Eles chamam de “A Revolução do Lixo”, embora, na verdade, tenha pouco de revolucionário — pelo menos para qualquer europeu acostumado a algo tão simples quanto jogar seus resíduos no contêiner de lixo. Na segunda-feira (2/6), as autoridades de Nova York anunciaram, com muito orgulho, sua nova e brilhante estratégia para gerir os resíduos da Big Apple, um projeto piloto que, por enquanto, está limitado a um bairro e que, segundo seus idealizadores, será pioneiro em todo os Estados Unidos.
Até aí, nada surpreendente além da retórica política. O curioso é como Nova York pretende impulsionar essa peculiar “revolução” da limpeza: com contêineres de lixo e caminhões como os que já são comuns nas ruas da Espanha há décadas.
De olho no lixo
Em Nova York, os trabalhadores do serviço de coleta de lixo ainda são obrigados a fazer algo cada vez mais raro: retirar das calçadas sacos plásticos cheios de lixo e jogá-los na parte traseira de um caminhão. Para eles, é um trabalho desgastante. Para a cidade, um problema: os sacos se acumulam nas ruas, dificultam a circulação, geram mau cheiro, vazam líquidos e atraem ratos.
Revolução em Nova York
Depois de meio século de “acúmulo de lixo nas ruas”, Nova York decidiu dizer basta e mudar seu modelo de coleta para um novo, muito parecido com o da Europa. O primeiro passo foi dado em 2023, quando as autoridades exigiram que os estabelecimentos do setor alimentício — de bares a supermercados — depositassem seus resíduos em contêineres. Um ano depois, essa obrigação foi estendida a todas as empresas e, nos últimos meses, a mesma regra começou a se aplicar também aos pequenos edifícios residenciais.
A grande mudança chegou agora com um projeto piloto nas ruas da Junta Comunitária 9, em Manhattan, onde o uso de contêineres será aplicado a todos os tipos de edifícios residenciais, desde pequenos blocos com menos de dez unidades até os maiores, com mais de 30. A prefeitura afirma que o bairro se tornou “o primeiro da América do Norte a ter 100% de seu lixo em contêineres” e até fala em uma verdadeira “Revolução do Lixo”.
O mais curioso é que essa revolução, na verdade, tem pouco de revolucionária — pelo menos sob a perspectiva dos europeus, que há anos (ou até décadas) estão acostumados com as ferramentas que Nova York quer usar agora para melhorar a gestão do lixo. O motivo é simples: a mudança no Harlem se apoia basicamente em três elementos, todos já integrados há muito tempo no cenário urbano das cidades espanholas — contêineres Empire com capacidade para 3.000 litros, coletores com rodas e caminhões com carga lateral.
Contêineres fechados e com cartão
Nas últimas semanas, o Departamento de Saneamento de Nova York se dedicou a instalar cerca de 1.100 contêineres Empire em West Harlem, que trazem uma pequena novidade. Diferentemente da maioria dos contêineres vistos na Europa, esses coletores não estarão disponíveis para qualquer pessoa que passe pela calçada. Eles permanecerão fechados e seu uso será exclusivo de um prédio, que poderá acessá-los por meio de um cartão especial.
Nem os próprios moradores poderão depositar os sacos diretamente no contêiner. A ideia é que eles deixem os sacos em uma área de coleta dentro do prédio e os contêineres sejam manuseados apenas pelo pessoal dos edifícios ou pelos gestores de resíduos. Não é o modelo mais comum na Espanha, embora lá também existam alguns coletores com acesso via cartão.
Para os prédios maiores de West Harlem, com mais de 30 unidades, foram destinados os grandes contêineres Empire. Aqueles com entre 10 e 30 apartamentos podem escolher entre esse modelo maior ou contêineres menores com rodas. Já os edifícios com menos de dez famílias deverão utilizar coletores de 200 litros. Para agilizar o trabalho dos funcionários, a prefeitura apresentou, há um ano, um protótipo de caminhão de coleta com carga lateral, que pode ser operado por apenas dois trabalhadores.
Em novembro, a prefeitura já havia solicitado que esses pequenos edifícios residenciais começassem a usar contêineres, o que lhe permitiu obter uma primeira ideia dos resultados. E quais foram as conclusões? “Os primeiros dados mostram que o uso de contêineres está funcionando: desde que as exigências entraram em vigor, há seis meses, o número de avistamentos de ratos diminuiu”, comemora.
Uma revolução com desafios
Nova York está descobrindo mais do que apenas o uso dos contêineres. Também se depara com os desafios que eles representam. O The New York Times publicou uma reportagem nesta segunda-feira explicando como os funcionários do serviço de limpeza precisam lidar com carros estacionados em fila dupla, que bloqueiam os contêineres e impedem que os caminhões tenham acesso a eles.
O jornal também alerta para o impacto sobre as vagas de estacionamento. As autoridades municipais já calculam que expandir o programa para toda a cidade exigiria eliminar 50.000 vagas. E isso sem contar as centenas de milhões de dólares necessários para adquirir contêineres e caminhões de coleta capazes de atender toda a população da Grande Maçã. Os críticos ainda apontam mais um problema: a iniciativa não inclui a expansão do programa para a coleta seletiva e reciclagem.
Imagem | City of New York
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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