Inteligência Artificial no poder: Albânia inova com nomeação de ministra gerada por IA

Conhecida como Diella, nomeação da ministra gerada por IA é simbólica, mas reacende dilemas éticos 

Ministra gerada por IA nomeada pela Albânia. Créditos: Divulgação
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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A inteligência artificial está cada vez mais presente no cotidiano. Seja através de assistentes virtuais, como a Alexa, em sistemas de buscas, como o Meta IA do Google, ou até em posições de trabalho que antes eram ocupadas por humanos, como operador de caixa. Mas parece que a inteligência artificial está dando passos cada vez mais largos e ocupando novos lugares. No dia 11/9, Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia, anunciou a nomeação de uma ministra gerada por inteligência artificial para ocupar um cargo no governo. A decisão, inédita na história, levantou questões éticas sobre o uso de IA no mercado de trabalho e o que a nomeação representa. 

Diella: conheça a ministra da Albânia gerada por IA e sua principal função 

Apelidada de Diella, a nova ministra virtual já era conhecida pelos Albaneses. Em janeiro deste ano, ela foi implementada como assistente virtual do governo, auxiliando a população a agilizar processos burocráticos envolvendo a emissão de documentos e serviços, por comando de voz em um chatbot no site e-Albânia, um portal oficial do país. De acordo com dados oficiais da Albânia, Diella já ajudou a emitir 36,6 mil documentos, além de prestar quase mil serviços desde que assumiu a função no portal. 

Agora, contudo, ela foi promovida para um cargo ainda mais importante: o de ministra. Ela é o primeiro membro do governo criado por inteligência artificial. Mas quais serão as principais atribuições de Diella no cargo? A principal será supervisionar licitações públicas, com o objetivo de verificar se as propostas estão em conformidade com parâmetros legais e administrativos. Com isso, ela vai garantir uma maior transparência nas transações e processos de compra, reduzindo casos de corrupção

A medida tomada por Edi Rama não foi atoa. Com as atribuições de Diella no cargo de ministra, ele pretende diminuir casos de corrupção no país, um critério fundamental para a entrada do país na União Europeia. 

Entenda os dilemas éticos por trás da nomeação de um ministro gerada por IA 

Para Giovanna Gregori Pinto, fundadora da People Leap, uma startup focada em descomplicar processos de RH em startups de tecnologia em crescimento, a nomeação de Diella foi totalmente simbólica. Isso porque ela não realiza de fato as funções de uma ministra, como formular e implementar políticas públicas, coordenar atividades da administração federal e expedir instruções para a execução de leis. "Na verdade, sua função no cargo é exclusivamente técnica e restrita, sem exercer nenhum papel de liderança", afirmou.

Se a Inteligência Artificial realmente fosse uma ministra de verdade, a nomeação enfrentaria uma série de dilemas éticos, além de outros riscos. Entre elas, Giovana aponta:

  • Accountability: em um cenário envolvendo a nomeação de ministros gerados por IA, quem responderia por erros ou abusos cometidos por suas decisões? Sem sujeito jurídico, cria-se um vácuo de responsabilidade;
  • Legitimidade democrática: cargos de liderança exigem representatividade política e capacidade de negociação com diferentes atores sociais, algo que um algoritmo não pode cumprir;
  • Opacidade decisória: mesmo que eficiente, a IA pode reproduzir tendências ou tomar decisões sem transparência, impossibilitando a contestação cidadã;
  • Redução da deliberação política: um ministro humano é também um mediador social e político. Com a nomeação de um ministro gerado por IA, isso transformaria o cargo em função meramente técnica, esvaziando sua dimensão democrática.

Nomeação coloca em risco o mercado de trabalho? 

Apesar de algumas profissões estarem sendo substituídas por IA, como operadores de caixa de lojas de conveniência, será que, em casos de cargos de liderança, como a de um ministro, isso também se aplica? É bem provável que não. Isso porque a inteligência artificial não é capaz de atuar como um ser humano, já que não possui as soft skills que são fundamentais no mercado de trabalho, como inteligência emocional, resiliência, pensamento crítico e criatividade. Isso se acentua ainda mais quando nos referimos a cargos políticos e públicos, que requerem um papel de liderança, representação ou deliberação política.

No entanto, apesar da nomeação não colocar em risco cargos trabalhistas, o mercado de trabalho vai se transformar com a inteligência artificial: é inevitável!  Na verdade, o que já está acontecendo e deve se acentuar ao longo dos anos é a implementação da inteligência artificial para potencializar e facilitar o serviço, como na automação de tarefas repetitivas. Além disso, a inteligência artificial também proporcionará a criação de novos empregos que exigem habilidades tecnológicas e análise de dados. Em discurso realizado na última quinta-feira (18/09), a ministra gerada por IA afirmou que seu objetivo não é “substituir humanos, mas ajudá-los”. 

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