Congo fechou torneira do cobalto: boas notícias para a China, mas não tanto para a indústria tecnológica ocidental

Suspensão das exportações visa regular mercado de cobalto diante da superprodução global

RDC propõe acordo com Ocidente para redefinir seu papel no mercado global de minerais

Imagem | Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (iied)
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

A República Democrática do Congo (RDC) implementou uma medida que afetará as exportações de cobalto.

A Autoridade para a Regulação e Controle dos Mercados de Substâncias Minerais Estratégicas (ARECOMS) anunciou que as exportações de cobalto serão suspensas por pelo menos quatro meses. Segundo seu presidente, Patrick Luabeya, a decisão busca controlar a oferta de cobalto em um mercado internacional que enfrenta a superprodução do metal.

A importância do cobalto

Há um metal comum compartilhado por veículos elétricos, dispositivos móveis e outras tecnologias: o cobalto, que teve sua demanda impulsionada neste século. No entanto, a produção de cobalto na República Democrática do Congo (RDC), que representa cerca de 70% da oferta global, caiu, assim como a de lítio. Isso fez com que outros produtores de cobalto, como Rússia e Austrália, ganhassem mais destaque.

O motivo do excesso de oferta foi o aumento da produção da empresa chinesa CMOC, que dobrou sua extração em duas grandes minas no país. Essa situação impactou a oferta e a demanda, causando uma queda nos preços. De fato, segundo dados da Fastmarkets, os preços de referência do cobalto caíram abaixo de 10 dólares por libra, um nível que não era visto há mais de 20 anos.

Impacto atual no mercado global

Apesar da queda, os mercados ficaram tensos com a medida tomada pela República Democrática do Congo (RDC). Mas conseguiram respirar aliviados, pois a suspensão das exportações não levou a uma mudança imediata no preço do cobalto. No entanto, especialistas do mercado acreditam que, a curto prazo, essa medida pode gerar rigidez no mercado, visto que os estoques de cobalto se acumularão na RDC em vez de irem para armazéns chineses, como costuma acontecer.

China

Embora a suspensão das exportações ainda não tenha afetado os preços, isso pode beneficiar o país asiático. As empresas chinesas, que já controlam uma parte significativa do fornecimento e da produção de cobalto, poderão sair mais fortes desta crise. De fato, a China tem acesso a outras fontes de cobalto, como Austrália, Rússia e Indonésia. Em particular, esta última possui grandes reservas de cobalto e tem experimentado um crescimento significativo em sua produção.

Além disso, a decisão do Congo reforçou o domínio da China, enquanto o Ocidente enfrenta maiores dificuldades para garantir materiais essenciais para os setores de tecnologia e energia. Dessa forma, o país asiático assumiu uma posição de domínio diante da "guerra tarifária" contra Donald Trump. Cabe acrescentar que este último precisará de muitos materiais que a China possui.

Indústria tecnológica ocidental

A medida afetou diretamente o setor de tecnologia na Europa e nos Estados Unidos, que dependem do cobalto para fabricar baterias para veículos elétricos e dispositivos eletrônicos. No entanto, a República Democrática do Congo busca redefinir seu papel no mercado global e solicitou ajuda à Europa e aos Estados Unidos por meio de um acordo. Nessa abordagem, o país africano firmou um acordo pelo qual oferece minerais estratégicos em troca de apoio à estabilidade e ao desenvolvimento do país.

Essa proposta se baseia no fato de que a RDC enfrenta tensões internas. Em particular, o leste do Congo é palco de conflitos armados, alguns com supostas ligações com Ruanda, o que intensificou a violência em Goma e Bukavu, ambas cidades fronteiriças com Ruanda e conhecidas por suas minas ricas em diferentes elementos. Com essa proposta, a RDC espera atrair investimentos ocidentais e reduzir sua dependência da China no setor de mineração. Resta saber se os Estados Unidos e a Europa aceitarão o acordo, que lhes permitirá garantir um acesso mais estável a esses recursos estratégicos.

Cobre

Vale ressaltar que o cobalto é extraído principalmente como subproduto do cobre no Congo. A suspensão das exportações de cobalto não afetará a produção e as exportações de cobre, outro mineral essencial que o Congo também produz em grandes quantidades. Isso significa que, mesmo que as exportações de cobalto sejam limitadas, as exportações de cobre continuarão normalmente, sem grandes alterações.

A suspensão das exportações continuará por mais três meses e será reavaliada. Durante esse período, teremos que ficar de olho nas ações futuras do Ocidente e em como a China redesenhará o mapa energético.

Imagem | Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (iied)

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