'Safári humano': Itália investiga turistas de luxo que voavam aos finais de semana para atirar por diversão em civis

Caso voltou a ser investigado após jornalista entregar dossiê de documentos a promotores italianos

Soldado bósnio reage a ataque de atiradores contra civis em Sarajevo. Créditos: AFP
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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O Ministério Público de Milão abriu uma investigação sobre acusações de que turistas italianos teriam pago para atirar em civis durante a guerra da Bósnia, no início dos anos 1990. A denúncia foi feita pelo jornalista e escritor Ezio Gavazzeni, que reuniu depoimentos e documentos sobre o caso e os entregou à Justiça italiana. O episódio, que teria ocorrido em Sarajevo, reforça uma das faces mais sombrias do conflito.

Turistas teriam pago para atirar em civis durante o cerco a Sarajevo

Segundo Ezio Gavazzeni, cidadãos italianos e estrangeiros participavam de um tipo de “safári humano”, e pagavam muito dinheiro para atirar contra civis nas ruas da Bósnia, cercada por forças sérvias. As vítimas eram homens, mulheres e até crianças que tentavam cruzar áreas expostas aos atiradores. De acordo com os depoimentos colhidos por Ezio, os valores variam conforme o alvo e as “excursões” de atiradores de elite partiam do norte da Itália, com destino às colinas de Sarajevo. Mais de 11 mil pessoas morreram durante o  cerco, que durou quatro anos e é considerado um dos períodos mais violentos da guerra.

Denúncia ressurge três décadas depois com novas provas

A descoberta sobre a existência desses “safáris” não é nova. O caso chegou a ser mencionado pela imprensa italiana nos anos 1990, mas sem provas concretas. Ezio Gavazzeni decidiu retomar a investigação após assistir ao documentário Sarajevo Safari (2022), do diretor esloveno Miran Zupanic, que também cita estrangeiros entre os atiradores.

O jornalista reuniu um dossiê de 17 páginas, com o depoimento de um ex-oficial da inteligência militar bósnia e um relatório da ex-prefeita de Sarajevo, Benjamina Karic. Segundo ele, as informações indicam que o serviço secreto italiano chegou a ser informado sobre as práticas e teria atuado para encerrá-las.

Promotores italianos buscam identificar envolvidos

O promotor antiterrorismo Alessandro Gobbis está conduzindo a investigação em Milão, com base em possíveis crimes de homicídio. A polícia tenta localizar testemunhas e suspeitos que possam confirmar o envolvimento de italianos nas ações. Relatos citam que os “turistas de guerra” viajavam em vans, disfarçados de integrantes de missões humanitárias, pagavam subornos para cruzar fronteiras e retornavam à Itália depois de fins de semana de tiroteio.

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