Uma das construções mais conhecidas e apreciadas da Suécia, a igreja luterana de Kiruna, foi transferida para um novo endereço a cerca de cinco quilômetros de distância do seu antigo lugar de origem. O deslocamento da estrutura de 672 toneladas, construída em madeira em 1912 e considerada um símbolo da cidade, começou na terça-feira (19/8) e terminou na quarta-feira (20/8) do mês passado, e foi acompanhada por milhares de moradores, turistas e até pelo atual rei da Suécia, Carl XVI Gustaf. A mudança foi motivada pela expansão da maior mina subterrânea de minério de ferro do mundo, que avança e ameaça engolir o antigo centro da cidade.
Mineração motivou deslocamento de igreja
Kiruna, cidade localizada a 145 quilômetros ao norte do Círculo Polar Ártico, abriga a maior mina subterrânea de minério de ferro em operação no mundo. Contudo, o crescimento da exploração provocou rachaduras em ruas e prédios da região e tornou instável o terreno onde ficava a igreja. Para permitir que a mina continue em expansão e evitar riscos de desabamento, autoridades de Kiruna decidiram mover a igreja e todo o centro da cidade. A operação, custeada pela mineradora estatal LKAB, integra um projeto dos anos 2000 que prevê a realocação de cerca de 3 mil casas e 6 mil moradores para uma nova área segura. De acordo com o The Guardian, o valor custeado pela empresa para realizar o deslocamento da igreja foi de 500 milhões de coroas suecas, o equivalente a R$290 milhões.
Kiruna está sendo alterada há alguns anos devido consequências da mineração
O processo de mudança da cidade começou em 2004, quando os primeiros sinais de instabilidade no solo foram identificados. Desde então, dezenas de prédios históricos já foram içados e transportados sobre plataformas motorizadas. No total, até julho deste ano, 25 edifícios já foram deslocados, enquanto outros 16, incluindo a igreja, ainda aguardavam a mudança. A transferência da igreja se tornou o momento mais simbólico desse projeto, tanto pela imponência da estrutura, com 40 metros de altura, quanto pelo valor histórico e cultural.
Entenda como igreja será movida
Para conseguir realizar o deslocamento, a estrutura de 672 toneladas foi erguida sobre vigas de aço e posicionada em dois reboques especiais, com plataformas controladas remotamente. O transporte ocorreu a uma velocidade média de meio quilômetro por hora, exigindo o alargamento de ruas (de 9 para 24 metros), a retirada de postes e a adaptação de uma ponte.
Além da madeira que compõe a estrutura principal, a igreja preserva também um patrimônio artístico de grande importância: o altar pintado pelo príncipe sueco Eugen. Além disso, dentro da igreja também há um órgão com mais de 2 mil tubos, um grande instrumento musical de teclado que produz som através do sopro de ar. Todos permaneceram no interior da igreja durante a movimentação e foram estabilizados para não sofrer danos. A realocação foi transmitida pela televisão sueca como um espetáculo nacional, chamado de “a grande caminhada da igreja”, o que reforça o impacto histórico de tal feito. A seguir, veja o vídeo mostrando o deslocamento:
Deslocamento da igreja recebeu críticas
Embora a mudança de lugar da igreja seja celebrada como um marco da engenharia, nem todos da região compartilham do mesmo entusiasmo. Para o povo indígena sami, que vive da criação de renas no norte da Escandinávia, a expansão da mina representa uma ameaça às rotas tradicionais de migração do animal. A mudança da igreja, portanto, simboliza não apenas a preservação de um patrimônio arquitetônico, mas também a transformação de um território para a cultura sami.
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