ATUALIZAÇÃO: O Tribunal de Contas da Itália, órgão responsável pela supervisão dos gastos públicos, se recusou a aprovar o projeto de € 13,5 bilhões (cerca de R$ 84,1 bilhões) que ligaria a ilha da Sicília ao continente.
A decisão provocou uma reação furiosa do governo da primeira-ministra Georgia Meloni, que havia aprovado o plano em agosto. Meloni condenou a decisão judicial como uma "intrusão intolerável", enquanto Matteo Salvini, Ministro dos Transportes e maior defensor do projeto, sugeriu que a decisão foi uma "escolha política".
O tribunal, que deve apresentar suas justificativas completas em 30 dias, afirmou que sua decisão se baseou nos aspectos legais da aprovação, e não nos méritos de engenharia do projeto. O órgão já havia solicitado esclarecimentos sobre a documentação e, principalmente, sobre a estrutura de custos.
A suspensão dá força aos críticos do projeto, que há muito alertam que a ponte corre o risco de se transformar em um "verdadeiro buraco negro financeiro". Além das preocupações com o impacto ambiental no Estreito de Messina, muitos questionam se o dinheiro não seria melhor investido na infraestrutura do sul empobrecido da Itália.
Em uma das estratégias de financiamento mais inusitadas, o governo italiano esperava classificar a mega-ponte como um "ativo estratégico", o que permitiria que seus custos fossem contabilizados no montante que a Itália investe em defesa como parte da aliança militar da OTAN.
"Esperamos um século e esperaremos um século e dois meses"
A tensão entre os poderes aumentou. Meloni, líder do partido de extrema-direita Irmãos da Itália, afirmou que a resposta a essa "intrusão" será acelerar as reformas constitucionais do sistema judiciário e do próprio Tribunal de Contas.
O Tribunal de Contas, em uma resposta contundente, rebateu as críticas, afirmando que qualquer crítica às suas decisões "deve ser feita em um contexto de respeito ao trabalho dos magistrados".
Apesar da troca de farpas, o governo adotou um tom mais conciliatório nesta quinta-feira, após uma reunião de emergência. Salvini afirmou que aguarda "com extrema calma" as conclusões do tribunal e que o governo irá "responder ponto por ponto". O gabinete de Meloni reforçou que "o objetivo... de prosseguir com o projeto permanece firme".
A saga da ponte sobre o Estreito de Messina, debatida há décadas na Itália, ganha assim mais um capítulo. Nas palavras de Salvini: "Esperamos um século e esperaremos um século e dois meses".
Matéria original abaixo:
O governo italiano aprovou a construção da maior ponte suspensa do planeta, com mais de 3 quilômetros de extensão sobre o mar. Chamada de Ponte de Messina, a estrutura gigantesca vai ligar a Sicília à Calábria e será construída em uma das regiões de maior atividade sísmica do Mediterrâneo. O projeto, orçado em 13,5 bilhões de euros, não é nenhuma novidade para o país que, há anos, tenta a aprovação da construção. Porém, o projeto já foi abandonado diversas vezes por questões financeiras, ambientais, de segurança e até suspeitas de influência da máfia. Para a primeira-ministra Giorgia Meloni, a ponte é um investimento estratégico para o presente e o futuro do país.
Maior ponte suspensa do mundo ligará Sicília e Calábria
O projeto da Ponte de Messina prevê uma extensão impressionante de 3,3 quilômetros, sustentada por duas torres de 400 metros de altura. A estrutura terá duas linhas férreas no centro e três faixas de tráfego em cada direção, permitindo a passagem simultânea de trens e veículos. A expectativa do governo é que a obra, além de se tornar um marco de engenharia, gere benefícios econômicos para o país. Com a construção da ponte é estimada a criação de cerca de 120 mil empregos por ano, além de favorecer o desenvolvimento de duas das regiões mais pobres da Europa (Sicília à Calábria). Apesar de ser construída em uma região com intensa atividade sísmica, o projeto da ponte foi pensado para resistir a terremotos. O plano também inclui 40 quilômetros de novas estradas e linhas ferroviárias, e o pedágio previsto para automóveis será menos de 10 euros.
Maior do mundo: entenda quais são os desafios do projeto
Apesar da aprovação do governo da Itália, a construção da Ponte de Messina ainda enfrenta um longo caminho até de fato sair do papel. O projeto precisa passar pelo crivo do Tribunal de Contas italiano e de órgãos ambientais, tanto a nível nacional quanto da União Europeia. Outro desafio enfrentado é em relação aos moradores de áreas que podem ser desapropriadas. Eles deverão ser consultados, e eventuais contestações na Justiça podem atrasar ou até interromper as obras.
Essa não seria a primeira vez! O projeto já foi adiado várias vezes desde que foi idealizado, há mais de 50 anos. A população também é crítica ao projeto, pois de acordo com eles, os recursos poderiam ser investidos em melhorias locais, como transporte, escolas e hospitais. Grupo da região ainda se preocupam com o alto consumo de água que seria necessário durante as construções, já que essas regiões sofrem com a seca regularmente. Atualmente, a travessia é feita por balsas, que transportam trens e veículos em cerca de 30 minutos.
Ver 0 Comentários