentemente, não é o que ocorre com as baleias.

Paradoxo de Peto: entenda por que grandes animais não apresentam índices de câncer proporcional ao seu tamanho

O Paradoxo de Peto é uma contradição médica que surgiu a partir da observação de que animais grandes e com alta longevidade, como baleias e elefantes, não apresentam taxas de câncer proporcionalmente mais altas do que animais menores. Isso contradiz a lógica biológica de que mais células implicariam em mais chances de mutação e, consequentemente, o surgimento de tumores.

A explicação mais aceita é que essas espécies desenvolveram, ao longo da evolução, mecanismos altamente eficientes de supressão do câncer, sistemas de proteção celular e reparo genético muito mais eficazes do que os observados em humanos.

Estudo revela porque baleias-da-Groenlândia conseguem viver tanto tempo sem câncer, apesar do tamanho

Um estudo publicado em 29 de outubro, na revista Nature, revelou algumas pistas que podem ajudar a entender o porquê da baleia-da-Groenlândia ser tão resistente ao câncer. Segundo os pesquisadores, essa espécie possui mecanismos de reparo do DNA muito mais eficientes e precisos do que os de outros mamíferos, o que torna suas células mais “equipadas” para resistir às mutações associadas à doença.

Os cientistas analisaram diversos fatores relacionados à transformação maligna de fibroblastos primários (células do tecido conjuntivo) das baleias. Eles descobriram que essas células exigem menos mutações do que as células humanas para sofrerem transformações cancerígenas. Mas o segredo para manter o animal saudável está proteína CIRBP ("proteína de ligação ao RNA induzida pelo frio" em inglês) capaz de corrigir mutações por meio de recombinação homólogas e a junção de pontas não homólogas. 

Testes em células humanas

Ainda não se sabe como transformar essa habilidade das baleias em tratamento contra o câncer em humanos, mas há uma esperança. Testes em laboratório mostram que a CIRBP foi capaz de melhorar o reparo de células humanas que sofreram mutação, reduzindo as anomalidades cromossômicas. Vamos torcer para os cientistas conseguirem transformar essa descoberta em cura. 

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