Como cofundador da Microsoft, Bill Gates foi um dos responsáveis pela revolução tecnológica que tornou realidade o mantra de "um computador em cada mesa e em cada lar". Atualmente, o bilionário é apenas um espectador privilegiado, mas atento, da evolução e das repercussões da inteligência artificial no curto e médio prazo.
Gates foi o convidado do último episódio do podcast Possible, apresentado por Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, e Aria Finger. No programa, o bilionário compartilhou sua visão sobre o potencial transformador dos agentes de IA no ambiente de trabalho. Segundo Bill Gates, a chegada das ferramentas de IA mudará radicalmente a forma como trabalhamos.
Do escritório à fábrica
Gates destacou sua surpresa com a velocidade na adoção de aplicações de IA em soluções reais para empresas, especialmente entre os chamados "empregados de colarinho branco", que desempenham funções administrativas e de escritório. "A IA está tornando as coisas mais fáceis para aqueles que trabalham em escritórios redigindo relatórios legais ou diagnósticos", afirmou Gates durante a entrevista.
Gates demonstrou convicção de que esse impacto também afetará, em menos de cinco anos, os "trabalhadores de colarinho azul" que atuam nas linhas de montagem da indústria manufatureira. "Os robôs de 'colarinho azul' já estão sendo implementados na construção civil, na entrega de mercadorias, nos serviços de restaurantes e na limpeza de quartos", afirmou o bilionário. Essa mudança não apenas levanta questões sobre a estabilidade do emprego, mas também inicia um debate sobre como as pessoas irão se adaptar a esse novo cenário.
Rumo a uma nova era de agentes de IA personalizados
Refletindo sobre o mantra "um computador em cada mesa e em cada lar", dos primeiros dias da Microsoft, Bill Gates acredita que a inteligência artificial também se tornará amplamente acessível aos usuários.
Em seus comentários, o bilionário está alinhado com os últimos movimentos da Microsoft, afirmando que cada pessoa terá seu próprio agente de inteligência artificial personalizado.
Gates explicou que, graças ao uso da linguagem natural, esses agentes poderão realizar tarefas complexas e específicas sem a necessidade de software especializado. "A ideia é que você possa se sentar e iniciar um diálogo sobre dados de uma maneira muito enriquecedora. Todos teremos um agente que nos ajudará a realizar tarefas… seu agente pode identificar quais partes são suficientemente importantes para você dedicar seu tempo a compreendê-las", comentou Gates durante sua participação.
O impacto da IA no emprego
As palavras de Bill Gates trouxeram novamente à tona os alertas de alguns dos principais nomes por trás da atual revolução da IA, como Sam Altman, que preveem um impacto significativo no mercado de trabalho.
Segundo uma pesquisa realizada pela plataforma de empregos ResumeBuilder no final de 2023, 37% das empresas que já utilizam IA afirmaram que a tecnologia já substituiu alguns de seus funcionários. Além disso, 44% das 750 empresas consultadas acreditavam que a IA causaria demissões em 2024.
Reid Hoffman, cofundador da maior rede social profissional da atualidade, compartilha do diagnóstico feito por Sam Altman durante sua participação no podcast Unconfuse Me, de Bill Gates: o trabalho, como o conhecemos hoje, deixará de existir em uma década. No entanto, nesse período de transição, os empregos atuais terão ganhos significativos em produtividade.
Os dados apontam para grandes mudanças
Diversos estudos de organismos europeus têm sido publicados com o objetivo de avaliar o impacto da IA no mercado de trabalho. Todos estão alinhados com as previsões de Bill Gates, Sam Altman e Reid Hoffman ao afirmar que a IA trará melhorias na produtividade e grandes transformações no emprego.
De acordo com o relatório "Generative AI and the future of work in America", elaborado pela McKinsey, cerca de 12 milhões de trabalhadores nos Estados Unidos poderão precisar mudar de emprego até 2030, influenciados, direta ou indiretamente, pela chegada da IA.
O Banco Central Europeu, em seu estudo "New Technologies and Jobs in Europe", sugere que a chegada da IA aos ambientes de trabalho pode gerar "efeitos entre neutros e ligeiramente negativos nos rendimentos dos trabalhadores".
Em um contexto mais local, o estudo "IA e Mercado de Trabalho na Espanha", da Randstad, estima que a IA destruirá cerca de dois milhões de empregos, mas criará 1,6 milhão, resultando em um saldo negativo de 400 mil empregos na Espanha.
Imagem | Unsplash (Arif Riyanto), Flickr (The Aspen Institute)
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