Muitos países do norte do mundo estão enfrentando a falta de talento e mão de obra jovem, devido a populações muito envelhecidas. Ao mesmo tempo, temos níveis recordes de estresse em todo o mundo. Um dos países que se destaca em ambos os aspectos é a Coreia do Sul.
Como solução para o primeiro problema, chegou-se a propor trabalhar seis dias por semana. Mas isso seria totalmente contraproducente: aumentaria o esgotamento dos trabalhadores, que já é um drama atualmente. Portanto, o novo plano segue uma direção totalmente oposta: testar a semana de trabalho de quatro dias, que trouxe muitos benefícios a outros países.
Cabe dizer que a Coreia do Sul já possui uma das jornadas de trabalho mais longas do mundo, mas a sociedade e alguns setores caminham na direção oposta, e muitos cidadãos estão deixando de lado essas exigências exaustivas. O Severance é o primeiro hospital da Coreia do Sul a testar a semana de trabalho de quatro dias, com o objetivo de melhorar a conciliação entre a vida profissional e pessoal de seus funcionários, e agora é possível acompanhar a evolução do plano.
Como funciona a semana de quatro dias na Coreia do Sul
No Severance, aqueles que optarem por essa jornada ganharão menos dinheiro: alguns funcionários do hospital podem ter três dias de folga por semana em troca de uma redução salarial de 10%, segundo reportagem da Al Jazeera. Além disso, o pessoal se revezará em rotações semestrais, após as quais retorna à semana de trabalho de cinco dias.
Ou seja, o plano é muito mais rígido do que o adotado por empresas na Europa, que geralmente mantêm os mesmos benefícios da jornada de cinco dias para a equipe que escolhe a jornada reduzida. Mesmo assim, os resultados têm sido muito positivos.
Conclusões: tudo está indo muito melhor
O programa parece ter melhorado a saúde e o bem-estar do pessoal de enfermagem, aprimorado a qualidade dos serviços médicos, impulsionado a eficiência organizacional e reduzido a rotatividade de funcionários, de acordo com o Instituto de Trabalhadores da Coreia – Centro Sindical, em um relatório sobre o andamento do experimento.
Segundo o relatório, a rotatividade de pessoal de enfermagem com menos de três anos de experiência caiu de 19,5%, comum no passado, para 7% atualmente. As licenças médicas médias por funcionário também diminuíram. Com menos cansaço, as pessoas adoecem menos, algo que outros experimentos semelhantes já haviam demonstrado.
Uma funcionária comentou a respeito, afirmando que a semana de trabalho de quatro dias não apenas melhorou seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal como também a ajudou a se concentrar mais e a ser mais atenciosa com os pacientes.
O setor de saúde enfrenta níveis de estresse muito elevados, já que suas funções têm grande responsabilidade. No caso dessa funcionária, ela conta que trabalha em uma área onde “muitos pacientes enfrentam situações críticas” e agora percebe que “sente que pode dedicar mais tempo para ouvir os pacientes e atendê-los com maior responsabilidade”.
Esse hospital não é o único. Há ventos de mudança em um país onde é considerado sucesso trabalhar jornadas extremamente longas. Há um ano, na província de Gyeonggi, a mais populosa do país, foi anunciado um plano para tentar reduzir a carga de trabalho dos cidadãos em 2025: aos trabalhadores de mais de 50 organizações na província, foi dada a opção entre uma semana de trabalho de quatro dias a cada duas semanas ou uma jornada reduzida toda semana, segundo informou a agência de notícias Yonhap.
Uma mudança radical que pode servir de exemplo para toda a Coreia
Este experimento representa uma transformação radical na cultura laboral de um país onde se trabalha até 52 horas por semana (desde 2018; antes disso, eram permitidas até 68 horas semanais). A Samsung, uma das empresas emblemáticas do país, pediu no ano passado que seus funcionários fossem ao escritório seis dias e descansassem apenas um: após uma queda nas vendas e a forte concorrência no setor de semicondutores, seus diretores solicitaram mais horas de trabalho. Em 2023, a empresa havia testado a jornada de quatro dias uma semana por mês.
Na Coreia do Sul, quem fica até tarde trabalhando costuma ser considerado um bom funcionário. Os trabalhadores sul-coreanos registraram uma média de 1.865 horas em 2024, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o sexto maior número entre os países desenvolvidos e bem acima da média da OCDE, que é de 1.736 horas. Trabalharam 248 horas a mais que os japoneses, país vizinho também conhecido por suas longas jornadas.
Apesar disso, jornadas mais curtas estão se expandindo gradualmente no setor privado. Algumas empresas, especialmente do setor tecnológico e startups, vêm experimentando semanas de trabalho de quatro ou quatro dias e meio há vários anos, o que equivale a reduzir as jornadas para 32 horas.
O presidente sul-coreano, Lee Jae-myung, também se pronunciou sobre o tema. Durante sua campanha, Lee comprometeu-se a reduzir a jornada de trabalho para abaixo da média da OCDE até 2030 e a introduzir uma semana de quatro dias e meio. Em uma coletiva de imprensa realizada em julho, Lee reiterou que os sul-coreanos precisavam trabalhar menos, destacando que um sistema de longas jornadas com baixa produtividade era insustentável.
Imagem | Foto de Sava Bobov (Unsplash)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Genbeta.
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