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O medo não era perder o emprego pra IA — era ficar preso no começo enquanto ela avança

  • A inteligência artificial começou a automatizar as tarefas mais simples e repetitivas. Justamente aquelas que eram feitas pelos funcionários que estavam em fase de aprendizado.

  • De acordo com dados sobre desemprego juvenil nos EUA, essa automação pela IA pode estar por trás do aumento do desemprego entre os recém-formados.

inteligência artificial rotina dia a dia. Imagem:  Unsplash (Mushvig Niftaliyev)
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

Milhares de estudantes da geração Z correm o risco de não conseguirem dar dar início à carreira profissional por conta das Inteligências Artificiais. No entanto, o cenário atual tem se mostrado cada vez mais desafiador para quem busca essa primeira oportunidade.

A dificuldade para ingressar no mercado de trabalho não se deve apenas às instabilidades econômicas geradas pela incerteza comercial. A inteligência artificial já começa a assumir funções que, até agora, eram desempenhadas por estagiários e profissionais em início de carreira — cargos que tradicionalmente serviam como porta de entrada para recém-formados.

Essa base da “escada profissional” está se quebrando

Como destacou Aneesh Raman, responsável por oportunidades econômicas do LinkedIn, em artigo para o The New York Times, “o primeiro degrau da escada profissional está se desfazendo”. Essa mudança ameaça deixar muitos jovens sem espaço para aprender e desenvolver suas habilidades nos primeiros anos da carreira.

Como apontou a revista Fortune em 2024, com a IA já realizando essas tarefas, as empresas encontram menos motivos para contratar esses profissionais em formação.

Atualmente, a IA atua principalmente como uma ferramenta de apoio para aliviar a carga de trabalho dos funcionários mais experientes, automatizando tarefas rotineiras. Em grandes empresas de tecnologia, como Amazon, Google e Microsoft, a inteligência artificial está sendo implementada para auxiliar desenvolvedores em tarefas administrativas ou na geração de pequenos trechos de código, funções que até agora faziam parte do processo de aprendizado dos profissionais juniores.

A geração Z já está sentindo o impacto

Chris Hyams, CEO do Indeed, afirmou na Fortune’s Workplace Innovation Summit que: “A boa notícia é que não existe trabalho em que a IA consiga desempenhar todas as habilidades exigidas. Isso não significa que a IA não vá substituir trabalhadores, mas ela não pode substituir uma função por completo”.

No entanto, Hyams explicou que “em aproximadamente dois terços de todos os empregos, 50% ou mais das habilidades requeridas são tarefas que a IA generativa atual consegue executar razoavelmente bem, ou até muito bem”. Ou seja, a IA não elimina os cargos, mas reduz a necessidade de muitas tarefas básicas que antes eram usadas para treinar os novos funcionários.

Sobre os dados de desemprego juvenil nos EUA, o ritmo de adoção da IA no mundo corporativo está sendo mais acelerado nos Estados Unidos do que em outros países. Segundo o The Atlantic, o Federal Reserve de Nova York alertou para o aumento do desemprego entre os recém-formados, que chegou a 5,8%, e 6,2% entre os trabalhadores mais jovens. Ou seja, algo está acontecendo nos cargos de entrada no mercado.

Ainda não há provas definitivas de que a IA seja a única responsável pelo enfraquecimento desse primeiro degrau da carreira dos jovens, mas a tendência está clara: as oportunidades para aprender trabalhando nas posições iniciais estão desaparecendo nos setores que mais implementam IA, enquanto empresas como Duolingo e Shopify adotam políticas que limitam a contratação de jovens para tarefas rotineiras que a IA pode executar.

Exigir funcionários qualificados, mas não formá-los

Paralelamente à criação dessa barreira formativa imposta pela automação, empresas ao redor do mundo denunciam uma crescente escassez de mão de obra qualificada. Segundo dados recentes da União Europeia divulgados pela Euronews, a falta de trabalhadores com experiência e habilidades avançadas se tornou um dos principais desafios para a economia.

Esse fenômeno cria uma paradoxa: enquanto os jovens não encontram oportunidades para se desenvolver dentro das empresas, começando pelos processos mais simples, as empresas não conseguem preencher suas vagas com pessoal qualificado.

Se essa tendência se consolidar, daqui a alguns anos a IA não terá deixado milhões de trabalhadores desempregados. Na verdade, terão sido as próprias empresas que impediram a formação de profissionais qualificados e com a experiência necessária para supervisionar o trabalho da IA que está sendo desenvolvida.

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