Na nossa galáxia, faltam planetas. Mais especificamente, faltam planetas de tamanho médio, maiores que a Terra, mas menores que Netuno. Para alguns astrônomos, a explicação para esse fenômeno está na hipótese dos “planetas encolhedores”: planetas que diminuem até se tornarem um pouco maiores que o nosso. Mas o motivo e o processo desse encolhimento eram um mistério. Até agora.
De acordo com um estudo, a resposta a essas perguntas pode estar no interior dos planetas, no seu núcleo. Mais precisamente, na radiação que ele emite. Segundo a nova hipótese proposta por uma equipe de pesquisadores, a radiação do núcleo planetário empurraria e expulsaria os gases da superfície do planeta. Isso faria com que, de fato, o volume do planeta diminuísse e ele encolhesse.
O vale sem planetas
A questão que essa hipótese tenta resolver, em última instância, é o chamado problema do vale do raio. Na nossa galáxia, existem vários planetas com um raio apenas um pouco maior que o da Terra (1,4 vez maior), as chamadas “superterras”. Também existem planetas com um raio significativamente maior que o da Terra (2,5 vezes maior), os “mini-Netunos”.
Mas, entre esses dois tamanhos, há um vazio. Ele tem sido explicado com base em várias hipóteses. Uma delas propõe que planetas desse tamanho nem sempre conseguem manter sua atmosfera, que tende a desaparecer, deixando um planeta gasoso de tamanho sub-netuniano transformado em um planeta rochoso menor. Ou seja, um planeta encolhendo.
Perda de massa impulsionada pelo núcleo
Um planeta pode perder sua atmosfera por diferentes motivos, geralmente relacionados ao fato de que precisa de massa para "reter" essas moléculas: o vento solar, os próprios movimentos das moléculas de gás… No entanto, os pesquisadores responsáveis pelo estudo mais recente acreditam que a origem do problema está no interior.
Ou melhor, que a energia que "expulsa" essas moléculas da área de influência gravitacional do planeta vem de seu núcleo. Essa energia emanaria do núcleo planetário em forma de radiação "e essa radiação empurra a atmosfera de baixo para cima", explica em um comunicado à imprensa Jessie Christiansen, coautora do estudo.
Kepler ao resgate
A hipótese da perda impulsionada pelo núcleo é uma das duas explicações possíveis para o fenômeno da perda de atmosfera. A segunda é a da fotoevaporação, que propõe que os ventos solares arrastam a atmosfera.
O estudo recente utilizou dados compilados pelo telescópio espacial Kepler para reunir evidências a favor de uma das hipóteses. O telescópio tomou como referência dois grupos de estrelas: as Híades e o aglomerado de O Presépio.
Os pesquisadores consideraram que, embora a fotoevaporação seja um processo rápido, a expulsão nuclear não é tão veloz. Por isso, e devido à relativa juventude das estrelas analisadas, concluíram que a abundância de sub-Netunos nesses grupos estelares era uma evidência de que o responsável pelo desaparecimento dos pequenos sub-Netunos estava em seu próprio núcleo.
Um mistério ainda por resolver
As evidências parecem sustentar a hipótese, mas o mistério que cerca esses exoplanetas ainda persiste. Talvez precisemos esperar por instrumentos mais potentes para estudar melhor os planetas que compartilham a Via Láctea conosco.
Enquanto isso, o James Webb, o telescópio espacial projetado para observar o universo mais distante, pode nos ajudar. Em novembro, ele nos forneceu informações importantes sobre a atmosfera de um exoplaneta, o WASP-107b.
Observações semelhantes de alguns dos mais de 5.000 planetas descobertos até agora poderiam nos ajudar a validar essa teoria ou até mesmo a propor outras hipóteses que expliquem por que alguns planetas encolhem de tamanho, ou então por que existe esse misterioso vazio estatístico no diâmetro planetário.
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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