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A Alemanha está instalando esferas gigantes de concreto no fundo do mar; o motivo é nobre: armazenar energia renovável

O Instituto Fraunhofer desenvolveu um sistema de armazenamento submarino que aproveita a própria pressão do mar como fonte de energia

Alemanha armazena energia solar. Imagem: StEnSea
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Enquanto França e Alemanha reforçam suas alianças energéticas com uma nova aposta na energia nuclear, dentro do território alemão uma abordagem totalmente diferente está ganhando forma. O foco está nas profundezas do oceano, com o objetivo de reinventar a maneira como armazenamos energia renovável.

No fundo do mar

Um grupo de pesquisadores do Instituto Fraunhofer, na Alemanha, criou o projeto StEnSea — sigla para Stored Energy at Sea. Desde 2011, a equipe vem trabalhando numa solução para reduzir o uso de solo, e chegou a uma conclusão ousada: afundar esferas gigantes de concreto no leito marinho para armazenar energia.

Como funciona

Essas esferas são colocadas entre 600 e 800 metros de profundidade, onde a pressão da água é tão intensa que consegue girar turbinas com altíssima eficiência. Cada esfera tem cerca de 9 metros de diâmetro e pesa por volta de 400 toneladas. A proposta é que funcionem como baterias colossais. Quando a água do mar entra, ela gira uma turbina conectada a um gerador. Para recarregar, a água é bombeada para fora da esfera, usando energia da rede elétrica para vencer a pressão do ambiente.

Original Um exemplo de como seria

Um teste real

O sistema já foi colocado à prova com sucesso no Lago de Constança e agora o próximo passo está previsto para 2026. A expectativa é instalar um protótipo em escala real, impresso em 3D, na costa de Long Beach, na Califórnia. Esse modelo será capaz de gerar cerca de 0,5 megawatts e armazenar até 0,4 megawatt-hora, o suficiente para abastecer uma casa média nos Estados Unidos por aproximadamente duas semanas.

A proposta para o futuro é ambiciosa

Os pesquisadores pretendem construir esferas muito maiores, com até 30 metros de diâmetro, capazes de armazenar volumes significativamente maiores de energia. De acordo com informações publicadas na NewAtlas, o custo estimado de armazenamento gira em torno de 5 centavos de dólar por quilowatt-hora, um valor extremamente competitivo em relação a outras soluções disponíveis atualmente.

As renováveis na Alemanha

Mesmo que o clima não pareça o mais favorável, o país tem apostado fortemente na energia solar, principalmente por meio de instalações de autoconsumo. Mas existe um desafio importante no caminho: a produção intermitente, fenômeno conhecido como Dunkelflaute. É justamente por isso que projetos como o StEnSea ganham destaque. Eles funcionam como um amortecedor do sistema elétrico, armazenando o excesso de energia renovável para liberá-lo nos momentos em que a demanda é maior.

E as hidrelétricas?

Diferente do armazenamento por bombeamento tradicional — que depende de montanhas e grandes volumes de água doce — o StEnSea não precisa nem de elevações, nem de recursos hídricos limitados. Seu design modular permite que ele seja instalado em litorais ao redor do mundo. Além disso, oferece uma vantagem econômica poderosa: possibilita o chamado arbitragem energética, comprando eletricidade quando está barata e revendendo nos picos de demanda, quando o preço sobe.

Previsões

Os pesquisadores acreditam que essa tecnologia está apenas arranhando a superfície do seu potencial. Estimam que, se for implantada em larga escala, poderia alcançar uma capacidade global de armazenamento de cerca de 817 mil gigawatts-hora. Em termos mais concretos, isso seria suficiente para abastecer, durante um ano inteiro, aproximadamente 75 milhões de lares na Europa.

Apesar de o projeto ser apresentado como uma solução para evitar o uso intensivo do solo, ele ainda transfere essa ocupação para o fundo do mar.

Até o momento, o foco tem sido predominantemente técnico, mas espera-se que nas próximas fases sejam incluídas avaliações ambientais rigorosas, capazes de medir com precisão o impacto sobre os ecossistemas oceânicos.

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