Em 1993, ele tomou um golpe do dono de uma loja de computadores; só agora, ele montou o computador com que sonhava

A restauração de um valioso IBM PS/1 2168 se tornou uma forma de acertar contas com a adolescência

Computador / Imagem: FABIEN SANGLARD
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Em 1993, um garoto de 14 anos apaixonado por informática conseguiu que sua mãe, que criava a família sozinha, fizesse um enorme esforço para comprar um PC para ele e seu irmão. Para eles, foi uma revelação: programar em BASIC, mexer com arquivos de inicialização como CONFIG.SYS e AUTOEXEC.BAT, instalar placas ISA, experimentar o Deluxe Paint e descobrir joias como Dune II e Syndicate. Aquele computador era outro mundo.

Mas logo veio a decepção. O vendedor havia lhes dado um 486, um Cyrix 486SLC-25 MHz, que na verdade era pouco mais que um 386 disfarçado. Jogos como DOOM ou Strike Commander mal rodavam, aos solavancos, em uma janelinha minúscula. Enquanto isso, o vizinho se gabava de um IBM PS/1 2168 com processador 486DX2-66 MHz, onde ambos os jogos funcionavam com total fluidez. Era como comparar uma motoneta com uma Ferrari.

O PS/1 2168 se tornou um objeto de desejo: elegante, robusto e caríssimo. Ajustando para a inflação, aquele modelo custaria hoje mais de 6.000 dólares (R$ 31 mil). Mas a IBM acabaria abandonando o mercado de computadores de mesa após o fracasso da linha Aptiva. Com isso, desapareceu também a oportunidade de ter aquele computador em particular.

A revanche, 30 anos depois

Três décadas depois, aquele adolescente —agora engenheiro e colecionador— decidiu acertar as contas com seu passado. E, como conta em seu blog, Fabien Sanglard resolveu finalmente se presentear com o computador com que sonhava em 1993 e, no inverno de 2024, partiu em busca de um IBM PS/1 2168-594 DX2-66 MHz.

O 2168 é um modelo muito procurado, o que encarecia sua aquisição. Mas, após semanas de busca no eBay, ele o encontrou na Finlândia: com caixa original, manuais e até a base cinza que completava sua estética corporativa da IBM.

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Convencer o vendedor a não usar a caixa original como embalagem foi quase tão importante quanto a compra em si. No final, o negócio foi fechado e a máquina chegou são e salva. E a aventura de restauração, que durou de janeiro a abril de 2025, se tornou muito mais do que um projeto pessoal.

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Um design à frente de seu tempo

O IBM PS/1 2168 era especial. Em contraste com as torres retangulares e austeras da época, este modelo se apresentava como uma mini-torre com alça de transporte na parte superior, algo que hoje associamos a estações de trabalho como o Mac Pro ou as ThinkStation da Lenovo. Suas bordas arredondadas, o painel frontal com persiana deslizante para ocultar as baias de 5,25” e o contraste de cores bege, cinza e azul conferiam um ar de modernidade que transmitia excelência.

O teclado não ficava atrás: o lendário IBM Model M, considerado por muitos o melhor teclado da história, com seu som inconfundível “clicky” e construção indestrutível. Um periférico que, por si só, se tornou objeto de culto entre colecionadores e entusiastas.

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A restauração: de fóssil a fera do DOOM

O equipamento chegou com vários problemas: ferrugem, unidade de disquete quebrada e desempenho fraco. A primeira meta era simples: fazê-lo ligar. Mas, uma vez conseguido isso, a ambição começou a crescer aos poucos.

Embora caro, o 2168 não era um computador fechado. Seu design permitia expansão por meio de baias livres e interfaces ISA, além de um socket Overdrive para atualizar o processador. Até o próprio código do modelo (2168) fazia referência ao número de baias e slots de expansão disponíveis. Em uma época em que muitos clones soldavam tudo à placa-mãe, a IBM oferecia um caminho de crescimento ordenado.

Os manuais eram outro ponto a destacar: nada de folhetos genéricos. A IBM entregava verdadeiros livros que ensinavam como manter e melhorar a máquina, um valor agregado que raramente se via nos compatíveis da época.

Assim, nosso protagonista foi ajustando, pouco a pouco, o original:

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  • Expansão do cache L2: passou de 128 KiB para 256 KiB após várias tentativas e certo erro embaraçoso ao inserir chips mal alinhados. O resultado: um aumento de 15% no desempenho de DOOM.
  • Atualização do processador: após falhar com um arriscado Pentium Overdrive 83 MHz, o engenheiro optou por um Intel 486 DX4-100 MHz. Para fazê-lo funcionar, foi necessário gravar uma BIOS modificada criada por um entusiasta conhecido como Major Tom. Com isso, o FastDOOM alcançou quase 40 fps, o dobro do que atingia em 1993.
  • Som e música: o antigo Pro Audio Spectrum 16 foi substituído por uma Sound Blaster 16 ASP e complementado com uma placa PCMIDI conectada a um módulo Roland SC-55ST. Assim, os jogos passaram de ruídos FM para trilhas sonoras orquestrais que transformam a experiência.
  • Caixas de som: as escolhidos foram as Roland MA-12C, icônicas, bege e robustas, que completam a estética dos anos 90.
  • Periféricos: teclado IBM Model M, um mouse clássico e até um mousepad personalizado.

Além do DOOM: revivendo os anos 90

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Restaurar esse computador não foi apenas um exercício de nostalgia estética. O verdadeiro teste estava em reviver a experiência de jogo que aquele adolescente de 1993 não pôde ter.

Assim, com a máquina já funcionando e estável, chegou a melhor parte: instalar os jogos de sua coleção. Monkey Island rodou com qualidade de estúdio, Indiana Jones and the Last Crusade funcionou graças a patches e Strike Commander, após ajustes no CONFIG.SYS, finalmente rodou a 30 fps com todos os detalhes. Até mesmo Command & Conquer, exigente para um 486, pôde ser jogado após as melhorias.

E, desta vez, o DOOM rodou em tela cheia, fluido, com som envolvente e toda a glória que merece. A sensação era a de reviver, com 30 anos de atraso, aquilo que um golpe em 1993 havia tornado inalcançável.

Imagem | Marcos Merino via IA

Este texto foi traduzido/adaptado do site Genbeta.


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