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Um menino no México coletou pedras, mas não sabia que elas continham urânio, um dos elementos mais tóxicos e radioativos da Terra

Menino no México coletou pedras sem saber que elas continham urânio
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Fabrício Mainenti

Redator

Em um vídeo recente nas redes sociais, um menino de nove anos de Naucalpan, no México, deu uma pedra ao seu ídolo, o influenciador e músico Insulini. O que parecia ser apenas mais um presente de fã acabou sendo urânio, um mineral radioativo que despertou curiosidade científica e preocupação com seus perigos. A história viralizou e até resultou em um corrido (gênero musical mexicano) composto pelo próprio Insulini. Porém, além do caráter anedótico, este caso abre caminho para a discussão de um elemento fascinante e controverso.

O urânio é um elemento químico natural, com número atômico 92, que pertence ao grupo dos actinídeos. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, é uma das fontes mais importantes de combustível nuclear; um pedaço do tamanho de um ovo pode gerar a mesma eletricidade que 88 toneladas de carvão. Embora frequentemente considerado raro, é, na verdade, cerca de 500 vezes mais comum que o ouro e é encontrado em rochas, solo, água e até mesmo em nossos corpos.

Existem três isótopos principais na natureza: urânio-234, urânio-235 e urânio-238. Este último é o mais abundante, com mais de 99% de sua presença na Terra. O urânio-235, por outro lado, é o único capaz de sustentar uma reação em cadeia, tornando-se a base de reatores nucleares e armas atômicas.

Como o urânio chega às nossas mãos (e por que é perigoso)

A mineração de urânio ocorre em países como Cazaquistão, Canadá e Austrália, que respondem pela maior parte da produção global, de acordo com a Associação Nuclear Mundial. O minério é extraído por métodos como mineração subterrânea, mineração a céu aberto ou lixiviação in situ; durante o processo, líquidos são usados ​​para dissolver e extrair o material do subsolo.

Menino no México coleciona pedras sem saber que elas contém urânio

Embora o mineral em seu estado natural emita, principalmente, radiação alfa (incapaz de penetrar uma folha de papel ou a pele), o risco reside em seu manuseio. Como o próprio Insulini explicou ao analisar a coleção da criança, o urânio é seguro se armazenado em vidro ou recipientes lacrados, mas torna-se perigoso se o pó for inalado ou ingerido.

De fato, segundo a Biblioteca Nacional de Medicina (National Library of Medicine), a exposição prolongada pode afetar os pulmões, os rins e os ossos, além de aumentar o risco de câncer. Trabalhadores de minas de urânio são considerados grupos de risco e devem usar equipamentos de proteção especializados.

Urânio na vida cotidiana: de vitrais antigos a usinas nucleares

Historicamente, o urânio não tem sido usado apenas como fonte de energia. De acordo com a EBSCO Industries, os romanos o utilizavam para colorir vitrais e ele foi usado em obras de arte por séculos. Somente no final do século XIX sua radioatividade foi compreendida, graças aos experimentos de Henri Becquerel e ao trabalho subsequente de Marie Curie.

Menino no México coleciona pedras sem saber que elas contém urânio

Atualmente, o urânio permanece controverso. Enquanto alguns o consideram essencial para a transição energética devido às suas baixas emissões em comparação com os combustíveis fósseis, outros o consideram um risco devido a acidentes nucleares como os de Chernobyl e Fukushima, ou devido ao seu uso em armas.

O que fazer se encontrar urânio no seu quintal (ou na sua coleção de rochas)

Embora pareça improvável, pequenas quantidades de urânio podem ser encontradas em minerais fluorescentes que os colecionadores identificam por seu brilho característico sob luz ultravioleta, assim como Insulini detectou. Se alguém encontrar material suspeito, a recomendação científica é evitar tocá-lo diretamente, esmagá-lo e armazená-lo em recipientes lacrados. Em ambientes formais, a melhor ação é entrar em contato com as autoridades ambientais ou de proteção civil.

Segundo uma pesquisa publicada na Ecotoxicology and Environmental Safety, a toxicidade química do urânio é tão perigosa quanto sua radioatividade, pois pode se acumular em órgãos e afetar funções vitais. Daí a importância de manuseá-lo com o mesmo respeito que outros poluentes ambientais.

Menino no México coleciona pedras sem saber que elas contém urânio

Do Viral ao Científico

Voltando à história do menino de Naucalpan, o tema do urânio não foi apenas divertido e viral, mas também mostrou como a paixão pela ciência pode surgir desde cedo. Nicolás, o jovem colecionador, possui fósseis, diamantes e fragmentos de meteoritos e dedica seu tempo livre à geologia.

E embora o urânio continue sendo um tópico complexo, esta história mostra que até mesmo um mineral radioativo pode novamente despertar conversas sobre curiosidade, educação e segurança.

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