A criatividade humana realmente não tem limites. Algumas pessoas conseguem criar soluções extremamente engenhosas para desafios aparentemente impossíveis. Foi o caso de um hacker que conseguiu instalar o Linux em um processador Intel da década de 1970. E, como se isso já não fosse impressionante, ele também fez com que o sistema operacional levasse "apenas" cinco dias para inicializar.
Trata-se de Dmitry Grinberg, um nome bastante conhecido na comunidade hacker. Sua última façanha foi fazer uma versão reduzida do Debian Linux rodar em um Intel 4004. Uma loucura? Talvez. Uma obra-prima da informática? Sem dúvida.
O primeiro microprocessador comercial
Para entender a grandiosidade do feito de Grinberg, é importante conhecer o Intel 4004, um processador de 4 bits lançado em 1971. Esse foi o primeiro microprocessador fabricado comercialmente, projetado originalmente para a calculadora japonesa Busicom 141-PF.
O chip era capaz de realizar apenas um número limitado de tarefas, como somar e subtrair.
De acordo com a PC Gamer, o Intel 4004 é extremamente básico e incrivelmente lento em comparação com os processadores modernos. Apesar de possuir 16 registradores, algo impressionante para a época, ele não suportava interrupções de hardware. Isso significa que não era compatível com multitarefas, tornando impossível rodar um sistema operacional.
Segundo a Ars Technica, o Intel 4004 teve pouca aplicação comercial durante os anos 1970 e foi substituído por processadores Intel mais potentes, como o 8086 e o 8088, que deram início à era dos computadores IBM PC. Com esse contexto, fica claro por que o 4004 é um processador extremamente limitado para rodar o Linux, um sistema operacional lançado 20 anos depois desse chip.
Uma placa de circuito personalizada
Para superar essa limitação, Dmitry Grinberg teve a ideia de emular um chip mais avançado, especificamente um MIPS R3000, da mesma época do Linux original e capaz de rodar o sistema operacional.
Mas como emular um processador de 32 bits em um de apenas 4 bits?
De acordo com o Techspot, Grinberg utilizou diversos componentes antigos para projetar uma placa de circuito personalizada, sem vias e apenas com trilhas em ângulo reto, o que conferiu ao projeto uma estética retrô. Ele também adicionou uma tela básica para mostrar que o Linux estava sendo executado no terminal.
Grinberg também reduziu o Debian ao mínimo possível, mantendo apenas o kernel (o núcleo do sistema operacional). No entanto, restava um último problema: a velocidade. Mesmo com um overclock de 5%, que fez o processador Intel 4004 operar acima de sua velocidade original, ele ainda levava nove dias inteiros para carregar o Linux. Dmitry então realizou diversos ajustes até conseguir reduzir esse tempo para 4,76 dias.
Como aponta a Ars Technica, o projeto de Grinberg não tem um propósito prático. Na verdade, a placa foi projetada para ser montada na parede como uma obra de arte, executando comandos de Linux de forma extremamente lenta, ao longo de dias ou semanas.
Em seu site, Dmitry disponibilizou todos os detalhes do trabalho, incluindo os esquemas e o código-fonte. Além disso, um vídeo da placa Linux/4004 em funcionamento pode ser encontrado no YouTube.
Dmitry Grinberg e a Def Con 2024
Como mencionado anteriormente, o nome de Dmitry Grinberg não é estranho à comunidade hacker. Nos últimos meses, ele esteve no centro de uma polêmica durante a Def Con 2024.
Uma tradição desse evento, que anualmente reúne entusiastas da cultura hacker em Las Vegas, Nevada, é a entrega de crachás com dispositivos eletrônicos personalizados, permitindo que os participantes experimentem diferentes funcionalidades. Este ano, foi entregue um acessório projetado para rodar um emulador de GameBoy.
Grinberg, que atuou como desenvolvedor do firmware desses dispositivos, foi retirado do palco enquanto apresentava uma palestra sobre o projeto.
O motivo, segundo The Register, foi um "easter egg" incluído no firmware que fazia referência a uma disputa ocorrida meses antes entre os organizadores do evento e a empresa responsável pela criação dos crachás. A disputa levou ao rompimento da relação contratual e à remoção do nome da empresa nos créditos do produto.
O "easter egg" consistia em uma mensagem que dizia "crédito roubado devolvido" e exibia o nome da empresa. A Def Con interpretou essa ação como "uma tentativa de solicitar dinheiro aos participantes", o que resultou na retirada de Grinberg do palco durante sua apresentação.
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