4 contra um: BYD briga com montadoras no Brasil e quem pode se dar mal é você

Volkswagen, Stellantis, GM e Toyota vão contra pedido de BYD para reduzir o imposto de importação sobre carros trazidos do exterior em estado semi-pronto

carro da marca BYD
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Laura Vieira

Redatora
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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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A disputa entre montadoras está esquentando no Brasil, mas quem pode sair perdendo disso é o próprio consumidor. De um lado, a gigante chinesa BYD, que vem ganhando espaço com seus carros elétricos. Do outro, quatro tradicionais fabricantes que atuam no país: Volkswagen, Stellantis, GM e Toyota. O motivo da briga? A redução de impostos para veículos trazidos do exterior em estado semi-pronto, o que beneficiaria diretamente a BYD. A tensão gerou críticas públicas, trocas de farpas e reacendeu a competitividade do setor.

Entenda como tudo começou

A competitividade é algo inerente no mercado! É natural que ocorra interação entre empresas que buscam oferecer produtos e serviços melhores e mais atraentes para os consumidores, impulsionando a inovação e a busca por uma diferenciação no mercado. A briga do momento começou justamente devido a essa dinâmica. De um lado, a BYD, empresa que produz carros elétricos no país com modelos semi-montados, e do outro, montadoras nacionais, que realizam toda a produção dentro do Brasil.

O estopim da discussão foi o pedido da BYD para que o governo reduzisse impostos de importações sobre os carros em estado semi-pronto. Em fevereiro, ela propôs uma alíquota de 10% para veículos elétricos que chegassem parcialmente montados (SKD) e de 5% para modelos ainda mais desmontados (CKD). A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no entanto, foi contrária a essa ideia.

Veja as diferenças entre CKD, SKD e CBU

  • CKD: Completamente desmontado (Completely Knocked-Down, em inglês) — as peças do carro vêm prontas, mas são montadas no país de destino.
  • SKD: Parcialmente desmontado (Semi Knocked-Down, em inglês) — As peças vem pré-montadas, pintadas e com acabamento. A montadora só realiza a etapa final de montagem.
  • CBU: O carro é trazido totalmente montado (Completely Built Unit, em inglês).

Anfavea argumenta que isenção afetaria montadoras tradicionais

Em julho deste ano, a BYD iniciou a operação de sua fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia, com modelos semi-acabados (SKD). A empresa defendeu a redução do imposto, alegando que a atividade já gerou investimentos e empregos no país. As montadoras nacionais, porém, estão criticando esse tipo de regime, alegando que  a redução de imposto vai beneficiar a BYD e que não é justo com as fábricas que produzem e desenvolvem carros nacionalmente.

A tensão entre os rivais se intensificou quando a Volkswagen, Stellantis, GM e Toyota enviaram uma carta pedindo para que não fosse concedida a BYD a isenção de imposto. Segundo as montadoras tradicionais, essa prática causaria uma involução, pois não contribuiria para o nível tecnológico da indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional. Pelo contrário, poderia gerar desemprego, desequilíbrio na balança comercial e dependência tecnológica.  O modelo SKD, adotado nas fábricas da BYD, é o que exige menos mão de obra local, levando em consideração que os carros chegam ao país quase prontos.

“Por uma questão de isonomia e busca de competitividade, essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra”, diz a carta assinada pelos presidentes das quatro empresas.

A Anfavea reclama há anos da entrada em massa de veículos importados no Brasil. Afinal, esse mercado está crescendo cada vez mais no país e acirrando ainda mais a competitividade entre empresas nacionais e estrangeiras, como a BYD. Esse ano, a BYD está ocupando a 8° posição no ranking nacional de vendas, logo atrás da Honda e à frente da Renault e Nissan.

BYD rebate argumentação de montadoras rivais

A BYD também respondeu com uma carta a o pedido das montadoras tradicionais. Segundo a empresa chinesa, as montadoras tradicionais estão preocupadas em perder a posição de dominantes no mercado brasileiro, pois não conseguem competir com a tecnologia da marca e com os preços justos.  Contudo, o que mais chamou a atenção dos espectadores foi  o tom irônico utilizado na carta enviada pela BYD.

“A reação da Anfavea [associação dos fabricantes] e seus associados, infelizmente, não é novidade. Trata-se do velho roteiro de sempre: diante de qualquer sinal de abertura de mercado ou inovação, surgem as ameaças de demissões em massa, fechamento de fábricas e o fim do mundo como conhecemos”
Agora, chega uma empresa chinesa que acelera fábrica, baixa preço e coloca carro elétrico na garagem da classe média, e os dinossauros surtam. Não foi por acaso que uma concorrente reduziu o valor de um modelo elétrico em mais de 100 mil reais depois da chegada da BYD. Por que antes custava tanto?’ diz a BYD.

Além disso, a BYD alega que a redução dos impostos traria benefícios aos consumidores, já que a decisão reduziria os custos de produção dos veículos e os deixariam mais baratos. A sustentabilidade também foi outro fator comentado pela empresa, pois carros elétricos geram menos impacto ambiental do que carros a combustão.

Gecex atende em partes pedidos da Anfavea e da BYD

A decisão ficou a cargo da Gecex, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior. Na quarta-feira (30), em reunião extraordinária, tanto a Anfavea quanto a BYD tiveram seus interesses parcialmente atendidos. O Gecex não atendeu o pleito de reduzir para 10% o imposto de SKD e 5% o de CKD por três anos. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União.

No entanto, deliberou pela antecipação do cronograma de elevação tarifárias para veículos elétricos e híbridos desmontados importados e zerou, por seis meses, a importação de kits CKD e SKD no valor de US$463 milhões, o que permite a entrada desses veículos com imposto zero até janeiro de 2026 ou até que a cota seja esgotada. Após esse período, voltam a vigorar as alíquotas cheias, e passa a valer a exigência de 55% de conteúdo local para acesso às tarifas permanentes mais baixas, que variam entre 16% e 18% sobre os kits.

Previsto anteriormente para retomar os 35% apenas em julho de 2028 o imposto de importação para veículos eletrificados desmontados ou semi-desmontados (atualmente em 10% a 30%), terá a alíquota cheia a partir de janeiro de 2027, o que atende, parcialmente, a pedido da Anfavea, que gostaria do retorno imediato.

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