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Pista para decifrar Stonehenge estava na Espanha e pesa mais que dois aviões 747

O grande mistério do icônico monumento precisava de uma pista do passado. Exatamente, mil anos antes.

Chave para decifrar Stonhenge estava na Espanha esse tempo todo
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Existem muitas hipóteses sobre a construção de Stonehenge, mas ainda nós fazemos a mesma pergunta: como diabos conseguiram erguer um monumento tão grandioso na antiguidade?

Não são poucos os arqueólogos que apostaram em buscar pistas mais antigas, e agora um novo estudo parece lançar luz sobre o entendimento que os engenheiros do passado possuíam. A pista estava na Espanha, em um monumento de pedra impressionante construído 1.000 anos antes.

O Dolmen de Menga

Localizado em Antequera, na Espanha, trata-se de um dos monumentos megalíticos mais impressionantes e antigos da Europa, datado de cerca de 3.500 a.C. Sua importância reside no grande tamanho, com uma câmara que se acredita ser funerária, de 25 metros, construída com enormes pedras que pesam toneladas.

Além disso, apresenta uma orientação incomum voltada para a Peña de los Enamorados, o que o distingue de outros dólmenes, que geralmente estão alinhados com eventos solares.

No entanto, este é único, uma obra-prima da arquitetura pré-histórica. Para se ter uma ideia, o peso combinado das pedras é de aproximadamente 1.140 toneladas, mais pesado do que dois aviões Boeing 747 carregados de passageiros. Esse é parte do mistério e da fascinação dessas construções, e um novo estudo revela pistas sobre o conhecimento necessário para erguer obras semelhantes.

O novo estudo

Publicado recentemente na revista Science Advances, um estudo realizado por uma equipe de arqueólogos revelou que o Dolmen de Menga foi construído com um nível extraordinário de compreensão científica. "Sempre me surpreenderam as habilidades de engenharia necessárias para construir esse dolmen", afirma Michael Parker Pearson, arqueólogo do University College de Londres. "O trabalho revela com que precisão ele deve ter sido feito, com um olhar excepcional para dimensões e ângulos. Com pedras tão grandes, não podiam se permitir cometer erros ao movê-las e colocá-las na posição correta."

Para José Antonio Lozano Rodríguez, geólogo do Instituto Espanhol de Oceanografia e autor principal da pesquisa, "entrar em seu interior e contemplar um monumento tão colossal do Neolítico despertou minha curiosidade para saber mais sobre esse dolmen. O que mais me impressionou no Dolmen de Menga foi sua monumentalidade".

Recriação do processo proposto de colocação das pedras Recriação do processo proposto de colocação das pedras

Como mover toneladas de pedra

O que os pesquisadores fizeram foi mergulhar na chamada análise geoarqueológica do local, examinando scanners a laser e visuais de escavações anteriores, além de descrições etnográficas das técnicas de construção e da topografia da região.

Depois de coletar os dados, a equipe deduziu algo até então desconhecido: o processo de construção dos engenheiros neolíticos. Eles partiram de fatos já estabelecidos. Por exemplo, um estudo anterior havia determinado que as pedras vieram de uma pedreira localizada a um quilômetro de distância, em uma elevação estrategicamente superior à do Dolmen de Menga.

Como?

Acredita-se que os construtores transportaram as pedras usando trenós sobre uma pista feita com vigas de madeira, o que sugere um entendimento de conceitos como fricção, aceleração e centro de massa.

Proposta De Colocacao Das Pedras Representação de esquema de colocação das pedras dentro do dolmen proposto

Esculpir as pedras, a chave

Como detalhado no estudo, uma vez no local, as pedras que formavam as paredes e colunas foram colocadas na posição vertical em cavidades profundas, de modo que até um terço de cada pedra ficou enterrada.

Os pesquisadores sugerem que os construtores provavelmente conseguiram isso utilizando contrapesos e rampas, levando em consideração a natureza relativamente macia (e, portanto, facilmente danificada) da rocha arenito.

Quanto às pedras da parede, o estudo propõe que elas foram esculpidas de forma que se entrelaçam e se apoiam umas nas outras, aumentando assim a estabilidade da estrutura. "Essas pessoas não tinham planos para seguir, nem, até onde sabemos, experiência prévia na construção de algo como isso", explica o coautor do estudo, Leonardo García Sanjuán, arqueólogo da Universidade de Sevilha. "Não há como fazer isso sem pelo menos um conhecimento básico de ciência."

O princípio do arco, pela primeira vez

O trabalho dos pesquisadores destaca que as paredes do dolmen se inclinam levemente para dentro, formando ângulos de 84/85 graus, de modo que a parte superior da câmara é mais estreita que a inferior, em formato trapezoidal.

Nesse sentido, a maior das cinco pedras da cobertura foi esculpida para melhorar a distribuição da tensão, criando um arco rudimentar, com o centro mais alto do que os lados.

Isso não é de forma alguma trivial. Segundo o estudo, "até onde sabemos, esta é a primeira vez que o princípio do arco foi documentado na história da humanidade". O fato de as paredes da câmara estarem parcialmente enterradas também significou que as pedras de cobertura puderam ser colocadas sem precisar erguê-las muito alto. Em seguida, o solo no interior foi escavado para rebaixar o nível do piso da câmara, enquanto o exterior foi coberto com terra para isolar e estabilizar ainda mais a construção.

Conclusão

Essas descobertas redefinem nossa percepção sobre o conhecimento de arquitetura no Neolítico. O estudo não apenas ilumina a execução do Dolmen de Menga, mas também lança nova luz sobre os monumentos posteriores, como Stonehenge e a pirâmide escalonada de Zoser.

A equipe de especialistas destaca a relevância desses conceitos antigos, afirmando: “Devemos chamá-lo de ciência. Nunca mencionamos a ciência neolítica antes, talvez porque éramos presunçosos demais para acreditar que essas civilizações eram capazes de aplicar métodos que, hoje, consideramos avançados".

Como conclui García Sanjuán à CNN, “se qualquer engenheiro moderno tentasse construir Menga com os recursos disponíveis há 6.000 anos, é provável que ele não conseguisse”.

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