A Airbus prepara uma asa para aviões comerciais capaz de mudar de forma durante o voo

O objetivo é validar tecnologias para o futuro avião de corredor único; tecnologia começa a ser testada em 2026

Airbus faz testes / Imagem: Airbus
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Uma asa que muda em pleno voo e uma fabricante que quer reinventar a aviação de curto e médio alcance. A Airbus se prepara para testar em condições reais um conceito que vem sendo desenvolvido há algum tempo em seus programas de pesquisa. Não se trata de um exercício de laboratório: a empresa marcou 2026 como a data para a primeiro decolagem de seu demonstrador (protótipo ou veículo experimental criado para testar, validar e demonstrar novas tecnologias ou conceitos antes de serem aplicados em produtos comerciais).

Os testes servirão para explorar se essa tecnologia pode ser aplicada em aeronaves de corredor único (aviões de passageiros que têm apenas uma fileira de assentos com um único corredor central). O desafio é ambicioso: lançar as bases do que será o grande sucessor do A320.

Para a fabricante, o X-Wing é uma peça dentro de um quebra-cabeça tecnológico muito maior. A empresa trabalha com motores disruptivos, materiais recicláveis e plataformas inteligentes e precisa decidir quais combinações oferecem mais vantagens. A asa capaz de modificar sua forma se mostra como a candidata ideal para demonstrar economia de combustível e melhorias no comportamento em voo. Mais do que um protótipo isolado, é um banco de testes concebido para confrontar modelos teóricos com dados obtidos em operações reais.

Um laboratório voador

A fabricante decidiu transformar um Citation VII em um laboratório voador. A aeronave, habitualmente usada na aviação executiva, recebeu uma asa de grande envergadura que imita, em escala reduzida, a de um futuro avião comercial. Para unir ambos os elementos, foram projetadas caixas de transição específicas que, além de garantir a resistência estrutural, oferecem espaço para combustível e o sistema de pouso. Essa solução permitiu contornar as limitações de uma fuselagem não fabricada pela Airbus e deixar o demonstrador pronto para voar.

O ponto-chave do demonstrador está em como a asa se adapta às condições do voo. Para evitar que essa maior envergadura traga mais peso, os engenheiros incorporaram uma dobradiça semiaeroelástica nas pontas, capaz de se liberar em situações de turbulência intensa e assim reduzir as cargas estruturais. Ao mesmo tempo, a parte traseira da asa inclui três flaps com pequenos tabuladores que podem se mover de forma independente e rápida. Com essa combinação, o perfil da asa muda, otimizando a sustentação e reduzindo o arrasto em cada fase do voo.

A companhia europeia quis que o demonstrador refletisse a filosofia de seus aviões de linha e substituiu o sistema convencional de comandos por um fly-by-wire completo. Todas as superfícies, desde os ailerons até os estabilizadores traseiros, passam a ser controladas por atuadores elétricos vinculados a computadores de controle. O aparelho será operado remotamente a partir do solo, sem necessidade de tripulação a bordo, o que permite realizar testes mais exigentes.

Airbus

Antes de voar, o X-Wing precisa superar uma bateria de testes em solo. A fabricante europeia planeja ensaios de vibração estrutural e de carga da asa ainda este ano, passos necessários para validar o projeto. A Airbus solicitou à autoridade de aviação civil francesa (DGAC) a permissão de voo, que permitirá operar a partir de Cazaux, ao sul de Bordeaux. O calendário prevê testes na pista no segundo trimestre de 2026 e uma primeira decolagem no meio do ano, com voos previstos sobre o Golfo da Biscaia, na costa da França.

Além da asa, o roteiro da Airbus inclui motores e sistemas energéticos de nova geração. Entre eles destaca-se o open fan, desenvolvido com a CFM, que busca uma melhoria de eficiência de dois dígitos e será validado em voo com um A380 antes do final da década. A fabricante também aposta em ampliar o uso de combustíveis sustentáveis para até 100% e em introduzir arquiteturas híbridas. Estas últimas permitirão utilizar eletricidade em tarefas a bordo e reduzir ainda mais as emissões de cada trajeto.

Airbus

A inovação não se limita à asa nem ao motor: também alcança os materiais. A Airbus está testando compósitos termoplásticos avançados que prometem tornar a estrutura mais leve e, ao mesmo tempo, mais sustentável. Em comparação com os compósitos atuais, estes podem ser reciclados com maior facilidade e permitem ciclos de fabricação mais ágeis. O projeto MFFD serviu como banco de testes, mostrando que é possível reduzir peso sem aumentar custos. A planta de Filton, no Reino Unido, tornou-se um dos centros nevrálgicos dessa transformação.

O futuro avião não será construído apenas com asas mais eficientes ou motores diferentes, também dependerá de um sistema digital comum que forneça novas capacidades. A empresa europeia trabalha em plataformas conectadas capazes de se atualizar em tempo real, integrar aplicações e antecipar falhas com manutenção preditiva. A automação também terá um papel crescente na assistência ao piloto e nas operações em solo. O X-Wing é, nesse sentido, uma peça inicial de um quebra-cabeça maior: demonstrar quais tecnologias estão maduras e quais precisam esperar antes de dar o salto comercial.

Imagens | Airbus

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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