O "rearmamento" da Europa começou em uma fábrica da Volkswagen na Alemanha: em vez de carros, serão produzidos tanques

Conversão de fábricas automotivas em unidades de produção militar pela Rheinmetall é símbolo de mudança estrutural na indústria alemã

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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Às pressões econômicas e aos confrontos comerciais, somou-se um elemento que acabou dinamitando a geopolítica já convulsiva do velho continente. A invasão russa da Ucrânia e o jogo de xadrez que se joga com a chegada de Trump fizeram a Europa voltar a falar abertamente em "rearmamento", entendido como a necessidade de reinvestir em "segurança" para qualquer coisa que possa acontecer. Não foi um blefe e a Alemanha já começou a dar passos nesse sentido.

Ultrapassando a VW no ritmo de tanques

A Rheinmetall, maior fornecedora de defesa da Alemanha, ultrapassou a Volkswagen, a empresa com maior faturamento da Europa, em valor de mercado, refletindo uma mudança estrutural na economia alemã em direção a um maior investimento na indústria militar.

Enquanto a Volkswagen enfrenta desafios de demanda, corte de custos e concorrência estrangeira, o valor da Rheinmetall triplicou desde a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, impulsionado pela expectativa de um aumento nos gastos militares europeus. A postura de Trump de distanciar Washington de seu papel de garantidora da segurança ocidental encorajou esse "rearmamento" da OTAN, gerando um boom na indústria de defesa europeia.

Da fábrica de automóveis aos tanques

Como um grande símbolo dessa transformação industrial alemã, a Volkswagen e a Rheinmetall estão negociando um acordo que, até poucos anos atrás, pareceria uma verdadeira distopia: a venda da fábrica de Osnabrück, que a Volkswagen planeja como parte de sua reestruturação.

Embora o CEO da Rheinmetall, Armin Papperger, tenha indicado que a fábrica ainda não foi fechada, ele falou sobre o uso da instalação para produzir tanques e outros sistemas militares, evitando assim os custos de construção de uma nova unidade. Além disso, não seria a primeira nem a única fábrica que eles comprariam.

Mais fábricas

A Rheinmetall também está em processo de conversão de outras duas outras fábricas automotivas na Alemanha para a produção de equipamentos militares, refletindo o impacto do aumento dos gastos com defesa na região.

Duas fábricas em Berlim e Neuss, atualmente dedicadas à produção de autopeças, serão redirecionadas para a divisão de Armas e Munições da Rheinmetall, embora ainda mantenham parte de sua capacidade de fabricação automotiva. Essa transição ilustra até que ponto a fragilidade do setor alemão e o boom dos gastos militares estão redefinindo o cenário industrial do país.

Mais uma coisa

Recentemente, o grupo de defesa KNDS anunciou a aquisição de uma fábrica no leste da Alemanha, anteriormente operada pela francesa Alstom, para a fabricação dos tanques Leopard 2 e veículos de combate Puma. Essas conversões, mais uma vez, evidenciam uma mudança de foco na indústria alemã, onde as infraestruturas industriais estão sendo reconfiguradas para a produção militar.

Declínio de um setor

Historicamente, a Alemanha tem sido um pilar da indústria automobilística global, com Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz como gigantes do setor. No entanto, a combinação de fatores como o aumento dos custos devido à guerra na Ucrânia, a concorrência chinesa, a queda da demanda e a adoção mais lenta do que o esperado de veículos elétricos (VEs) enfraqueceu significativamente o setor.

A Volkswagen, que em 2023 liderou a lista Fortune 500 da Europa com US$ 348 bilhões (R$ 2,04 trilhões) em receita, viu seu valor de mercado cair para apenas US$ 60 bilhões (R$ 351 bi), colocando-a na 46ª posição no continente. A empresa também travou uma dura batalha com os sindicatos, o que levou a cortes de produção e de pessoal para mitigar suas perdas. Enquanto isso, fabricantes de defesa como a Rheinmetall viram seus pedidos e valor de mercado crescerem exponencialmente.

Impacto dos gastos militares

Todo esse terreno fértil levou a União Europeia a elaborar um plano de rearmamento de 800 milhões de euros (R$ 5,3 bilhões). A Alemanha, por sua vez, tomou medidas ainda mais agressivas, destinando US$ 500 milhões (R$ 2,9 bi) à modernização da infraestrutura e flexibilizando sua política de empréstimos para excluir os gastos com defesa de seus rígidos limites fiscais.

No total, o país poderá investir até US$ 1,3 bilhão (R$ 7,62 bi) em medidas econômicas, muitas das quais vinculadas à indústria militar. Assim, o aumento sem precedentes nos gastos militares europeus beneficiou empresas de defesa como Rheinmetall, Thales e BAE Systems, cujas avaliações aumentaram significativamente. A demanda por equipamentos militares levou a um aumento na produção de, por exemplo, tanques, sistemas de artilharia e munições, reforçando a tendência alemã para uma economia de guerra.

Assim, enquanto a (até recentemente) todo-poderosa Volkswagen luta para sobreviver à crise que o setor atravessa, a indústria de defesa tornou-se o inesperado motor de crescimento da indústria alemã e parece tornar-se o símbolo e a plataforma de lançamento do "rearmamento" europeu que se apresenta como um desafio fundamental para o velho continente.

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