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"5 minutos sem perder a amizade": neste país os habitantes trocam soco no natal para resolver suas desavenças e terminar o ano em paz

Mulheres, jovens e crianças também brigam, mas tudo em nome da fraternidade

Homens lutando no Takanuy | Fonte: Getty Images
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Vika Rosa

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Vika Rosa

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Jornalista com mais de 5 anos de experiência, cobrindo os mais diversos temas. Apaixonada por ciência, tecnologia e games.


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Enquanto a maior parte do mundo associa o dia 25 de dezembro a uma celebração de paz, harmonia e confraternização, em algumas comunidades nos Andes peruanos o espírito é um pouco diferente. Ali, o Natal é a data oficial para resolver desavenças pessoais, disputas de terra e dívidas não pagas da única forma que garante um novo ano tranquilo: trocando socos e chutes em público.

Esta é a essência do Takanakuy, uma tradição profundamente enraizada nas províncias de Chumbivilcas (perto de Cusco) e Cotabambas, no Peru. O nome, que vem da língua Quéchua, é uma fusão de "taka" (soco) e "nakuy" (fazer-se mutuamente algo). O objetivo, por mais contraditório que pareça, é nobre: é uma forma de catarse social, onde os membros da comunidade liberam toda a energia reprimida e resolvem suas pendências para que o conflito não se arraste.

Origem do Takanakuy ainda é um mistério

Homens lutando no Takanakuy | Fonte: Getty Images Homens lutando no Takanakuy | Fonte: Getty Images

As origens do Takanakuy são complexas. Alguns historiadores apontam para a era colonial, quando conquistadores espanhóis teriam forçado seus vassalos a lutar como "brigas de galo" no dia de Natal. Outros ligam a prática a movimentos de resistência indígena, como o "Taki Unquy".

 Após a independência do Peru, esses costumes se fundiram com a Huaylía, um gênero de música e dança que celebra o espírito alegre, mas também combativo, dos povos andinos.

O resultado é um festival que é partes iguais celebração e arena de combate. Antes das lutas, toda a comunidade se reúne em procissão, com muita bebida, música e dança. Os lutadores muitas vezes usam trajes elaborados e máscaras de lã coloridas (chamadas uya chullos) para esconder suas identidades, evitando que a animosidade persista após a festa.

As regras para uma briga "justa"

Embora violento, o Takanakuy não é uma briga de bar. É um duelo com regras claras, segundo o Portal Amazônia:

  •  Os combates são voluntários; um desafiante chama o outro pelo nome e sobrenome, e o desafiado pode aceitar ou designar um representante (como um familiar ou amigo) para lutar em sua honra. 
  • As lutas são sempre entre duas pessoas do mesmo sexo e, de preferência, com idades e portes físicos semelhantes para garantir a justiça.
  • A luta dura no máximo três minutos e é supervisionada por "juízes" ou "rondas camponesas", que carregam chicotes não para punir os lutadores, mas para manter a ordem da multidão que assiste. 
  • Durante o combate, só é permitido o uso de socos (com as mãos enfaixadas) e chutes. É estritamente proibido morder, puxar cabelo, atacar pelas costas ou bater no oponente quando ele já está no chão.

O importante vem depois da luta

O momento mais importante do Takanakuy é o que acontece logo após a luta. Não importa quem ganhou ou perdeu, ou o quão sangrento foi o combate, os dois oponentes são obrigados a se dar um abraço ou um aperto de mão. Aquele gesto simboliza o fim da disputa. A honra foi defendida, a raiva foi gasta e o conflito está oficialmente resolvido perante toda a comunidade.

Após as dezenas de lutas do dia, o festival continua com mais música, comida e bebida, agora com todas as pendências zeradas. 

O que começou nas áreas rurais hoje já se espalhou para as periferias de grandes cidades como Cusco e Lima, provando que, para muitos, um soco bem dado no Natal é a melhor forma de garantir um Ano Novo verdadeiramente feliz e em paz.

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