O avanço dos carros elétricos parecia imparável, impulsionado por baterias com preços cada vez mais acessíveis. É uma democratização que depende, em grande parte, de um fornecimento constante de lítio, esse “ouro branco” que se tornou o núcleo da disputa. Mas uma areia na engrenagem — ou melhor, uma montanha — acabou travando o mecanismo.
O gigante chinês CATL, fornecedor essencial de quase todos os fabricantes de automóveis, da Peugeot à Tesla, colocou em pausa sua maior mina de lítio. E essa notícia claramente abalou toda a cadeia do setor.
CATL: um gigante em parada forçada
É um verdadeiro choque para a indústria. A mina de Jianxiawo, localizada na província de Jiangxi, silenciou. Este imenso local de extração, responsável sozinho por 6% da produção mundial de lítio, teve sua licença de operação revogada pelas autoridades chinesas.
A paralisação é abrupta e deve durar, no mínimo, três meses, tempo necessário para a CATL se adequar às exigências administrativas.
Essa mina não é apenas mais um local de extração. É, simplesmente, o coração pulsante do fornecimento para o número 1 mundial em baterias. O Bank of America estima, aliás, que as outras minas dessa região estratégica representam mais 5% da oferta global. Ou seja, quando Jiangxi “pega um resfriado”, toda a cadeia de valor do carro elétrico corre o risco de ficar com pneumonia. O efeito imediato não se fez esperar: as ações de empresas concorrentes, tanto chinesas quanto australianas, dispararam, e o preço do carbonato de lítio saltou.
Pânico nos mercados, mas será que há motivo para preocupação?
Nas bolsas, a efervescência é total. O preço do carbonato de lítio subiu 3% em apenas um dia na última segunda-feira, alcançando seu nível mais alto desde fevereiro de 2025. Um aumento que, a longo prazo, pode se refletir no preço de nossos futuros carros.
Então, devemos temer uma escassez iminente de baterias para nosso Peugeot e-208 ou nosso Renault 5 elétrico? Os especialistas pedem calma.
Eugene Hsiao, analista da Macquarie Capital, procura tranquilizar quanto ao gigante chinês, como explicou à Bloomberg:
“Para a CATL, não prevemos impacto operacional significativo na produção de baterias em decorrência da suspensão da mina de Jiangxi.”
O verdadeiro desafio, portanto, não é a capacidade da CATL de cumprir seus pedidos, mas sim o equilíbrio precário de todo o ecossistema. Segundo Eugene Hsiao, esse fechamento “gera menos preocupações para a CATL do que para a cadeia de suprimentos de lítio como um todo, que poderia ver sua capacidade reduzida”. Um sentimento compartilhado por outros observadores, que temem um efeito em cascata.
Zhang Weixin, da China Futures Co, alerta:
“Se as interrupções na produção se espalharem para outras minas em Yichun após 30 de setembro, o preço do lítio poderá subir ainda mais.”
A mão invisível de Pequim?
Além da simples questão administrativa, há outra dinâmica ocorrendo nos bastidores. Essa decisão se insere em um contexto de excesso de capacidade de produção na China, e muitos enxergam a mão do governo tentando retomar o controle. Analistas do Citigroup Inc. mencionam uma manobra mais ampla:
“Acreditamos que isso possa fazer parte da iniciativa anticrise regressiva do governo.”
Em outras palavras, Pequim estaria dando um basta na situação. O objetivo seria duplo: pôr fim a uma exploração desordenada e, sobretudo, “reavaliar o preço de seus recursos estratégicos a longo prazo”. Uma forma de garantir que o lítio seja extraído e vendido a um preço justo, ou seja, um preço que atenda aos interesses chineses.

Esse fechamento surpresa lembra, aliás, outras demonstrações de força, como a suspensão das exportações de terras raras em maio de 2025, que paralisou várias fábricas europeias. A famosa estratégia de pressão para lembrar ao mundo quem realmente controla a indústria de carros elétricos. A questão que se coloca agora é até onde Pequim está disposto a ir para consolidar sua dominação…
Este texto foi traduzido/adaptado do site JV Tech.
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