Enquanto outros fabricam por precaução, Apple fabrica na última hora há 25 anos, copiando um método japonês dos anos 50

  • A Apple não fabrica com antecedência: ela produz exatamente quando você precisa.

  • Modelo foi adotado há 25 anos, inspirado no método japonês Just In Time.

  • Benefícios econômicos são apenas mais uma parte dos que vêm com o método.

Imagem | Foxconn
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Fabricar "por precaução" significa enviar centenas de produtos para a produção sem saber se venderão bem, ganhando margem de manobra e evitando que os consumidores tenham que esperar se a demanda for alta, mas correndo o risco de ficar com produtos que não venderão se a demanda for baixa. A Apple está fugindo de tudo isso.

Cada iPhone, MacBook ou Apple Watch entra na linha de produção na hora certa. Como se todo o seu maquinário mundial funcionasse com a pontualidade de um trem japonês. E não é coincidência.

Por trás dessa fórmula, há uma decisão que a Apple tomou há mais de 25 anos, inspirada pela Toyota, que nos anos 50 foi forçada a não desperdiçar nada. O resultado foi o método JIT, que consiste essencialmente em fabricar apenas o necessário.

Método JIT nasceu em tempos de escassez

Engenheiro da Toyota inventou método JIT (Imagem: Toyota) Engenheiro da Toyota inventou método JIT (Imagem: Toyota)

Na década de 1950, após a Segunda Guerra Mundial, o Japão enfrentava uma crise de abastecimento devido à falta de recursos, além de limitações de espaço devido ao alto custo de armazenagem e da forte concorrência internacional.

Nesse contexto, ter grandes armazéns cheios de peças e produtos que não seriam comprados era algo que poucos fabricantes podiam arcar. Na Toyota, o engenheiro industrial Taiichi Ohno desenvolveu uma solução que parecia temporária e que acabou se consolidando: o método JIT.

Significa "just in time" e podemos traduzir como "bem na hora". A Toyota, que precisava continuar produzindo carros, mas tinha recursos muito limitados, inspirou-se na filosofia de alguns supermercados de reabastecer somente quando o produto acabasse.

A ideia foi transferida para as fábricas, que começaram a trabalhar sob demanda, em desempenho máximo somente quando recebiam um grande pedido ou estimavam que, devido às necessidades do momento, conseguiriam prosseguir com a produção dos veículos.

Foi a maneira pela qual a empresa conseguiu não desperdiçar materiais nem tempo. Essa fórmula permitiu que ela continuasse produzindo com eficiência em tempos de crise e, anos depois, foi copiada por inúmeras empresas, como Apple e Nintendo. Esta última, muito fiel à estratégia de estoque esgotado.

Vantagens que a Apple obtém com o método JIT

Quando a Apple lança um novo iPhone em setembro, o maquinário global já foi orquestrado com meses de antecedência. As peças chegam exatamente quando precisam ser montadas e o produto final sai quase imediatamente para as lojas. Não há tempo para que estejam nas prateleiras. É o método JIT.

A empresa aplica esse método em suas fábricas desde a época de Steve Jobs. E, embora seja um método eficaz, também não é perfeito. Para que isso funcione, todos os fornecedores da cadeia de suprimentos devem estar bem integrados, o que, sabendo que dispositivos como o iPhone têm peças de dezenas de fornecedores ao redor do mundo, não é fácil.

Um atraso em um porto, uma greve ou um aumento nas tarifas podem afetar toda a cadeia de produção. Por isso, diante da guerra tarifária de Trump contra a China, a empresa está aumentando sua produção na Índia.

Graças a esse método, a Apple consegue não ficar com produtos obsoletos ou que acabarão sendo descontinuados em poucos meses, algo que outras rivais sofrem, forçadas a liquidar estoques ou armazenar produtos que não foram vendidos, reduzindo margens de lucro.

Um exemplo disso são os iPhones da linha "Pro", que não permanecem no catálogo por mais de um ano, portanto, fabricar um excesso de unidades pode trazer prejuízos para a empresa. Ela pode vendê-los a distribuidores para que estes possam colocá-los à venda ao consumidor final, mas corre o risco de perder uma alta margem do lucro que obteria como padrão se os tivesse vendido no prazo. Portanto, preferem fabricar menos.

Com esse método, tanto a Apple quanto demais empresas que utilizam o método JIT não só conseguem economia de custos com o produto, como também obtêm redução de custos em outras áreas, como armazenamento e otimização de fluxo de caixa.

Outro ponto importante é que a empresa obtém agilidade operacional para atender às novas demandas do mercado. Por exemplo, se os iPhones começarem a apresentar uma queda inesperada na demanda, a Apple pode ajustar rapidamente a produção sem sobrecarregar o estoque sem necessidade.

O que começou como uma estratégia de sobrevivência no Japão do pós-guerra, hoje é uma das chaves que permitem que empresas como a Apple liderem o mercado global de tecnologia com eficiência quase cirúrgica.

Via | Unfold

Imagem da capa | Foxconn

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