O espaço deixou de ser uma questão de dois com a chegada da China, por isso os EUA elaboraram um plano de guerra para garantir: "fogo espacial"

O espaço se tornou um domínio militar essencial, com capacidades ofensivas e defensivas cada vez mais indispensáveis para a proteção de interesses estratégicos.

Espaço e suas descobertas - Imagen | US Space Force
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

Os tempos em que duas nações pareciam disputar sozinhas uma corrida espacial cheia de reviravoltas ficaram para trás. Com o passar dos anos, a importância de cada ator nesse cenário mudou, e novos protagonistas ganharam destaque – com a China na liderança.

Talvez por isso, os Estados Unidos criaram sua Força Espacial há alguns anos, a primeira nova ramificação militar em 70 anos, e recentemente iniciaram uma espécie de “turnê” pela Europa para alertar sobre os desafios representados pela China. Agora, a mais recente novidade: definir sem rodeios o conceito de guerra no espaço.

O novo papel ofensivo do espaço

A notícia é que a Força Espacial dos Estados Unidos passou a falar abertamente sobre o uso de armas ofensivas no espaço, marcando uma mudança estratégica em sua postura militar.

Durante anos, os líderes do Pentágono evitaram discutir o tema por medo de desencadear uma corrida armamentista no espaço. No entanto, a crescente ameaça da China e a presença sempre latente da Rússia levaram a uma mudança de narrativa no país. Ambos os países já testaram tecnologias capazes de destruir ou desativar satélites dos EUA, tornando o espaço um domínio crítico para a segurança nacional.

“Fogo Espacial”

O termo exato é "fogo espacial integrado", uma expressão mencionada recentemente em um documento de planejamento do Comando Espacial dos Estados Unidos. O conceito reflete a necessidade de um esquema estratégico que contemple tanto ações ofensivas quanto defensivas contra alvos no espaço e na atmosfera terrestre, caso se torne necessário.

Essas ações poderiam incluir ciberataques a satélites, armas de energia direcionada para cegar sensores orbitais, satélites equipados com braços robóticos capazes de capturar dispositivos inimigos e armas antisatélite (ASAT) projetadas para destruir satélites fisicamente.

Além disso, vale lembrar que, embora essas tecnologias já tenham sido testadas por potências como Rússia e China, seu uso poderia gerar enormes quantidades de detritos espaciais, aumentando os riscos para todos os atores em órbita.

A ameaça sob a ótica dos EUA

Segundo o portal ArsTechnica, a China desenvolveu capacidades espaciais avançadas que integram satélites às suas operações militares em terra, mar e ar. Essa estratégia, conhecida como Anti-Access/Area Denial (A2AD), tem como objetivo impedir ou dificultar a intervenção dos Estados Unidos na região do Indo-Pacífico, ameaçando alvos estratégicos, como porta-aviões e sistemas de alerta precoce.

Enquanto isso, a Rússia já testou mísseis ASAT e, segundo relatos, estaria desenvolvendo armas nucleares capazes de inutilizar a órbita terrestre baixa por anos, violando tratados internacionais.

O papel da Força Espacial

Como mencionamos no início, a Força Espacial, criada em 2019, tem o objetivo de garantir a "superioridade espacial" dos Estados Unidos diante de um futuro onde conflitos no espaço possam se tornar realidade.

Para isso, estão sendo implantadas constelações massivas de satélites menores e mais resistentes, substituindo os sistemas tradicionais, que são mais caros e vulneráveis.

Além disso, estão sendo avaliados conceitos como satélites defensores, equipados com propulsão avançada, para proteger ativos críticos em órbita. Todas essas medidas têm o propósito de dissuadir ataques e assegurar que os Estados Unidos mantenham suas capacidades operacionais mesmo em cenários de conflito.

Políticas e mudanças administrativas

Esse é o último ponto a ser abordado, mas não menos importante. A iminente chegada de Donald Trump à presidência, em janeiro do próximo ano, pode influenciar diretamente o futuro da Força Espacial – curiosamente, uma iniciativa lançada durante seu primeiro mandato.

Nesse contexto, o programa "Projeto 2025", da Fundação Heritage, propõe uma abordagem mais agressiva, incluindo o desenvolvimento de sistemas ofensivos para dificultar as estratégias dos adversários e garantir uma vantagem estratégica. Embora Trump não tenha manifestado apoio público a esse projeto, vários de seus autores foram indicados para cargos-chave em sua administração, o que pode ser um indício de sua influência futura.

No fim das contas, o que parece cada vez mais evidente é que a geopolítica vê o espaço, em seu sentido mais amplo, como um novo território estratégico a ser conquistado.

Seu domínio militar, incluindo capacidades ofensivas e defensivas cada vez mais necessárias para proteger interesses estratégicos – neste caso, dos Estados Unidos frente a adversários como China e Rússia –, está ganhando espaço na agenda de defesa global.

Enquanto isso, a Força Espacial dos EUA se prepara para um futuro onde as operações espaciais serão cruciais nos conflitos globais, enfrentando o desafio de equilibrar o desenvolvimento tecnológico com a necessidade de evitar uma corrida armamentista além da Terra.

A palavra guerra, no espaço, já não é mais evitada.

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