A inteligência artificial generativa, capaz de produzir textos, imagens, áudios e vídeos a partir de comandos, é uma ferramenta muito aproveitada para a criação de conteúdo. Mas, à medida que o uso dessas tecnologias ganham espaço, cresce a pergunta: elas realmente tornam qualquer pessoa mais criativa ou apenas potencializam quem já tem mais facilidade?
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia e da Universidade de Connecticut buscou responder exatamente essa pergunta. Ao avaliar 442 participantes em atividades que exigia criatividade, com e sem o apoio de inteligência artificial generativa, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a tecnologia melhora o desempenho, mas não transforma a criatividade presente em cada indivíduo. Em vez de nivelar habilidades, ela age como um amplificador, mantendo as diferenças naturais de criatividade e inteligência.
Estudo mostra que IA potencializa habilidade de quem já é criativo
Medir a criatividade de um indivíduo que utiliza inteligência artificial para a produção de conteúdos exige entender não apenas o que a tecnologia entrega como resultado, mas também como ela interage com as habilidades que cada pessoa já possui. Foi justamente essa a lógica que guiou a pesquisa conduzida por Simone Luchini, Roger Beaty e James C. Kaufman. Eles partiram do princípio de que, se todos têm acesso às mesmas ferramentas de IA, as diferenças criativas tenderiam a diminuir. Mas surpreendentemente, não foi isso que os dados revelaram.
Nos dois experimentos realizados, os participantes que já produziam sem ferramentas de IA continuaram entregando ótimos resultados quando tiveram a oportunidade de desenvolver suas criações a partir de modelos avançados, como ChatGPT e GPT-4o. No primeiro experimento, 263 universitários escreveram textos curtos com e sem ajuda da IA. O resultado mostrou que quem já se saía melhor em atividades criativas continuou na frente mesmo quando passou a usar a tecnologia.
O desempenho inicial dessas pessoas explicou 42% da qualidade dos textos produzidos com apoio da IA, considerada alta nesse tipo de pesquisa. Ou seja, a inteligência artificial melhora o trabalho de todo mundo, mas quem já é naturalmente mais criativo consegue ter um desempenho ainda maior. Isso significa que, ao invés de reduzir as diferenças entre as pessoas, a IA acaba ampliando essas distâncias em muitos casos.
Criatividade assistida: a habilidade que surge quando humanos e IA trabalham juntos
Em vez de apenas ampliar as diferenças entre pessoas consideradas mais ou menos criativas, como mostrou o resultado anterior, os pesquisadores descobriram algo muito interessante. Eles perceberam que está surgindo uma habilidade totalmente nova nesse processo, chamada de criatividade assistida por inteligência artificial.
Essa competência não substitui a criatividade humana nem depende só da inteligência. Ela funciona como se fosse uma habilidade extra, que aparece quando alguém precisa trabalhar junto com algum modelo de IA. No segundo experimento, por exemplo, os participantes fizeram várias tarefas com ajuda da IA, como escrever posts e gerar ideias. E quem ia bem em uma tarefa costumava ir bem em todas, indicando que existe uma forma específica de ser criativo com a IA.
Essa habilidade inclui atribuições bem práticas, como ter um jeitinho correto de pedir o que quer com os prompts certos, avaliar criticamente as respostas e misturar as ideias humanas e as artificiais. Mas também envolve outras atitudes mais subjetivas, como estar aberto a explorar as ideias junto com as ferramentas de inteligência artificial. É como se fosse uma espécie de uma nova camada cognitiva que começa a ganhar importância à medida que a IA começa a se integrar cada vez mais no trabalho e nos estudos.
As ferramentas de IA prometem a democratização da criatividade, mas não reduzem desigualdades criativas
Outro aspecto inovador do estudo é que ele vai na direção oposta de uma linha recente de pesquisas que sugere o contrário. Em 2024, por exemplo, Anil Doshi e Oliver Hauser publicaram um estudo sugerindo que escritores menos criativos são os mais beneficiados pelo uso de IA, chegando a alcançar resultados tão bons quanto os de autores mais experientes.
Por outro lado, os dados do estudo de Simone Luchini, Roger Beaty e James mostram uma conclusão bem mais complexa. De acordo com eles, embora a IA de fato ajude os menos habilidosos a melhorar suas produções, ela não apaga diferenças de base. Ou seja, pessoas criativas continuam sendo criativas, e com ajuda da inteligência artificial, conseguem ser ainda mais produtivas, rápidas e originais em suas produções. Isso revela que a IA não está redistribuindo talentos, mas potencializando capacidades que já existem nos indivíduos de forma proporcional.
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