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Astronautas presos no espaço podem respirar tranquilos: decisão de último minuto da Nasa há 10 anos salvou suas vidas

Em 2014, a agência espacial estava redigindo um contrato fundamental para o futuro da carreira espacial

Astronautas Presos No Espaco Podem Ficar Tranquilos
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Em setembro deste ano, ocorreu o lançamento da missão Crew-9 da SpaceX. Isso significa que os astronautas da Starliner, da Boeing, já têm uma nave a caminho para trazê-los de volta para casa, se tudo correr conforme o planejado, em fevereiro do próximo ano. No entanto, o que agora parece estar se encaminhando para um final tranquilo poderia ter sido muito diferente. Na verdade, há exatos dez anos, a NASA estava a uma assinatura de mudar tudo.

Um ou dois contratos

Agora sabemos disso graças a Eric Berger (do ArsTechnica) e seu livro Reentry: SpaceX, Elon Musk and the Reusable Rockets that Launched a Second Space Age. Alguns trechos fascinantes de sua obra vieram à tona no meio onde ele trabalha. Por exemplo, agora sabemos que a NASA esteve muito perto de assinar com apenas uma empresa para seu Programa de Tripulação Comercial.

E sim, essa empresa era a Boeing. Portanto, ao olhar para como as coisas se desenrolaram desde então, a decisão de última hora de incluir a empresa de Elon Musk se revela como uma escolha histórica.

O fracasso da Starliner

No dia 5 de junho, a Starliner da Boeing decolou com os astronautas da NASA, Butch Wilmore e Sunni Williams, para o que seria uma missão relativamente curta. No entanto, a nave permaneceu acoplada à Estação Espacial Internacional por três meses, enquanto as equipes em terra debatiam se deveriam ou não trazer a tripulação de volta a bordo da problemática Starliner.

Durante sua viagem à ISS, cinco dos propulsores da nave falharam, e houve cinco vazamentos de hélio, um dos quais foi identificado antes da decolagem. Após muitos debates, a NASA finalmente decidiu trazer a Starliner de volta sem tripulação e devolver os astronautas a bordo da nave espacial Dragon da SpaceX.

Há 10 anos

Obviamente, agora temos informações que não poderiam ser previstas há uma década, mas considerando como as coisas se desenrolaram, escolher a Boeing como seu único parceiro comercial teria sido uma decisão desastrosa por parte da NASA.

Naquela época, no entanto, a Boeing era vista como a opção mais confiável, enquanto a SpaceX, liderada por Elon Musk, ainda era uma novata que não havia tido a oportunidade de provar seu valor.

Isso aconteceu em 2014, e naquele momento da história espacial, a NASA estava prestes a tomar uma decisão crucial sobre um contrato que definiria a corrida espacial nos anos seguintes. Em jogo: o contrato como parte do Programa de Tripulação Comercial da agência, destinado a desenvolver naves espaciais capazes de transportar tripulação e carga para a ISS.

A história por trás das câmeras

Segundo Eric Berger, os funcionários da NASA estavam claramente inclinados a favor da Boeing, ao ponto de já terem os contratos redigidos, atribuindo todo o orçamento da agência para a tripulação comercial à empresa, excluindo a SpaceX da disputa. No livro, fontes relatam que, durante uma reunião de consultores de voos espaciais e altos funcionários da NASA, a maioria escolheu a Boeing em detrimento da SpaceX.

Havia também uma razão puramente econômica

A NASA havia decidido conceder o contrato a uma única empresa em vez de duas, devido ao seu orçamento apertado. Como  Phil McAlister, diretor do Programa de Tripulação Comercial da NASA, explicou ao autor: "Nós realmente não tínhamos orçamento para duas empresas naquele momento. Ninguém achava que íamos contratar duas. Eu sempre dizia: 'Uma ou mais', e as pessoas me olhavam com desdém."

Boeing “excelente”, SpaceX nem tanto.

Hoje sabemos que os contratos foram concedidos às duas empresas, mas isso quase não aconteceu. Aparentemente, uma junta de avaliação classificou as empresas com base no preço, adequação à missão e desempenho anterior.

A SpaceX tinha uma oferta mais baixa, de 2,6 bilhões de dólares, enquanto a Boeing pediu 4,2 bilhões.

Nas outras duas categorias, a Boeing superava significativamente a SpaceX. A Boeing recebeu uma classificação de "excelente" em termos de adequação à missão, ou seja, sua capacidade avaliada de transportar com segurança a tripulação de e para a ISS, enquanto a SpaceX foi classificada como "muito boa". Além disso, a Boeing também obteve uma classificação de "muito alta" com base em seu desempenho anterior, enquanto a SpaceX recebeu a nota de "alta".

Mudança de última hora

Quando tudo estava pronto para assinar o contrato exclusivo com a Boeing, algo aconteceu que mudou tudo. Berger explica que a recusa da Boeing em realizar um teste de voo do sistema de aborto da Starliner (propulsores projetados para impulsionar a nave caso o foguete falhasse durante o lançamento) se tornou um fator crítico.

Por quê?

A Boeing apenas aceitou realizar um teste desse sistema em solo, o que levou o chefe de segurança e garantia da missão da NASA a considerar a oferta da empresa insatisfatória. Além disso, a proposta da SpaceX tinha um preço de venda mais baixo, o que possibilitou à NASA considerar a escolha de ambas as empresas em vez de apenas uma, por precaução.

De fato, como mencionamos no início, o livro revela que a decisão foi tão acirrada que a NASA teve que reescrever seu contrato de tripulação comercial para incluir as duas companhias, depois de ter redigido um contrato que nomeava apenas a Boeing.

É difícil imaginar como as coisas teriam sido se a NASA tivesse escolhido apenas a Starliner da Boeing para transportar seus astronautas à órbita terrestre, mas é fácil imaginar que, neste momento, várias pessoas poderiam estar sem emprego.

Imagem | NASA, SpaceX

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