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A queda da Intel simboliza o fim de uma era: o modelo que dominou a tecnologia por 50 anos morreu

A Intel perdeu mais de um terço do seu valor nos últimos dez anos. Nesse período, a NVIDIA multiplicou seu valor por 240. Uma transformação brutal

Intel colhe os frutos de más decisões no passado / Imagem: Intel
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin é jornalista.

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Os números geralmente não mentem, especialmente no longo prazo. E as cifras da Intel na última década mostram um recuo histórico — o declínio alarmante de um gigante.

Em 2015, a capitalização de mercado da Intel era nove vezes maior que a da NVIDIA. Quase dez anos depois, a NVIDIA — primeira empresa da história a ultrapassar quatro trilhões de dólares em valor — vale 41 vezes mais que a Intel, que encolheu num período em que foi ultrapassada por muitas empresas que antes eram menores.

Essa mudança brutal simboliza uma nova era tecnológica:

  • A ascensão da NVIDIA, primeiro pelas vendas de GPUs para mineração de criptomoedas e depois pelo uso no treinamento de modelos de IA.
  • O declínio da Intel, devido à sua irrelevância na era móvel, ao crescimento de concorrentes em CPUs e à migração de Microsoft e Apple para a arquitetura ARM.

Texas Instruments, Qualcomm e AMD também ultrapassaram a Intel.

Em 2006, a Intel recusou fabricar chips para o iPhone porque considerava a Apple pequena demais. No mesmo ano, a Intel tentou comprar a NVIDIA por 20 bilhões de dólares, mas Jensen Huang recusou a oferta.

Hoje, é possível ver que essas decisões prejudicaram completamente a trajetória da Intel. No início do século, a companhia sempre figurava entre as 10 maiores empresas do mundo em capitalização de mercado e, agora, está perto de sair do top 200.

A ameaça

A recente e dura admissão do CEO da Intel, Lip-Bu Tan, de que a empresa nem sequer está mais entre as 10 maiores fabricantes de semicondutores, diz muito sobre sua situação.

A empresa que alimentou a revolução do PC, que criou o ecossistema Wintel que dominou por décadas e era sinônimo de inovação americana, hoje vale menos que Spotify, Coinbase ou Iberdrola.

Os 5.500 novos cortes de empregos anunciados pela Intel são mais do que um simples ajuste ou redução.

  • Na Califórnia, quase 2.000 empregos desaparecerão.
  • No Oregon, quase 3.000.
  • No total, 20% da força de trabalho será demitida.

Os trabalhadores que, por décadas, desenvolveram a tecnologia que movia o mundo, agora se tornaram dispensáveis.

A reviravolta

A Intel terceirizou para a TSMC 30% de sua produção para 2025. É paradoxal para uma empresa que se orgulhava de sua integração vertical, controlando tudo desde o design até a fabricação. E que agora depende do seu rival taiwanês para sobreviver. É uma rendição simbólica: o rei da fabricação pedindo ajuda a quem lhe tomou o trono.

A estratégia de migrar para a IA Edge anunciada por Tan soa como um refúgio de última hora. “Já é tarde demais para nós”, admitiu o CEO. Não é apenas reconhecer a derrota para a NVIDIA, mas admitir a perda na corrida mais importante deste século: a da inteligência artificial.

E outra ironia: a China representa 29% da receita da Intel, mais que qualquer outro mercado. A empresa mais icônica da tecnologia americana depende mais da China do que do seu próprio mercado.

Ponto de inflexão

O processo 18A, que deve salvar a Intel até 2025, gera algumas dúvidas. Se fracassar, a Intel ficará sem sua última carta para competir com a TSMC. Se tiver sucesso, será uma vitória parcial, pois estará chegando cinco anos atrasada na batalha.

Essa queda da Intel também simboliza outra coisa: o fim do modelo de integração vertical em chips que a Intel representava, frente ao modelo de especialização da NVIDIA.

A Intel projeta e fabrica. A NVIDIA projeta, mas deixa a fabricação nas mãos da TSMC. E é aí que está o problema para o Ocidente: a fabricação avançada está concentrada na Ásia, e o valor se redistribui.

Imagem | Intel

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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