Uma cidade coberta por névoa e fumaça que saem de fissuras no chão, ruas abandonadas e um incêndio subterrâneo que queima eternamente. Parece a descrição do filme de terror Silent Hill, e não é coincidência: a cidade-fantasma de Centralia, na Pensilvânia (EUA), foi a inspiração direta para o roteirista da adaptação do jogo para o cinema em 2006.
A realidade de Centralia, no entanto, é um desastre ambiental e social que começou de forma banal há mais de 60 anos e transformou uma comunidade próspera em um campo vazio.
Como o incêndio começou
O desastre começou em maio de 1962. Na véspera do feriado do Memorial Day, a prefeitura de Centralia decidiu "limpar" o aterro sanitário da cidade, que fedia e incomodava os moradores. O método escolhido foi contratar bombeiros voluntários para simplesmente atear fogo ao lixo.
O problema era a localização do aterro: ele estava situado em uma mina de carvão a céu aberto abandonada. Uma abertura não selada no fosso permitiu que as chamas alcançassem o labirinto de túneis de minas de carvão antracito que se espalhava por baixo de toda a cidade. O fogo encontrou um suprimento de combustível quase infinito e nunca mais foi apagado.
O colapso da cidade
Durante anos, o fogo subterrâneo foi uma inconveniência, mas a vida continuou. A gravidade da situação só ficou clara para o mundo em 1981, quando um evento quase trágico chocou o país: Todd Domboski, um menino de 12 anos, foi quase engolido por uma cratera de 46 metros de profundidade que se abriu subitamente sob seus pés em seu quintal.
Ele só sobreviveu porque conseguiu se agarrar a uma raiz de árvore antes que seu primo o resgatasse, enquanto uma fumaça com níveis letais de monóxido de carbono saía do buraco.
Esse incidente foi o ponto de virada. O Congresso dos EUA alocou US$ 42 milhões em 1983 para os esforços de realocação. A população, que era de mais de 1.000 pessoas em 1980, começou a abandonar a cidade em massa. Em 1992, o estado da Pensilvânia invocou o "domínio eminente", condenando todas as propriedades e demolindo as casas à medida que ficavam vazias. O CEP da cidade foi oficialmente descontinuado em 2002.
Centralia continuará queimando
Hoje, Centralia é uma casca. No censo de 2020, a população oficial era de apenas cinco residentes — que, após uma longa batalha judicial, ganharam o direito de viver em suas casas até a morte. Onde antes havia ruas movimentadas, agora há apenas um traçado de asfalto cortando campos, com fumaça e vapor subindo de fissuras no solo em vários pontos.
A "Rodovia do Grafite" (Graffiti Highway), um trecho abandonado da Rota 61 que se tornou um ponto turístico bizarro, foi coberta por montes de terra em 2020 para impedir o acesso de visitantes.
E o fogo, que queima a temperaturas de mais de 500°C no subsolo, continua ativo. Especialistas estimam que há carvão suficiente para que o incêndio de Centralia continue queimando por até 250 anos.
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