Marte é, sem dúvida, o planeta (além do nosso, claro) que mais instiga os cientistas da Terra. As mais de 20 missões enviadas à superfície do planeta vizinho, algumas mais bem-sucedidas que outras, nos permitiram conhecer detalhes surpreendentes de sua orografia (estudo do relevo). E o fluxo de informações continua.
Estruturas poligonais
Um exemplo disso são as estruturas poligonais recentemente descobertas pelo rover Zhurong, o veículo enviado pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial como parte da missão Tianwen-1. Os instrumentos do rover detectaram essas estruturas a uma profundidade de cerca de 35 m em seu trajeto pela região chamada Utopia Planitia (a “planície de nenhum lugar”). Os detalhes do estudo foram publicados em um artigo na revista Nature em novembro de 2023.
Essas formações, 16 ao todo, se espalham por uma extensão de cerca de 1,2 km de comprimento. O fato de que o Zhurong tenha percorrido apenas dois quilômetros da planície (que tem um diâmetro de pouco mais de 3.000 km) leva a crer que essas estruturas se estendem ocupando boa parte da região.
As estruturas encontradas variam em tamanho, com algumas medindo apenas alguns centímetros e outras alcançando vários metros. Sua origem ainda é um mistério.
Explicações
A equipe aponta duas possíveis explicações para a formação das estruturas, uma mais provável que a outra. A primeira é que elas sejam consequência do processo de resfriamento da lava.
No entanto, a principal hipótese é que essas estruturas se formaram por ciclos contínuos de congelamento e descongelamento. Esse processo também é observado na Terra: durante as estações mais quentes, a água se infiltra nas irregularidades da rocha; quando chega o frio do inverno, ela congela e se expande.
O gelo é mais volumoso que a água, portanto exerce pressão sobre a rocha. Ciclos contínuos de congelamento e descongelamento vão ampliando as fissuras nessas rochas, podendo gerar estruturas como as detectadas no subsolo marciano.
Estações em Marte
A equipe responsável pela descoberta estima que esses polígonos rochosos se formaram há cerca de 3 bilhões de anos, entre o período Hespérico tardio e o Amazônico inicial. Durante essa era, Marte pode ter tido um eixo de rotação mais inclinado, o que teria como consequência estações mais acentuadas em latitudes médias e baixas, permitindo assim os ciclos de congelamento e descongelamento que, por sua vez, teriam dado origem a essas formações.
Zhurong
Detectar as estruturas foi possível graças ao georradar ou GPR (ground penetrating radar) a bordo do rover chinês Zhurong. O veículo aterrissou em Marte com a missão Tianwen-1 em 23 de julho de 2020 e começou sua jornada longe do módulo de aterrissagem em 14 de maio de 2021.
O rover permaneceu ativo até maio de 2022, quando foi colocado em modo de hibernação à espera do inverno marciano e da chegada de tempestades de areia. O veículo não conseguiu retomar a atividade, provavelmente devido ao acúmulo de areia sobre seus instrumentos.
Texto traduzido e adaptado do site Xataka Espanha
Imagem | NASA/JPL/University of Arizona/Zhang, Li, et al., 2023 / Academia Chinesa de Tecnologia Espacial
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