A Ucrânia transformou drones em soldados armados contra a Rússia: já não é mais necessário “sacrificá-los”, pois agora carregam lançadores de granadas

A introdução bem-sucedida de drones lançadores de granadas marca um antes e um depois no desenvolvimento da guerra tecnológica na Ucrânia

Ucrânia conseguiu criar drones que lançam granadas, desafio agora é produzi-los em massa / Imagem: Army Inform
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Que a guerra na Ucrânia se tornou o maior campo de testes para tecnologias e armamentos bélicos, isso é indiscutível. No entanto, o maior destaque é o uso de drones como “soldados” de combate para tudo. De fato, o país ucraniano se tornou uma das maiores indústrias do mundo no setor, desenvolvendo muitos dos protótipos mais avançados (e econômicos) até hoje. A última novidade: transformar drones em verdadeiros soldados do futuro, portando lançadores de granadas em voo.

Lançadores de granadas aéreos

Como mencionamos, a Ucrânia alcançou um novo marco na evolução do armamento não tripulado ao empregar pela primeira vez em combate um drone equipado com um lançador de granadas, conforme revelou a empresa ucraniana Wild Hornets, especializada em tecnologia militar. As imagens, divulgadas pela própria companhia em seu canal no Telegram, mostram o que descrevem como a “morte exclusiva” de um soldado russo atingido por um desses dispositivos na linha de frente de Novopavlivka.

O ataque foi realizado pela unidade BULAVA da Brigada Presidencial Separada, adaptando seu drone “Queen of Hornets” (um modelo pesado normalmente usado para bombardeios) para portar e disparar um lançador de granadas com precisão a partir do ar. A operação, além de ter sucesso tático, serviu como prova de conceito e demonstração do design modificado, cuja estabilidade ao disparar resolveu um dos principais obstáculos técnicos: o recuo.

Após os vídeos e a reportagem exclusiva, Diego Rodríguez, operador de drones de reconhecimento no corpo de Sistemas Não Tripulados, expressou seu espanto por essa tecnologia não ter sido implementada em larga escala antes, destacando sua superioridade técnica em relação aos drones kamikaze. Na opinião do especialista, os disparos a partir dos drones permitem ataques mais rápidos, precisos e silenciosos, já que os projéteis de granada voam mais rápido e têm maior alcance, reduzindo o tempo de reação do inimigo e a exposição a contramedidas eletrônicas.

Qual o motivo? O drone pode disparar, se recolher e recarregar, multiplicando sua utilidade sem perder a unidade no ataque. Diferentemente dos tradicionais drones explosivos, que fazem barulho e dão tempo para o inimigo se proteger, as granadas lançadas do ar chegam quase instantaneamente, tornando impossível desviar delas.

Sem antecipação

Outro especialista, neste caso Vadym Feshchenko, ex-granadeiro que se tornou operador de drones, destacou que essa inovação altera completamente os hábitos defensivos do inimigo. As tropas russas aprenderam a observar os movimentos dos drones para antecipar quando soltarão sua carga explosiva, mas um drone que dispara em pleno voo elimina essa janela de reação.

Feshchenko também ressaltou a versatilidade do armamento empregado, apontando que alguns projéteis modernos de lançadores de granadas têm capacidade para perfurar até sete centímetros de blindagem, o que amplia sua aplicabilidade contra veículos e posições fortificadas. À medida que esses sistemas se multiplicam, é provável que o simples som de um drone obrigue os soldados inimigos a se retirarem ou se esconderem, aumentando o impacto psicológico e tático do dispositivo, também como arma de dissuasão em plena batalha.

De protótipo a padrão

Dito isso, na verdade o que vemos é uma evolução. Em setembro de 2024, já circulavam vídeos de testes em que drones FPV ucranianos carregavam lançadores de granadas RPG-18. Embora fossem considerados protótipos rudimentares, suas possibilidades já eram evidentes. Como relataram meios ucranianos, uma vantagem colateral desse sistema é a diminuição do risco para técnicos e engenheiros que atualmente precisam montar manualmente drones kamikaze, expondo-se a lesões que raramente são divulgadas.

Nesse sentido, a automação parcial que permite um drone armado e reutilizável representa um avanço em termos de segurança operacional.

Engenharia adaptativa

O Business Insider aponta que, embora o primeiro uso em combate tenha sido atribuído à Ucrânia, a ideia de montar lançadores de granadas em drones já havia sido proposta em 2021 pelo gabinete de design bielorrusso Display durante uma exposição militar russa. O desafio técnico mais complexo era a estabilidade do drone ao disparar, já que a maioria dos quadricópteros é leve demais para suportar o recuo.

No entanto, o “Queen of Hornets”, por seu tamanho e design reforçado, parece ter superado esse obstáculo: no vídeo divulgado, não se observa instabilidade alguma após o disparo. Paralelamente, engenheiros ucranianos conseguiram converter até drones agrícolas como o DJI Agras T30 (originalmente projetado para pulverização) em plataformas de ataque, equipando-os com metralhadoras PKM e lançadores de granadas Bullspike-AT, capazes de atacar tanques, artilharia autopropulsada e posições fortificadas.

Como mencionamos no início, a guerra na Ucrânia está mudando muitos dos conceitos bélicos tradicionais. Mas, acima de qualquer outro ator, a introdução bem-sucedida de drones, agora até disparando granadas do ar, marca um antes e depois no desenvolvimento da guerra tecnológica.

Enquanto a artilharia tradicional e as armas pesadas continuam a desempenhar um papel importante, a miniaturização do poder de fogo e sua integração em drones reutilizáveis e precisos representam um avanço estratégico que combina eficiência, letalidade e economia operacional. A questão agora não é se essa tecnologia se espalhará, mas sim quão rápido a Ucrânia poderá produzi-la em massa e como a Rússia responderá a uma ameaça cada vez mais silenciosa, imprevisível e difícil de deter.

Imagem | Army Inform

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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