Há apenas uma década, a China exibiu com orgulho seu primeiro porta-aviões, o Liaoning. E, na realidade, nem era realmente próprio: Pequim havia comprado da Ucrânia o casco de um velho navio soviético inacabado e o remodelado para treinar tripulações. Era mais um experimento do que uma verdadeira ferramenta de poder naval.
Hoje, a Marinha Chinesa já conta com três porta-aviões em serviço e acaba de inaugurar o maior e mais avançado do mundo com propulsão convencional: o Fujian (Tipo 003). Esse colosso de mais de 80.000 toneladas incorpora tecnologias que até pouco tempo atrás eram exclusivas dos EUA, como as catapultas eletromagnéticas (EMALS) e os aviões de alerta antecipado de asa fixa, capazes de ampliar o alcance de seus radares e o controle do espaço aéreo.
De um casco soviético a um superporta-aviões próprio
O Fujian não é apenas o terceiro porta-aviões chinês: é o primeiro projetado e construído inteiramente no país. Com mais de 80.000 toneladas, supera de longe o Liaoning e o Shandong, que dependem de rampas para lançar aeronaves. A grande novidade são suas três catapultas eletromagnéticas (EMALS), capazes de impulsionar aeronaves pesadas em poucos segundos e com muito mais eficiência do que os sistemas convencionais.
Graças a elas, o Fujian pode operar não apenas caças de combate, mas também aeronaves especializadas como o KJ-600, um avião de alerta antecipado de asa fixa que multiplica o raio de vigilância da frota e permite coordenar ataques a longas distâncias. Até agora, essa capacidade estava restrita aos porta-aviões estadunidenses.
O outro grande protagonista do vídeo de apresentação do porta-aviões Fujian é o J-35, o novo caça furtivo embarcado de quinta geração. Com design bimotor e compartimentos internos para mísseis de longo alcance, apresenta-se como a resposta chinesa ao F-35C estadunidense. Sua entrada em produção em série indica que a aviação naval chinesa já não depende de cópias, mas de desenvolvimentos próprios.
Combinados com o KJ-600, os J-35 permitem planejar operações conjuntas em rede, compartilhando informações e estendendo a bolha defensiva da frota a centenas de quilômetros além. Segundo o analista militar Song Zhongping (SCMP), o Fujian pode “lançar rapidamente o número máximo de aeronaves”, algo impossível com as rampas dos porta-aviões anteriores.
Mais alcance, mais pressão no Pacífico
Esse salto não é apenas técnico, também é estratégico. Segundo declarou Lu Li-Shih, ex-capitão da marinha taiwanesa ao veículo de comunicação SCMP, o Fujian estende o raio de ação da China para além da primeira cadeia de ilhas (Japão, Taiwan e Filipinas) e projeta sua sombra sobre a segunda cadeia, onde se encontra Guam, uma das principais bases dos EUA no Pacífico.
É a primeira vez que Pequim pode propor um desafio real à supremacia naval estadunidense na região. Embora, como lembram especialistas como Ray Powell, coronel aposentado da Força Aérea dos EUA, Washington ainda mantenha vantagem no que não se copia: décadas de experiência em combate, tripulações altamente treinadas e uma rede logística global.

O Fujian é um ponto de partida. A China já desenvolve o Tipo 004, um superporta-aviões de propulsão nuclear que poderia superar as 110.000 toneladas e embarcar até 100 aeronaves, incluindo drones de combate como o GJ-11. Sua entrada em serviço pode ocorrer por volta de 2030.
Assim, em uma década, a China passou de rebocar um casco soviético enferrujado a projetar porta-aviões com catapultas eletromagnéticas e sonhar com um gigante nuclear. O Fujian marca um antes e um depois no poder naval chinês e redefine o tabuleiro do Pacífico.
Imagens | SCMP, New China TV
Este texto foi traduzido/adaptado do site Motorpasión.
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