Tarifas aceleraram uma tendência na China: a aspiração não é mais comprar produtos da Apple, mas sim de marcas chinesas

Remessas de celulares do exterior na China caíram 49,6% em março, relegando a Apple ao quinto lugar, com quatro marcas chinesas à frente

Imagem | aboodi vesakaran no Unsplash, Xataka
1 comentário Facebook Twitter Flipboard E-mail
pedro-mota

PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Um vento nacionalista está soprando nas lojas de eletrônicos da China e afetando as vendas de celulares de marcas estrangeiras. Em março, as remessas de celulares do exterior caíram quase pela metade de um ano para o outro, de acordo com a Academia Chinesa de Tecnologia da Informação e Comunicação (CAICT), citada pela Reuters.

Essa mudança relegou a Apple ao quinto lugar no mercado chinês, com uma participação de 14,1%. Há menos de dois anos, a marca era líder.

Enquanto isso, os fabricantes nacionais — Vivo, Oppo, Xiaomi e, principalmente, Huawei — continuam apresentando crescimento de dois dígitos, ganhando terreno tanto no segmento de médio quanto no de alto padrão.

O declínio da Samsung

A Samsung controlava quase 20% do mercado chinês em 2013, um número semelhante à sua participação global. Em 2023, essa participação havia caído para 0,8%. O colapso foi gradual, mas irreversível: a marca sul-coreana passou de uma concorrente dominante a uma presença coadjuvante.

Original

A Apple se manteve melhor que a Samsung, mas o declínio é inegável. Suas distribuições na China mantiveram uma participação de 14,1% no primeiro trimestre deste ano, o que a coloca em quinto lugar, atrás das quatro grandes empresas locais.

Para tentar conter a tendência, a empresa começou a oferecer descontos em iPhones antes mesmo de completarem um ano nas lojas, algo estranhamente incomum em sua política comercial.

Hoje, são diferentes o ranking da China:

Original

… e o ranking global:

Original

O fenômeno vai além das características técnicas ou do preço. Está enraizado na mudança nos hábitos de consumo dos cidadãos chineses, que estão cada vez mais inclinados a sustentar seus próprios produtos.

Desde 2022, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT) propõe um programa de subsídios para terminais abaixo de 6.000 yuans (cerca de R$ 4,7 mil), favorecendo estruturalmente os fabricantes locais, que administram preços logo abaixo dessa barreira.

A isso se soma o impacto da guerra comercial com os Estados Unidos. As tarifas impostas por Trump e a guerra tecnológica reforçaram o viés nacionalista: o consumidor percebe o produto estrangeiro como menos desejável.

Um caso semelhante ocorreu com a Samsung após a implantação do sistema antimísseis THAAD na Coreia do Sul em 2015. Na época, o sentimento anticoreano desencadeou a rejeição de seus produtos na China. Agora, a empresa tenta retornar ao mercado chinês com seu Galaxy C (o "C" significa "China"), mas parece um retorno complicado.

A Huawei, com sua guinada em direção à autossuficiência e não apenas à competição com os demais, é um exemplo perfeito da materialização da doutrina tecnológica de Xi Jinping. A empresa ressurgiu das cinzas das sanções americanas, não apenas recuperando participação de mercado, mas também construindo seu ecossistema paralelo.

A Apple e a Samsung, as duas líderes mundiais em telefonia móvel, têm um problema difícil de resolver na China. Não se trata apenas de recuperar participação de mercado, mas também de articular uma proposta de valor confiável em um ambiente onde a condição de marca estrangeira é, hoje, uma desvantagem competitiva. Sua estratégia de preços, alianças com operadoras e adaptação de produtos serão fundamentais para uma possível reconquista.

Imagem em destaque | aboodi vesakaran no Unsplash, Xataka

Inicio