A Apple continua buscando formas de reduzir sua dependência da China. Em uma recente conversa com investidores, Tim Cook confirmou que a maioria dos iPhone que serão vendidos nos Estados Unidos nos próximos meses será fabricada na Índia. É mais um passo no processo de diversificação que a empresa iniciou silenciosamente, mas que já mostra resultados: metade dos seus iPhone para o mercado norte‑americano já sai de fábricas no país liderado por Narendra Modi.
Porém, a estratégia não foi bem recebida em todas as frentes. Durante uma aparição pública no Catar, como parte de sua turnê pelo Oriente Médio, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou ter tido “um pequeno problema com Tim Cook”. Suas palavras, registradas em vídeo e disponíveis no YouTube, revelaram um claro descontentamento com o rumo que a Apple vem tomando.
Segundo o próprio relato, ele teria dito ao CEO da Apple: “Você vai investir 500 bilhões, mas agora descubro que está construindo por toda a Índia. Eu não quero que você construa na Índia".
O presidente foi além em sua declaração. Afirmou que, depois de anos aceitando que a Apple montasse fábricas na China, agora a expectativa é que essa produção seja transferida para solo estadunidense.
“Queremos que você construa aqui. Não nos interessa que você continue se expandindo na Índia”, disse em tom direto, o que pode marcar uma nova fase na relação entre a nova administração e a companhia de Cupertino, que, aliás, é uma das maiores do mundo em valor de mercado.
O que ainda não está claro é se esse gesto terá algum efeito na estratégia de diversificação industrial da Apple. A empresa segue produzindo a maior parte de seus iPhone na China e, atualmente, não fabrica smartphones nos Estados Unidos.

De acordo com Dan Ives, analista da Wedbush Securities, transferir toda a produção para o país de origem da Apple seria proibitivamente caro tanto para a empresa quanto para os consumidores. Em declarações separadas, divulgadas pelo The Guardian, especialistas da Evercore também observaram que a economia americana "não está pronta" para montar uma linha de produção de celulares: não possui a infraestrutura nem a mão de obra especializada necessária.
O tabuleiro comercial se move (de novo)
Em paralelo à tensão entre a Apple e o Executivo, o cenário comercial internacional foi abalado pelo regime de tarifas recíprocas anunciado pela administração dos EUA em 2 de abril. Esse pacote impunha novos tributos a importações de vários países e chegou a elevar as taxas sobre produtos chineses a 145%. No entanto, esse regime encontra‑se hoje suspenso.

Após um avanço nas negociações entre Washington e Pequim, ambos os governos acordaram uma trégua de 90 dias nas tarifas adicionais. Durante esse período, mantém‑se uma alíquota-base de 30% sobre importações vindas da China, ainda superior à aplicada a outros países como Índia ou Vietnã, que permanecem em 10% sob a mesma pausa.
Será que isso vai aliviar a pressão que faz muitas multinacionais acelerarem a transferência de suas cadeias de suprimentos para fora da China? O descongelamento comercial abre uma janela de oportunidade, mas também gera incertezas. As empresas de tecnologia continuarão diversificando sua produção ou vão esperar para ver como o cenário, cada vez mais volátil, se desenrola? A Apple, em particular, terá de ponderar com muito cuidado seus próximos passos.
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