Mãos que falam todas as línguas, streaming descentralizado e ensino de braile acessível: estudantes criam tecnologias de acessibilidade em 72h com Copilot

GitHub Universe 2025 destacou três projetos estudantis: luva tradutora de Libras, plataforma de streaming descentralizado e display tátil de Braille acessível

Foto: Divulgação/Github
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Vinicius Braga

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Vinicius Braga trabalha há mais de 20 anos com conteúdo digital. Sempre foi um entusiasta da tecnologia e sempre acreditou que inovação não é só sobre máquinas ou códigos, mas sobre pessoas. No Xataka Brasil, usa suas experiências com mídia digital, dados e inteligência artificial para aproximar o público das grandes transformações do mundo tech e mostrar como o futuro já está acontecendo e pode ser acessado por todos.

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Um hackathon é, em sua essência, uma maratona de invenção. Participantes surgem com ideias para robôs, aplicativos e websites, e então são desafiados a transformá-las em realidade. "É como uma maratona, mas todo mundo está programando", define um dos participantes. "É algo que você realmente não tem oportunidade de fazer em nenhum outro lugar. Você fica com essas pessoas por 36 horas trabalhando o mais duro que pode para entregar um produto do qual se orgulha". 

Durante o GitHub Universe 2025, que aconteceu em San Francisco entre 29 e 30 de outubro, ficou claro que esses eventos representam muito mais do que competições técnicas. O Xataka Brasil acompanhou todas as novidades apresentadas no evento, e três projetos estudantis provaram que hackathons são momentos transformadores que podem definir trajetórias inteiras. "O primeiro hackathon de alguém é o seu momento de revelação", explicou Jon Gottfried. "É a coisa que os coloca nesse caminho criativo. Eles saem, conseguem um estágio, conseguem um emprego, começam a contribuir para a comunidade open source".

O contexto educacional que permite essa explosão criativa é impressionante. O GitHub Education já deu a 11 milhões de estudantes e professores em todo o mundo acesso às mesmas ferramentas que movem as maiores empresas do planeta, incluindo o Copilot. Através de parcerias com organizações como Hack Club e Major League Hacking, o GitHub consegue colaborar com alguns dos solucionadores de problemas mais interessantes da próxima geração. "É uma forma muito melhor de aprender do que sentar em uma sala de aula apenas escrevendo notas e ouvindo palestras", comentou um estudante. O Copilot, nesse contexto, democratiza o acesso a conhecimento técnico avançado permitindo que jovens desenvolvedores foquem em resolver problemas complexos em vez de tropeçar em problemas simples ou bibliotecas desconhecidas. "Ser capaz de fazer um projeto desde a ideação até o desenvolvimento final e implementação é uma das experiências mais valiosas que consegui", relatou outro participante. Três projetos apresentados no palco principal do GitHub Universe mostram exatamente essa nova geração em ação e todos compartilham um fio condutor: tecnologia como ferramenta de inclusão e acessibilidade.

Crazy Controllers: quando mãos falam todas as línguas

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Jaden e Elliot subiram ao palco com uma pergunta provocadora: "E se suas mãos pudessem falar qualquer idioma? Da língua de sinais até a linguagem dos jogos, música e da própria expressão?" A resposta veio na forma do Crazy Controllers, uma luva que traduz ações humanas em ações digitais. Inspirados pela icônica Power Glove dos videogames, eles criaram uma manopla capaz de reconhecer diferentes gestos das mãos. A tecnologia por trás é sofisticada: sensores de flexão instalados ao longo dos dedos capturam a resistência que muda conforme os dedos se dobram. Esses valores são enviados via Bluetooth para um laptop, em que uma rede neural é feita em TensorFlow (uma biblioteca de código aberto do Google para inteligência artificial) e processa a posição da mão e diferencia os gestos sendo executados. A interface gráfica exibe a probabilidade de cada gesto treinado estar sendo performado.

Na demonstração ao vivo, Elliot mostrou as primeiras letras da Língua de Sinais Americana (ASL). Conforme mudava os sinais, a interface era atualizada em tempo real para refletir o gesto sendo executado, abrindo caminho para que a luva funcione como ferramenta de tradução para pessoas que se comunicam em língua de sinais. Mas o projeto também tem um lado lúdico: os criadores programaram a luva para controlar jogos como o famoso jogo da cobrinha, transformando gestos em comandos de movimentação. O mais impressionante, porém, foi a velocidade de desenvolvimento. "Nunca tínhamos usado PyQt antes", revelaram. "O Copilot nos ensinou a sintaxe enquanto digitávamos." Durante o Hack Club's Unders City, eles foram de zero a um projeto GUI funcional em apenas 72 horas. Provando que a barreira de entrada para criar tecnologias de acessibilidade está cada vez mais baixa.

Crisis Lens: streaming descentralizado em momentos críticos

Brian e Alia trouxeram ao palco uma reflexão urgente sobre comunicação em tempos de crise. "Redes sociais são ferramentas incríveis para conexão", começaram. "Mas quando uma crise acontece, aqueles que mais precisam ser ouvidos, as pessoas no local, frequentemente não conseguem romper as barreiras". Censura, algoritmos e políticas mutáveis de plataformas se tornam obstáculos justamente quando comunidades precisam de imagens cruas, sem filtros e em tempo real. A solução criada por eles foi o Crisis Lens, uma plataforma peer-to-peer de streaming ao vivo e open source que coloca a comunicação de crises nas mãos de quem a está vivenciando.

Na demonstração, vimos uma interface de mapa interativa em que usuários podem clicar em marcadores de bloqueio de ruas para entender quais rotas estão afetadas. Incidentes de serviços emergenciais também aparecem mapeados. O sistema desenvolveu um algoritmo para determinar zonas de perigo, visualizando áreas afetadas de forma clara. Transmissões passadas ficam arquivadas e acessíveis, e um ícone específico indica quando há uma live acontecendo na área do usuário naquele momento. Durante a apresentação, eles mostraram uma transmissão ao vivo dos bastidores do próprio evento. Uma demonstração prática da tecnologia funcionando em tempo real.

O aspecto técnico também impressionou. "Criamos isso usando LivePeer, que nunca tínhamos usado antes", explicaram. "O Copilot ajudou a entender o SDK em inglês simples. Também suavizou alguns obstáculos ao conectar os metadados do Firebase ao Mapbox." A plataforma descentralizada garante que o controle permaneça com quem está transmitindo, não com corporações que podem aplicar moderação arbitrária. Em um mundo em que informação confiável em tempo real pode salvar vidas durante desastres naturais, conflitos ou emergências de saúde pública, o Crisis Lens representa uma ferramenta poderosa de democratização da comunicação.

Braillearn: democratizando o acesso ao Braille

Cindy e Allison, do NW Hacks, abordaram uma questão que poucos param para pensar: globalmente, apenas uma pequena porcentagem da população cega consegue ler Braille. O motivo? Displays táteis recarregáveis (refreshable Braille displays) custam valores proibitivos, colocando-os fora do alcance de muitas pessoas que precisam deles. "Construímos o Braillearn, que permite que pessoas com deficiência visual aprendam Braille sem precisar da ajuda de uma pessoa com visão", apresentaram.

O sistema funciona em dois modos integrados. No modo de display, o usuário pode falar ou digitar um caractere ou palavra. "Obrigado", disse Cindy durante a demo. "De nada", respondeu o sistema. A caixa então soletra cada caractere em Braille usando pontos elevados fisicamente. Ao sentir os pontos em relevo, o aprendiz começa a reconhecer palavras e caracteres familiares através do tato. O aplicativo é completamente amigável a teclado e leitor de tela, garantindo acessibilidade total. O sistema também oferece módulos de aprendizado estruturados com quizzes que ajudam o usuário a aprender Braille de forma intuitiva e progressiva.

Quando código encontra propósito

O que conecta esses três projetos vai além da inovação técnica: é o foco deliberado em acessibilidade e inclusão. Crazy Controllers dá voz a quem usa a língua de sinais. Crisis Lens amplifica vozes silenciadas em momentos críticos. Braillearn democratiza o acesso à alfabetização tátil. Todos foram construídos em questão de horas, não meses. E todos demonstram como hackathons funcionam como laboratórios de empatia tecnológica, em que jovens desenvolvedores não apenas aprendem a programar, mas aprendem a programar com propósito.

O papel do GitHub Copilot nessa equação é fascinante. Em vez de substituir criatividade ou julgamento humano, ele elimina a fricção técnica que impede ideias de se tornarem realidade. Enquanto o Copilot gera código C para Arduino, explica SDKs complexos e constrói componentes de interface, os estudantes focam no que realmente importa: quem vai usar essa tecnologia? Qual problema real estamos resolvendo? Como garantir que funcione para todos? "Ver adolescentes construindo coisas das quais não percebiam que eram capazes", comentou um dos organizadores. "É difícil não se sentir otimista sobre o futuro." Essa geração não está apenas aprendendo sintaxe e bibliotecas, está aprendendo que tecnologia sem propósito é apenas código. E que as melhores soluções nascem quando você coloca ferramentas poderosas nas mãos de pessoas que se importam profundamente com os problemas que estão tentando resolver.


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